Para muitas mulheres, chegar aos 40 anos simboliza uma travessia. Não é um marco brusco, mas um conjunto de pequenas transformações que, somadas, revelam que o corpo entrou em uma nova etapa — o climatério, período que antecede a menopausa e que pode começar até cinco anos antes da última menstruação. Alterações no humor, no sono, no desejo sexual, na disposição e no metabolismo tornam-se frequentes, embora pouco discutidas. E, quando chegam, muitas mulheres se sentem despreparadas.

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Segundo o IBGE, Santa Catarina tem atualmente 359,9 mil mulheres com idades entre 40 e 45 anos, conforme os dados do Censo 2022. Em vista disso, o NSC Total conversou com quatro mulheres que estão vivendo — ou viveram recentemente — essa fase do climatério, cada uma com experiências diferentes, mas atravessadas por sentimentos comuns: estranhamento, busca por explicações, adaptação e amadurecimento. Para contextualizar essas vivências, a reportagem ouviu também uma psicóloga e sexóloga e uma ginecologista, que explicam como as mudanças hormonais afetam o corpo, as emoções, a sexualidade e as relações das mulheres que estão passando por esta fase.

O climatério é o período de transição natural na vida da mulher, que marca a passagem da fase reprodutiva para a não reprodutiva, com diminuição progressiva dos hormônios, começando geralmente por volta dos 40 anos e incluindo a pré-menopausa, a menopausa (última menstruação) e a pós-menopausa.

Queda de cabelo e pele ressecada como os primeiros sintomas

A professora Michela Bitencourt Mariano, 43 anos, lembra exatamente quando começou a perceber que algo havia mudado. A moradora de Tubarão, no Sul de Santa Catarina, estava perto dos 40 quando as primeiras pistas apareceram: queda acentuada de cabelo, ressecamento da pele e uma flacidez que ela descreve como “sensação de derretimento”.

A disposição, que sempre foi sua aliada, também começou a faltar:

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— Percebo o cansaço nas atividades físicas, ao chegar do trabalho, nas tarefas de casa. Não tenho mais o mesmo rendimento — conta ela.

Com o metabolismo mais lento e o desânimo tomando espaço de atividades que antes lhe davam prazer, como ir à academia ou sair, Michela decidiu buscar informação — e apoio médico.

De acordo com a ginecologista e obstetra Jussimara de Souza Steglich, de Florianópolis, o climatério costuma começar entre quatro e cinco anos antes da menopausa, e tem como primeiros sinais:

  • ciclo menstrual irregular;
  • fluxo mais intenso;
  • irritabilidade e oscilação de humor;
  • queda de energia;
  • aumento da gordura abdominal;
  • perda de massa magra;
  • diminuição do desejo sexual.

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Segundo a médica, a recomendação é buscar avaliação ginecológica quando os sintomas persistirem por três meses ou mais. Foi exatamente o que Michela fez. Hoje, faz acompanhamento com ginecologista e endocrinologista e tenta lidar com o novo ritmo do corpo.

Sensação de “perder o brilho”

A pedagoga Luana Arruda, 44 anos, passou por uma situação semelhante à de Michela. Com a chegada dos 40 anos, levou um susto quando começou a experimentar vários sintomas simultaneamente: insônia, irritabilidade, queda de cabelo, menstruação irregular e um cansaço constante.

— Parece que meu corpo gritava por atenção — relata ela.

O diagnóstico que justificava as mudanças veio depois: Luana estava passando pela menopausa precoce, falência ovariana que ocorre antes dos 40 anos e que causa a interrupção da menstruação e a perda da função reprodutiva. De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas são semelhantes aos da menopausa natural.

Enquanto passava por isso, ativa, praticante de musculação e beach tênis, Luana percebeu que o aumento de peso era resistente aos esforços de sempre. O humor oscilava, a paciência diminuía e sua filha, de 11 anos, precisou se adaptar a essa nova versão da mãe.

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Os sintomas também trouxeram consequências para a vida sexual de Luana. A partir dos 40 anos, ela sentiu que o corpo começou a responder de outra forma às relações sexuais e, a partir daí, ela teve que fazer um esforço para entender o que chama de “novo ritmo”.

— Não é que acabou ou ficou ruim, mas definitivamente mudou. Passei a precisar de mais conexão emocional e menos pressa — diz.

Com isso, o desejo sexual também passou a oscilar, o que mexeu com a autoestima da moradora de Florianópolis, mas também a ajudou a se conhecer melhor, de acordo com ela.

— A oscilação me levou a ter conversas mais sinceras sobre o que eu preciso e o que sinto. Também enfrentei ressecamento vaginal, e isso tornou algumas relações desconfortáveis. No começo, fiquei envergonhada, mas depois percebi que isso é muito comum — revela.

