O tarifaço de 50% aplicado pelo governo dos Estados Unidos em exportações de produtos brasileiros tem afetado diretamente Santa Catarina. No Sul do Estado, por exemplo, o Porto de Imbituba tem madeira, pisos e refrigerados como os principais itens exportados para os EUA. E ainda, em 2024, operações com destino ao exterior representaram 49,4% das movimentações do complexo portuário.
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Christiano Lopes, presidente do porto, relata que desde o início da aplicação das tarifas na última quarta-feira (6), produtores têm buscado alternativas de negociação para exportar para outros mercados. Atualmente os principais destinos das exportações do Porto de Imbituba são Europa e Ásia.
— Muita gente nos procurando para saber quais as nossas linhas com a Ásia, para exportar os produtos. Então os produtores estão buscando alternativas que não sejam os Estados Unidos — pontua Christiano.
De acordo com ele, há uma estimativa de diminuição de 150 a 200 contêineres por mês, que antes eram destinados aos EUA, o que deve impactar principalmente a indústria madeireira. Essas operações correspondem a cerca de 5% da movimentação do porto:
— O nosso impacto está ligado à linha Brasex, que é uma rota de contêiner que temos daqui para os EUA. Essa linha tem como principais produtos a madeira, o piso e produtos refrigerados, como frango e peixe. Então isso nos impacta, principalmente, na madeira — explica o presidente.
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O setor de produtos de madeira e móveis estão situados principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Serrada do Estado. Segundo a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), a medida tem gerado diminuição de pedidos e redução de embarques, isso porque algumas empresas possuem atualmente um foco quase 100% voltado ao mercado dos Estados Unidos.
Neste caso, segundo a Fiesc, já há registros de empresas que estão demitindo ou dando férias coletivas para os trabalhadores, o que gera impactos para o encadeamento da produção e para todos os produtores que dependem das empresas exportadoras.
Produtos menos afetados pelo tarifaço
Atualmente os principais produtos de exportação do Porto de Imbituba são os granéis agrícolas e os granéis minerais, que possuem linhas diretas para a Europa e Ásia e são os menos afetados pelo tarifaço. No ano passado, as cargas a granel foram responsáveis por 79,2% da movimentação total no complexo portuário, somando aproximadamente 6,6 milhões de toneladas.
Dentre os produtos deste segmento, os minerais lideraram as operações, com 3,7 milhões de toneladas, à frente dos produtos agrícolas, com 2,87.
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— Esses granéis não possuem linha direta para os EUA, pelo contrário. O único granel mineral que a gente importa é de Houston, para as fábricas da Votorantim. E como a importação em princípio não foi afetada, nesse caso não sofremos impacto — completa o presidente do porto.
As importações correspondem a aproximadamente 40% do total das operações do local. Estados Unidos, Chile, China e Colômbia são as origens mais frequentes.
Impactos para o consumidor
O tarifaço de Donald Trump também deve ser sentido em alterações de preços para os consumidores em Santa Catarina. Pablo Felipe Bittencourt, economista-chefe da Fiesc, explica que os produtos que não consigam ser vendidos para os Estados Unidos têm o mercado brasileiro como primeira opção, o que traz como consequência um nível de redução de preços no curto prazo.
— A gente deve assistir isso claramente no mercado de café e frutas, por exemplo. Isso não significa um processo muito benigno de inflação, mas um impacto de curto prazo no nível de preços que pega tanto consumidores finais, por causa desses bens do tipo café e frutas, mas também os produtores de meio de cadeia, no caso de madeiras, máquinas e afins — explica.
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O economista-chefe da Fiesc aponta que as empresas têm relatado busca de outros mercados para tentar dar vazão a esses produtos, tanto dentro do Brasil quanto no exterior. Entidades como a Fiesc têm atuado junto ao governo do Estado para apoiar na elaboração de medidas fiscais e financeiras que possam atenuar esses impactos.
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