– Pois é, cadê a sombra que tinha aqui? – questiona Orondes Nogueira da Silva, o taxista do ponto 16 da Praça Washington Luiz, na esquina das ruas João Pessoa e Marechal Deodoro da Fonseca, no Bairro da Velha, em Blumenau.

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Ele repete a dúvida que os moradores da área alimentam há dois meses, quando amanheceram sem vislumbrar três das cinco árvores que havia no espaço público. Desde que começou a revitalização da praça, no final de maio, duas palmeiras e um ficus foram arrancados pela prefeitura por não serem consideradas plantas nativas da região.

A indignação virou frase pichada no muro da área de lazer: onde estão as árvores? Outras devem ser plantadas até setembro, garante o diretor de Serviços Urbanos de Blumenau, Valdeci Dutra.

De sábado para domingo, outra frase apareceu no muro: onde estão os bancos? Estes só serão instalados no final da obra, previsto para setembro. Mas a Praça Washington Luiz, em frente à antiga casa Emil Fischer, não é a única que sofre com a falta de sombras. Na Alameda Rio Branco, nos deques do Senac Bistrô, os holofotes do jardim agora iluminam o vazio.

A protagonista focada pelas luzes até semana passada era uma sibipiruna, cortada com outra da mesma espécie porque já estavam mortas e ofereciam risco aos visitantes. O corte teve autorização da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Faema).

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Ataque por fungos

Na Rua Alwin Schrader, mesmo decepado, o cipreste-vermelho de 10 metros de altura agoniza sem os 17 galhos, arrancados há três semanas. As raízes da planta ainda se agarram ao montante de terra escavado que receberá um edifício comercial. Sócio da MBA Engenharia, responsável pela obra, Felipe Avelar explica que a árvore estava comprometida com fungos e que obteve laudo de engenheiros florestais e da Faema para cortar.

– Fizemos uma poda radical, mas estamos tentando recuperá-la. Não queremos removê-la, até porque a árvore faz parte do projeto de sombreamento da entrada do prédio – explica.

Gerente de Unidade de Conservação da Faema, Priscila Fernanda Guedes informa que o corte de árvores nativas sem autorização da Faema rende multa de R$ 150 a 60 mil a quem for pego em flagrante, mesmo que a planta esteja em terreno privado. Ela afirmou nesta segunda-feira que desconhece o que provocou a doença das árvores na Alameda e na Alwin Schrader.

Poda irregular condena árvores

As árvores da Alwin Schrader e da Alameda Rio Branco não são as únicas a sofrer com doenças que lhes condenam. Blumenau já viu plantas centenárias, como a figueira da prefeitura e o tamarindo, da ponte, agonizarem até morrer.

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A maior parte das mortes é ocasionada por fungos, oriundos do manejo inadequado e dos fatores climáticos, como umidade e calor, característicos da região, apontam especialistas. Os primeiros sintomas de que a árvore está doente por fungos são o ressecamento da copa, o cancro (ferida), a mudança de coloração da copa e, em alguns casos, o excesso de floração e frutos.

O engenheiro florestal Marcelo Diniz Vitorino, professor do Departamento de Engenharia Florestal da Furb, acredita que a seleção errada das mudas e a falta de profissionais capacitados comprometem o tempo de vida das árvores.

O profissional ideal para cuidar da urbanização da cidade é o engenheiro florestal, defende ele, porque este profissional sabe escolher as espécies adequadas para cada tipo de solo, levando em conta espaço e luminosidade, por exemplo. Algumas crescem demais e acabam por afetar a fiação elétrica, o que restringe o número de locais em que podem ser plantadas.

– As pessoas precisam entender que árvore é um ser vivo, que nasce, cresce e morre. Sinto que há uma dificuldade da população em aceitar a morte das espécies. Um exemplo é o tamarindo, que está em estado terminal e as pessoas não aceitam.

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