Uma mulher sozinha, independente e feliz com sua condição de solteira, até que a chegada de um forasteiro vira seu mundo do avesso. Esse é o ponto de partida de Uma Solteirona Alemã por Conveniência, segundo volume da trilogia “Os Flemmings”, da escritora Cinthia Serejo. Lançado pelo selo Principis, do Grupo Ciranda Cultural, o romance se passa em Hamburgo, na Alemanha do século XIX, e gira em torno de Emma Weber, personagem que já havia encantado os leitores como coadjuvante no primeiro volume da série.

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Aos 27 anos, Emma já carrega o título socialmente indesejado de “solteirona”, condição que, naquela época era um atestado de fracasso social e pessoal. Ainda assim, a protagonista se encontra em paz com sua liberdade. A morte recente do avô, o fim de um noivado mal encaminhado e o afastamento da pressão matrimonial a colocam em uma posição rara, uma mulher vivendo sozinha, em sua própria casa, com independência financeira e afetiva. Mas a sociedade não vê com bons olhos uma mulher livre.

Cinthia Serejo é autora da série “Os Flemmings”. (Foto: Divulgação)

— Emma está satisfeita com a condição dela de solteira, mas isso não significa que o mundo em volta aceite sua escolha. Ela é pressionada a voltar para a casa do tio, porque uma mulher sozinha, mesmo com recursos, era vista como inadequada perante a sociedade, era mal visto— explica Cinthia Serejo.

E é nesse contexto que surge Maximilian Flemming, um fazendeiro que retorna do Brasil com a família e balança as convicções da protagonista.Max, como é chamado, é o oposto de tudo o que Emma acreditava desejar. Dono de um temperamento provocador, modos rústicos e um histórico familiar marcado por perdas, ele enxerga nos livros, paixão de Emma, uma ameaça.

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—  Max perdeu a mãe em um incêndio enquanto ela tentava salvar livros. Esse trauma faz com que ele relacione o amor pelos livros à perda, enquanto para Emma, os livros foram o que a salvaram do luto e da solidão após também sobreviver a um grande incêndio, mas perder os pais. E quando ele conhece a Emma, apaixonada por livros, ele já imagina que ela seja um pouco fanática, assim como a mãe delefoi, ao ponto de morrer pelos livros —  revela a autora.

A oposição entre os dois é o motor do enredo. As trocas entre Emma e Max são recheadas de sarcasmo, tensão e, sobretudo, faíscas. Apesar de manter o tom delicado e respeitoso que caracteriza a escrita da autora, o romance transborda química e emoção.

—  Esse livro tem mais paixão do que o primeiro. É uma história que quase incendeia o papel —  brinca Cinthia, que afirma que “Uma Solteirona Alemã por Conveniência” é seu favorito da trilogia.

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Mergulho no passado

Ambientado em 1859, o livro retrata um momento de profundas mudanças sociais, especialmente para as mulheres. Ainda que envolta em vestidos longos e regras rígidas, Emma é uma personagem que sonha com mais.

— Ela não é uma revolucionária, mas é uma mulher que deseja algo além do casamento. Sonha com liberdade, com escolhas, com a possibilidade de viver de acordo com seus próprios termos —  afirma a autora.

Apesar de se tratar de uma obra de ficção de época, Cinthia deixa claro que seu romance dialoga com dilemas contemporâneos.

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— Eu escrevo romances água com açúcar, e digo isso com orgulho. Mas não são histórias vazias. Elas carregam valores, dilemas reais e um pano de fundo cultural e histórico. Meus livros são sempre recheados de pequenas curiosidades, pinceladas que permitem ao leitor aprender enquanto se diverte —.

Cinthia também se coloca dentro de suas personagens. Assim como Emma, ela cresceu apaixonada por romances, inclusive os clássicos de banca, e enfrentou resistência dentro da própria casa por sua paixão pela leitura. — Minha mãe achava que os romances iam colocar minhocas na minha cabeça. Chegou a proibir. Eu escondia os livros dentro do material escolar para conseguir ler — relembra.

Segundo livro da trilogia

A trilogia “Os Flemmings” acompanha três irmãos descendentes de imigrantes alemães, sendo cada volume dedicado a um deles. Enquanto o primeiro livro, “Uma Noiva Alemã por Correspondência”, se passa no Brasil, o segundo leva o leitor de volta à Europa. Mesmo que cada volume possa ser lido de forma independente, há uma trama de fundo que conecta os três romances, e que se completa apenas no desfecho do terceiro livro.

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Cinthia fez sua estreia no gênero que sempre amou durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2023. Foi lá, percorrendo os corredores com um vestido de época, uma valise nas mãos e uma pelúcia representando um personagem canino de seu primeiro romance, que conseguiu o tão sonhado contrato com a editora. Em 2025, ela volta para a Bienal do Rio, desta vez vestida como Emma.

—  Voltar agora à Bienal, como autora contratada, é como um reencontro com meu próprio sonho—, emociona-se.

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