Dados da Defesa Civil de Blumenau apontam que, em média, um a cada quatro moradores da cidade vive em área com cota de cheia até 15 metros. Conforme o levantamento, se a enchente de 1983 se repetisse, seriam ao menos 90 mil pessoas afetadas diretamente.
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A projeção considera a estimativa de moradores por residência do IBGE de 2017. Além disso, a informação tem por base a última carta de inundação, feita há uma década. A próxima atualização deve ocorrer este ano ou no próximo, garante o secretário de Defesa Civil de Blumenau, Olímpio Menestrina:
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— Logo depois de 1983, a Furb instituiu o Ceops, que fazia previsão hidrológica, porque na época a Defesa Civil não tinha nenhuma estrutura, e o órgão começou a trabalhar nesse sentido. Aí tivemos em 1984 o primeiro estudo de cotas, depois uma renovação em 1992 e outra em 2012.
De acordo com o chefe da pasta, agora é preciso fazer uma revisão por causa das ocupações, que às vezes provocam mudanças e isso precisa estar no plano de contingência de Blumenau.
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AlertaBlu assume função do Ceops
O secretário explica que com o passar das décadas, o Ceops deixou de receber investimentos e acabou oficialmente extinto em junho do ano passado. Um termo foi firmado entre prefeitura e Furb para as atribuições do órgão serem absorvidas pelo AlertaBlu. Atualmente, essa transferência de conhecimento ainda está em andamento e deve ser concluída até o fim do ano.
Em uma eventual inundação, cabe à equipe da Defesa Civil de Blumenau, uma das poucas do Brasil com meteorologistas, fazer as projeções do nível do rio.
Mas com os equipamentos do Ceops obsoletos, o governo do Estado precisou dar uma resposta e garantiu a instalação de 42 estações em todo Vale do Itajaí. Frederico Rudorff, coordenador de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil de Santa Catarina, diz que essa é uma das bacias mais monitoradas do Brasil. São 30 estações hidrológicas, 10 meteorológicas e duas pluviométricas.
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É com base nesses dados, também, que o governo de Santa Catarina decide o momento de começar a operar as comportas das barragens de Taió, Ituporanga e José Boiteux. Juntas, elas têm condições de influenciar o nível das águas em cerca de 2,3 metros no Médio Vale do Itajaí.
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Rudorff avalia que o Estado tem atualmente uma capacidade muito maior de preparação para um evento de grande porte, como foi em 1983. Com os modelos meteorológicos de agora, cita ele, é possível fazer uma previsão mais assertiva de um cenário de risco desses, porque para isso se repetir seria uma chuva extraordinária.
— E também a rede de comunicação e organização das defesas civis melhorou, temos estrutura e cultura de abrigos preventivos, conseguimos otimizar a operação das barragens. Mas, claro, ainda assim haveria inundação, porém seria possível reduzir os impactos — garante.
Legislação trata de construção em áreas de inundação
Casas de dois pavimentos são a alternativa encontrada por muitas famílias que vivem em áreas alagáveis de Blumenau. A cidade tem inclusive legislação sobre moradias em área suscetíveis a inundação.
A Lei Complementar 1039/2016 trata das restrições de construção e ocupação em locais com risco de cheias, reforça Menestrina. Terrenos com cota de 10 a 12 metros, é preciso ser construção de dois andares e a parte inferior não pode ser moradia, apenas garagem ou área de festas, por exemplo. Abaixo de 10 metros, só pode ter construção sob pilares e a parte inferior precisa ser deixada livre.
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— Na hora em que a pessoa entra com o projeto no setor de planejamento da prefeitura, para pegar autorização para construção, já é feita essa análise, e eles enviam para nós da Defesa Civil nos manifestarmos — afirma o secretário.
O problema é que nem todos conhecem tão de perto a história das enchentes de Blumenau e por vezes a água pega alguns desinformados de surpresa. A Defesa Civil cogita, inclusive, a possibilidade de incluir na fatura de água a informação sobre a cota de inundação para cada imóvel e evitar mais prejuízos a quem vem de fora de Santa Catarina.
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