Um casamento em ruínas a beira do divórcio, um bloqueio criativo que parece insuperável e trinta dias para decidir o rumo da própria vida. É nesse ponto de exaustão que Maeve Lee, protagonista de “Círculos não são infinitos”, se vê obrigada a encarar seu passado, literalmente. A cada página folheada de um caderno misterioso, ela é transportada para momentos que moldaram quem é, mas que o tempo e as responsabilidades haviam soterrado. O que encontra não são respostas fáceis, mas a chance de se lembrar por que começou.

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Em “Círculos não são infinitos”, novo romance da escritora e influenciadora literária Vitória Souza, publicado pela Editora Mundo Cristão, combina realismo mágico, elementos de “healing fiction” (ficção de cura) e reflexões da fé cristã. Com uma prosa intimista, a autora guia o leitor por uma narrativa melancólica e reconfortante, que transita entre as feridas abertas e a esperança de que há sempre a possibilidade de recomeçar.

O passado que não muda, mas transforma

A narrativa começa quando Maeve, uma autora best-seller de 26 anos, decide tirar 30 dias de licença do trabalho e, em meio ao caos pessoal, encontra um caderno antigo em um sebo. Ao folheá-lo, é transportada para momentos-chave da própria vida, como o primeiro dia de universidade, o início do relacionamento com Liam e as primeiras crises de fé. Ela não pode mudar nada do que viveu, mas pode se lembrar do que a fez começar.

— Ela vai poder se lembrar de como ela se sentiu naquele momento antes de enfim a vida dela se tornar apenas uma repetição de responsabilidades a cumprir, vai lembrar de onde ela começou e o porquê ela começou tudo aquilo — conta Vitória.

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Visita ao passado

Esse processo de revisitar o passado com os olhos do presente permite que Maeve enxergue antigas escolhas com mais clareza e compaixão e, para Vitória, essa é a essência do livro. — Eu sou uma pessoa muito nostálgica. Quis trazer essa sensação de revisitar o que fomos antes de tudo se desgastar. A viagem no tempo não serve para alterar o passado, mas para recuperar o sentido do que se perdeu na rotina— explica.

A autora também mergulhou em referências pessoais e literárias para criar a trama. Um trecho marcante do livro “Cristianismo puro e simples”, de C.S. Lewis, serviu de ponto de partida para refletir sobre amor e casamento. — As pessoas acham que o amor acaba, mas o que acaba é a paixão. Depois dela, se você insistir, nasce algo mais silencioso e profundo. Minha personagem está justamente nesse ponto de decidir se desiste ou se redescobre no casamento — comenta.

A ideia do caderno e do sebo surgiu de uma cena real. Vitória passava diariamente em frente a uma livraria de rua em Belém, sua cidade natal, e imaginava como poderia transformar aquele cenário em elemento narrativo. Grande parte do texto foi escrita no celular, no ônibus ou no horário de almoço, em intervalos roubados da rotina de trabalho.

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— Quando a história quer nascer, ela encontra um jeito. Essa nasceu sem eu pensar em publicá-la. Escrevi para mim mesma, com liberdade total. Só depois percebi que tinha todos os elementos de uma ficção de cura quando os leitores começaram a falar — conta.

Essa liberdade também se reflete na forma como Vitória insere a fé na narrativa. Embora esse seja seu livro mais explícito sobre espiritualidade, ela prefere que a presença de Deus se revele naturalmente, sem imposições. — Nunca tento forçar um tema. Eu peço para Ele falar como quiser. Pode ser em pequenos sinais, em falas sutis, mas que no final façam sentido. Deus não é limitado. Não é preciso colocá-lo apenas na boca de um pastor ou dentro de uma igreja, ele pode aparecer de formas infinitas dentro de uma história—.

O retorno dos leitores confirmou o impacto que Vitória esperava, uma vez que muitos dos que já tiveram contato com a obra afirmaram que se viram na protagonista e, em alguns casos, sentiram vontade de orar depois da leitura. Desta forma, a autora espera que, ao se enxergarem na personagem, os leitores possam analisar suas próprias vidas de forma mais imparcial.

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— Meu objetivo é que as pessoas sintam saudade d’Ele, tanto as que já o conhecem quanto as que estão distantes. Que percebam que são amadas por Deus apesar de suas falhas. Quero que, ao terminar, o leitor tenha a mesma percepção de Maeve, que apesar de nós, Deus nos ama. E esse amor é suficiente para recomeçar, quantas vezes for preciso —  finaliza.

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