A escritora e promotora de justiça Andrea Nunes está finalizando os últimos detalhes de sua mais nova obra, um romance policial ainda com título sob sigilo. Especialista em levar o universo jurídico para a ficção, Nunes desta vez ambienta sua trama em um campus universitário.
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A ideia rendeu ao livro o apelido de “a Hogwarts do Direito”, cunhado pelo crítico literário Wellington de Melo. Andrea Nunes recebeu a comparação com felicidade e surpresa pela sensibilidade do crítico em captar sua intenção.
— Claro que esse livro tem uma brasilidade pujante e se propõe a trazer questionamentos bastante diferentes do que a saga de Harry Potter oferece, mas a comparação é realmente muito feliz—, comenta ela em entrevista ao NSC Total, revelando que um de seus personagens, um professor, chama seus alunos de “meus aprendizes de feiticeiros”.
Para a promotora, o debate entre o certo e o errado e o combate ao crime são, de fato, uma espécie de “escola de magia”, onde “há encantamento por toda parte”.
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Livro de suspense
Na história, um grupo de alunos-prodígio de Direito, destinados a se tornarem os maiores criminalistas do país, se vê envolvido em crimes misteriosos que acontecem no próprio campus. Para solucionar os enigmas, eles contarão com o apoio de uma dupla de professores de métodos pouco ortodoxos, que os ensinarão truques e malícias que não se aprendem nos livros acadêmicos. Enquanto investigam, os jovens precisam superar a competitividade da universidade de elite, seus traumas pessoais e as paixões que afloram.
O livro inova ao apresentar uma estrutura em duas partes, que desenvolve tanto a investigação de um crime quanto uma trama política, explorando as intrigas da burocracia acadêmica. A universidade, situada nos arredores de Brasília, permite à autora criar múltiplas camadas de tensão, envolvendo suspense universitário, bastidores e curiosidades da criminalidade contemporânea, além de conspirações e negociatas palacianas.
A obra também se aprofunda em temas sociais urgentes. Um dos crimes centrais conecta a investigação de um estupro seguido de assassinato, supostamente cometido por uma celebridade, com o trauma pessoal da protagonista. A autora explica que a história aborda a cultura do estupro, feminicídio e a subnotificação da violência doméstica. Além disso, a disputa por verbas entre dois professores busca refletir sobre as dificuldades de financiamento da educação no Brasil.
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Para Nunes, o maior desafio foi equilibrar a sofisticação psicológica dos personagens, o suspense da narrativa policial e as tensões políticas.
— O escritor que ousa tentar desenvolver sofisticação psicológica dos personagens, no contexto do necessário suspense que uma narrativa policial tem de ter, isso tudo temperado com tensões políticas, é como um equilibrista que não pode deixar cair os pratos lançados ao ar: se ele acerta a técnica, o resultado é fascinante. Se erra, é um desastre. No caso, eu não apenas quis misturar, mas conectar todos esses elementos, para evoluírem em conjunto e tenham um desfecho coerente com o clímax da história— descreve.
Direito e literatura
Promotora de justiça em Pernambuco desde 1995, Andrea Nunes utiliza sua vasta experiência para dar verossimilhança às suas histórias. Ela afirma que conciliar as duas carreiras traz ganhos mútuos. A literatura lhe proporciona um olhar mais humano na profissão jurídica, enquanto o Direito enriquece suas obras com realidade e contemporaneidade. A experiência diária com temas como violência doméstica e os truques tecnológicos usados em investigações fornecem “ótimo pano pra manga para construir uma história pulsante”.
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— O trabalho numa instituição singular como o Ministério Público me obriga a me aperfeiçoar cotidianamente na reflexão de temas como o crime, a liberdade, a ética e a dignidade humana. Se eu quiser promover efetivamente justiça, tenho que acompanhar como o mundo evolui nesses conceitos e quanto mais me conecto a essas reflexões, mais percebo a riqueza desses temas sob o ponto de vista literário —.
Embora admita que todo escritor se baseia em suas vivências, Nunes garante que os crimes retratados em seus livros aparecem de forma velada, sem identificar pessoas ou casos reais, devido à natureza sigilosa de seu trabalho. Ela vê uma semelhança curiosa entre uma denúncia criminal e um livro: ambos são “peças de sedução” que buscam convencer o leitor.
— A diferença é que, no processo judicial, preciso me ater aos fatos, ser honesta e ter um lado muito bem definido: a defesa da Sociedade, em qualquer circunstância. E sobretudo, devo ser rigorosamente honesta. Já na Literatura o pacto é um pouco diferente: meu leitor sabe que vai ser enganado – pior ainda, ele espera isso de mim. Mas ainda assim há regras: nunca trapaceio com os fatos, toda ilusão que eu ofereço é acertada dentro de uma lógica que estava bem diante dos olhos dele, mas que somente ao final vai ser revelar— , finaliza.
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A autora, que já publicou quatro romances e recebeu prêmios como o Bunkyo e o Aberst de Literatura, acredita que o Brasil tem um enorme potencial para a literatura policial, ainda pouco explorado. O novo livro, que ela considera seu “mais ousado projeto literário até agora”, está atualmente em negociação com editoras brasileiras, sem previsão de lançamento.
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