Por trás de uma máscara, de um codinome e de uma comunidade apaixonada de leitoras, existe uma escritora que prefere ser reconhecida por sua escrita visceral, provocativa e sem freios, do que por seu rosto. Zoe X é o nome literário de uma autora brasileira, considerada uma das principais representantes do dark romance nacional, que escolheu manter o anonimato.
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A decisão de usar um pseudônimo e não se identificar publicamente surgiu em 2016, quando criou seu perfil em um site de publicação independente.
— Sempre gostei de escrever, mas nunca soube se isso dava dinheiro ou se dava para viver disso no Brasil. E, desde o primeiro momento em que comecei a publicar o que escrevia, eu já era a Zoe X — contou a autora em entrevista exclusiva ao NSC Total.
Confira imagens de Zoe X com fãs
O empurrão final para tentar se tornar escritora veio em um momento difícil, quando seu pai adoeceu gravemente.
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— Eu pensei que aquela era a hora de tentar, porque meu pai viveu trabalhando para todo mundo e não viveu o sonho dele. Eu precisava, minimamente, saber se tinha talento para viver o meu.
Dark Romance
A tentativa virou carreira. Ela começou escrevendo distopia, ganhou um prêmio no Wattpad em 2017, depois descobriu a Amazon e percebeu que ali existia um público real: leitoras sedentas por histórias intensas, ousadas e carregadas de emoção.
Foi com a série Dark Hand, em especial com o livro Indomável, que Zoe mergulhou de cabeça no universo do dark romance, um subgênero da literatura que se caracteriza por explorar temas sombrios, relacionamentos conturbados, personagens com traumas e comportamentos controversos, muitas vezes envolvendo violência, abuso e cenas gráficas.
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— Até 70% do livro parece um romance mais pesadinho. Mas aí: “bem-vinda ao Dark Hand“. Foi ali que virei referência [no dark romance] — pontua Zoe, conhecida por mergulhar na complexidade e imperfeição dos personagens, revelando seus lados mais sombrios e profundos.
Diferente do romance tradicional, o dark romance mergulha em situações extremas e relações complexas, buscando provocar reações emocionais intensas nos leitores, como raiva, medo, desespero e, em alguns casos, prazer com o sofrimento.
— Dark romance não é só um “eu não faria isso na vida real”. É uma leitura que faz você questionar sua moral. Te coloca desconfortável, às vezes com personagens que você deveria odiar… Mas não consegue — complementa Zoe X.
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Segundo ela, seu processo criativo é “absurdamente dolorido”, onde convive intensamente com os personagens. Algumas histórias têm uma estrutura clara, enquanto outras são escritas de forma mais intuitiva.
— O meu processo criativo não é bonitinho, de sentar e dizer: “vou escrever uma história porque o tema está em alta”. Não funciona assim comigo. Eu convivo visceralmente com meus personagens, escrevo sobre o que está mais desesperado para vir.
A decisão de manter o anonimato
De acordo com a autora, não há diferença entre sua pessoa e Zoe X, a quem “carinhosamente” se refere como “a morta” que carrega na mochila. Segundo ela, manter o anonimato é também uma escolha estratégica para proteger o processo criativo e a saúde mental.
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— Se eu começar a pensar muito no que falam de mim, da minha aparência — que ninguém conhece — isso vai barrar meu processo criativo. Fiquei três anos muito doente porque não conseguia separar o CNPJ da pessoa física. Hoje eu consigo.
Atualmente, ela é protegida por contrato, inclusive por um que a impede de se mostrar publicamente. Ainda que alguns amigos do passado conheçam sua identidade, a escolha é clara: manter Zoe X como um espaço criativo onde ela pode ser inteira.
— A Zoe é a versão lapidada da criança falante e feliz que eu já fui. É como preservar isso para dar o que tenho de melhor para o outro — conta.
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Segundo Zoe, essa separação não é uma rejeição, mas um cuidado.