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Hoje, passada a fase mais confusa, Luana tem acompanhamento médico e tem clareza do que gostaria de ter ouvido no começo:

— Eu não estava perdendo meu brilho e não era o fim de nada. Era só o começo de outra versão de mim.

“Climatério é uma mudança de estação”, diz psicóloga

A psicóloga e sexóloga Graziele Zwielewski, de Florianópolis, aponta que o climatério ainda é pouco compreendido socialmente, e muitos sintomas são desvalorizados. Quando os hormônios começam a cair, surgem sinais como ansiedade, irritabilidade, alterações cognitivas, ganho de peso, cabelo mais fino e, também, queda da libido, redução da lubrificação e dor na relação.

Com a queda do estrogênio, características associadas à feminilidade também mudam — o que afeta a autoestima, de acordo com Graziele.

— O estrogênio já tira a libido, mas quando a autoimagem está abalada, fica ainda mais difícil desejar — explica.

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Graziele explica que, historicamente, foi atribuído às mulheres um papel social ligado à procriação. Por muito tempo, ao chegar à menopausa, elas eram percebidas como “inúteis”, como se não servissem mais. Assim, a menopausa acabou sendo associada, mesmo que de forma inconsciente, a uma ideia de descarte. Esse imaginário, segundo ela, ainda afeta a autoestima de muitas mulheres que entram no climatério, o período que antecede a menopausa.

A psicóloga destaca, porém, que esse cenário vem mudando. A medicina e a psicoterapia atuam como aliadas importantes, oferecendo apoio em diferentes frentes. A psicoeducação sobre as mudanças hormonais, afirma, é fundamental para normalizar o momento como parte da experiência humana. Ela ajuda a mulher a compreender o que está acontecendo no corpo e a identificar caminhos para se reconectar com o próprio feminino, encontrando uma nova forma de viver a sexualidade — agora com outras necessidades e adaptações.

Graziele compara esse processo à transição entre estações.

— É como sair do verão e entrar no outono. A paisagem muda, as folhas caem, a luz é outra. Se a mulher olha apenas para o que “perdeu”, o vigor, o calor, a vitalidade hormonal, pode sentir tristeza ou culpa por não ser mais como antes. Quando existe acompanhamento terapêutico, porém, ela percebe que essa mudança é natural e deixa de se cobrar por não estar mais no “verão hormonal”. Passa, então, a enxergar o que o outono oferece: outros ritmos, novas formas de beleza e possibilidades de prazer — esclarece.

Além das questões hormonais que precisam de acompanhamento, Graziele ressalta que a satisfação sexual nessa fase depende de quatro elementos centrais: autoconhecimento, capacidade de erotização, intimidade e conexão emocional com a parceria.

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Por isso, atividades que despertem a sensorialidade e reforcem o vínculo são bem-vindas — como dança, massagens, lazer a dois e rituais de intimidade que valorizem o carinho mútuo. Para ela, adaptações, abertura ao novo e flexibilidade são fundamentais para uma vivência plena da sexualidade no climatério e na menopausa.

A médica Jussimara, que também atua como terapeuta sexual, também ressalta a importância do cuidado com a saúde sexual:

— Cuidar da sexualidade não é vaidade. É saúde física, emocional e relacional.

Para mulheres com dor, ressecamento ou perda de elasticidade vaginal — sintomas comuns à fase — existem tratamentos como:

  • hidratantes e lubrificantes vaginais;
  • estrogênio de uso local;
  • fisioterapia de assoalho pélvico;
  • tecnologias como laser e radiofrequência, nas indicações corretas.

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Dor na relação, lembra ela, não é normal — e não precisa ser tolerada.

Para Myliane Demétrio Nascimento Gonçalves, 44 anos, a vida sexual não passou por mudanças significativas — pelo contrário, ficou ainda mais satisfatória com o diálogo e a parceria construída por 30 anos com o primeiro e único namorado. É justamente o que recomenda a psicóloga Graziele, ao falar sobre autoconhecimento e intimidade.

Além disso, para Myliane, as transformações do climatério chegaram acompanhadas de uma sensação de amadurecimento.

— Ganhei peso, unhas e cabelos ficaram mais quebradiços, o metabolismo ficou mais lento. Mas também ganhei maturidade para resolver problemas e cuidar de mim — conta ela.

Criada em uma família repleta de mulheres que passaram pelo climatério de forma tranquila, ela diz ter entrado na fase preparada.

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— Fui me apropriando das mudanças aos poucos, sem muito julgamento — diz.

Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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