Tornar as cidades mais humanas, conectadas e sustentáveis está no centro de uma nova forma de pensar o espaço urbano. A partir de abordagens como o urbanismo inteligente e o placemaking, ruas, praças e bairros são redesenhados para se tornarem lugares vivos — onde tecnologia, natureza e design urbano se unem para fortalecer comunidades e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mais do que o desenho físico da cidade, o placemaking é um convite a imaginar o espaço urbano como um cenário da vida cotidiana.

Continua depois da publicidade

Em Florianópolis, que enfrenta desafios como mobilidade, crescimento populacional e preservação ambiental, os princípios do placemaking ajudam a pensar uma cidade “em escala humana”, conceito defendido pelo arquiteto dinamarquês Jan Gehl, centrado em calçadas seguras, fachadas ativas e espaços que convidem à permanência — em sintonia com as “cidades de 15 minutos” propostas pelo franco-colombiano Carlos Moreno, que buscam aproximar moradia, trabalho e lazer.

“Na prática, isso significa valorizar a caminhada e a bicicleta, fortalecer a vida de bairro e criar pequenas centralidades locais, onde seja possível viver, trabalhar e se encontrar em uma cidade mais próxima e agradável de percorrer”, explica Clarice Mendonça, gerente de cultura e marca na Hurbana Cidade para Pessoas.

Florianópolis já apresenta iniciativas alinhadas a essa visão. Clarice destaca o trabalho do LUA – Laboratório de Urbanismo e Arquitetura, que vem promovendo discussões sobre o uso dos espaços urbanos, como a recente visita técnica de Esben Neander Kristensen, da Gehl Architects, que trouxe novas perspectivas sobre o urbanismo centrado nas pessoas. “Cidades melhores são feitas quando o desenho nasce da escuta e da convivência”, resume. “Precisamos unir conhecimento, sensibilidade e colaboração para que o espaço urbano reflita a vida que queremos viver nele.”

Identidade e pertencimento

A geografia de Florianópolis molda o modo de viver da cidade e a relação das pessoas com o espaço. Para Clarice, a insularidade gera um sentimento de pertencimento genuíno, uma conexão natural entre o lugar e sua comunidade. Sob a ótica do placemaking, reconhecer e valorizar essa identidade é essencial: “Cada lugar carrega histórias, memórias e formas de convivência que já pertencem à cidade. Nosso papel é ajudar a revelá-las.”

Continua depois da publicidade

O mar, o vento, a luz e o caminhar à beira d’água são, segundo ela, elementos inseparáveis da experiência cotidiana de quem vive na capital. Incorporá-los ao desenho urbano é uma forma de reconhecer o valor do território: “A beleza de Florianópolis não precisa ser inventada; ela precisa ser percebida e compartilhada”, diz Clarice. Para ela, o fortalecimento da identidade urbana e cultural depende de uma escuta atenta e colaborativa entre pessoas, instituições e ideias. “A cidade se constrói a partir das relações que cria. Ouvir, dialogar e cocriar são atitudes fundamentais para que Florianópolis continue sendo um lugar onde natureza, comunidade e urbanismo caminham juntos.”

Comunidade e colaboração

Nenhum projeto urbano é completo sem o envolvimento de quem vive o lugar. Clarice reforça que o placemaking só acontece de verdade quando a comunidade se sente parte do processo — quando o espaço é construído com e não apenas para as pessoas. “O que torna um lugar acolhedor é a soma de pequenas coisas: conforto, segurança, beleza, diversidade de usos e, principalmente, a sensação de pertencimento.”

Ela também observa que o desafio de Florianópolis está em equilibrar turismo e vida local.
“O espaço urbano deve ser pensado primeiro para quem vive nele todos os dias: quando ele é bom para o morador, será naturalmente bom também para o visitante.”

Entre os exemplos de aplicação prática, Clarice cita a Casa Hurbana Bocaiuva, no centro da cidade, criada como ponto de encontro que resgata a vitalidade urbana por meio da cultura, da gastronomia e da convivência. O local faz parte de um movimento de revalorização da Rua Bocaiuva, que vem se transformando em um espaço mais humano, com vida cotidiana nas ruas.

Continua depois da publicidade

O Movimento Bocaiuva, iniciativa colaborativa que reúne moradores, empreendedores e instituições locais, também é lembrado por ela como exemplo de construção coletiva. “O papel de quem trabalha com cidades é apoiar e somar. Quando as pessoas se sentem ouvidas e parte das soluções, elas cuidam do lugar, e é nesse cuidado coletivo que a cidade ganha vida”, afirma Clarice.