O Hospital Nossa Senhora dos Prazeres (HNSP), situado no coração do município de Lages, referência de atendimento na região serrana, trabalha para passar a realizar cirurgias de transplantes de órgãos. Hoje, a instituição filantrópica realiza as captações, mas ainda não atua diretamente nas cirurgias de transplante, o que pode se tornar realidade no futuro, segundo Éder Gonçalves, Diretor Executivo do HNSP.
Continua depois da publicidade
– A captação é um trabalho bem consolidado aqui no nosso hospital, que ocorre de forma sólida há alguns anos. Nossa pretensão agora é caminhar para ser um Centro Transplantador. Estamos organizando a documentação e estruturando a equipe.
A captação dos órgãos ocorre quando o paciente possui morte encefálica, ou morte cerebral. Nestes casos, ocorre a perda irreversível de todas as funções do cérebro. Como a instituição atua na alta complexidade, com robusto número de pacientes da neurologia, é uma das prevalências de mortalidade do hospital.
A Comissão Hospitalar de Transplantes (CHT) é uma parceria do hospital com o governo do estado, por meio do SC Transplantes. A comissão é formada por médicos e enfermeiros que atuam na instituição, que buscam identificar a possibilidade de pacientes que podem evoluir para a morte encefálica, fazendo a sensibilização da família para que eles se tornem potenciais doadores de órgãos. Dentro do hospital, a chamada Sala de Vida é o local destinado para essa sensibilização.
– Essa estrutura foi criada por voluntários aqui da cidade que se sentiram sensibilizados pela importância da captação de órgãos e resolveram se organizar, captar recursos para construir o que a gente chama de Sala da Vida, um ambiente acolhedor, com condições de humanização para essa sensibilização da família, daquele potencial doador – completa o Diretor Executivo.
Continua depois da publicidade
A equipe trabalha de forma ininterrupta, ou seja, durante as 24 horas do dia, para que em caso de uma eventual morte ou evolução de algum paciente para a morte encefálica, haja essa sensibilização da família que possibilite a doação de órgãos. A CHT possui 2 médicas e 6 enfermeiros.
– Damos apoio também ao Hospital Seara do Bem quando necessário. Esses enfermeiros fazem busca ativa de potenciais doadores nas unidades de terapia intensiva e emergência. Quando o paciente tem critério para diagnóstico de morte encefálica, comunicamos nossas médicas e vamos dando início à abertura do protocolo – explica Michelle Sant Ana, Coordenadora da CHT.
Lista de espera em SC ultrapassa 1,5 mil pacientes
Mais de 1,5 mil pacientes aguardam por uma cirurgia de transplante de órgãos no estado catarinense, de acordo com dados da SC Transplantes. Ao final do mês de maio, a maior demanda era por transplantes de rim, com 908 pessoas na lista de espera. Na sequência, está o transplante de córnea, com 502 pacientes na fila.
A SC Transplantes registrou 303 notificações para doações de órgãos entre janeiro e o final de maio de 2025, que resultaram em 134 doações efetivadas no mesmo período. No Meio Oeste e Serra Catarinense, foram 30 notificações e 9 doações, de acordo com dados oficiais do governo. Somente no HNSP, as notificações somaram 14, com um total de 2 doações.
Continua depois da publicidade
Indy* sofreu um grave acidente de moto, resultando em uma lesão medular e perda dos rins. Após cinco anos de hemodiálise cinco vezes por semana, o que era considerado extremamente desgastante, a paciente conseguiu um rim para transplante, e ressalta que o sim de uma família pode salvar a vida de várias pessoas.
– Por muitas noites passei em claro orando que acontecesse um milagre na minha vida. Não desisti. E Deus me enviou esse presente, na véspera do meu aniversário recebi a notícia que havia um rim compatível. Foi um presente maravilhoso, agradeço a Deus e oro pela família deste doador. Se não fosse pelo sim do doador, eu não teria conseguido. Por isso é muito importante decidir em vida ser um doador de órgãos. Graças a esse doador, não estou mais sobrevivendo, estou vivendo.
Gian*, transplantado há 9 anos, ficou um ano na fila de transplantes, realizando hemodiálise a cada dois dias. Ele conta que no dia em que recebeu a notícia de que conseguiria um órgão, havia se sentido mal, mas o momento de aflição se transformou em alegria.
– Foram tantas orações que a gente fez, tantos pedidos. Quando eu não suportei mais, apareceu um rim para mim. Todo mundo que é católico, principalmente, sempre fala que Jesus morreu por nós, mas eu tenho alguém que morreu para me dar vida. Novamente, então, eu sou eternamente grato. Grato também pelas pessoas que participam desse movimento pró-transplante, são enfermeiros, médicos, motoristas de ambulâncias, pilotos, enfim, é um número muito grande de pessoas que colaboram para que você volte a ter uma vida normal.
Continua depois da publicidade
O trabalho de sensibilização é essencial, mas para que transplantes como os de Indy e Gian sejam possíveis, é importante que as pessoas manifestem à família o desejo de ser um doador de órgãos e tecidos.
Saiba mais sobre os trabalhos de captação de órgãos do HNSP.
*Sobrenomes não são mencionados para evitar identificação dos pacientes