— Eu adoraria botar todo mundo para dentro da minha casa, porque sou assim. Mas aprendi que, se quiser continuar sendo uma Zoe saudável que escreve bem para elas, preciso cuidar muito bem do meu CPF — explica.
Abraço e toda atenção aos fãs
Zoe X pode nunca mostrar seu rosto ao público, mas entrega nas páginas — e nos encontros com leitoras — algo muito mais íntimo: seu tempo e sua entrega total. As leitoras que vão até as sessões de autógrafos, com filas que se formam horas antes, encontram um contato olho no olho e um abraço apertado.
— Tenho leitoras que me acompanham desde o início, que vêm para todas as sessões. Algumas trazem o mesmo livro para autografar três vezes, só para ter aquele momento de novo. E eu fico sem comer, sem ir ao banheiro, sem descansar. Porque eu amo isso. E porque quem me trouxe até aqui foram as minhas leitoras. Então eu preciso entregar o meu melhor para elas.
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Responsabilidade e críticas
Se de um lado há leitoras apaixonadas, há também quem critique seus livros, apontando que há “romantização” de temas sensíveis, como bully romance — histórias cuja dinâmica central envolve bullying e intimidação. Contudo, Zoe defende que a literatura é ficção, comparando-a a filmes de terror onde personagens se apaixonam por psicopatas.
— Romantização, de fato, não existe. Estou te contando uma história. Meus livros, como Under My Skin, gritam que certas ações são degradantes. Quem critica muitas vezes não compreende a profundidade do que foi escrito, enquanto quem passou por situações semelhantes entende e agradece — pontua.
Para a autora, sua literatura não tem o papel de ensinar nada e é destinada a maiores de 18 anos. Ela avisa os leitores sobre o conteúdo, fornecendo uma “carta ao leitor” e listando todos os gatilhos em seus livros.
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— A minha parte como autora, eu sempre fiz. Meu público é +18 e é um público responsável por si. Eu aviso para largar o livro a qualquer sinal de gatilho — frisa.
Entrada no mercado tradicional
Apesar de um agente ter lhe dito anos atrás que mercado nenhum a aceitaria e que “iriam rir da cara dela”, Zoe teve o livro Amor Profano publicado pela Faro Editorial e hoje comemora a chegada de sua primeira obra em livrarias físicas.
— A Faro me abraçou de um jeito absurdo, me permitiu entrar no mercado tradicional e dar visibilidade aos meus livros em livrarias. Tem sido a coisa mais gostosa do mundo.
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Lançado em edição especial com tiragem inicial de 20 mil exemplares — que quase esgotou antes mesmo de a editora preparar uma nova edição —, Amor Profano aborda intrigas familiares, segredos do passado, traumas e muito romance. A história gira em torno de Victória Blackwood, que busca uma vida segura e feliz, e Alexander Hastings, um homem poderoso e atormentado, 27 anos mais velho e melhor amigo de seu pai.
Descrito como um romance proibido e sedutor, onde “o desejo se mistura com o ódio”, transformando Victória e aprisionando Alexander em um jogo perigoso de paixão e poder, Zoe X classifica Amor Profano como um “romance tabu”, e não um dark romance, pois, para ela, o dark romance deve fazer o leitor questionar sua própria moral.
— O mercado ainda se confunde muito. E eu entrei com esse livro para preparar o terreno. É como se fosse um degrau para levar leitoras para o mundo do dark romance.
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A autora descreve sua versatilidade com o “fator X” de seu pseudônimo, indicando que escreve o que acredita, sem se limitar a rótulos.
— Se tiver uma pessoa para ler, eu vou continuar escrevendo. Porque esse é o meu propósito.
E ela já está pensando no próximo passo.
— Tenho uma trilogia nova prevista para o ano que vem. Se tudo correr bem, vai chocar. Não porque é gráfica ou apelativa, mas porque simplesmente não existe nada parecido no mercado tradicional hoje.
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