Por Larissa Lorenzi*
Alguém já ouviu falar aquela frase: “Já que sou, o jeito é ser”? Então, sou mulher, brasileira. Como toda brasileira, sou uma mistura de um monte de gente que veio de um monte de lugares diferentes há muito tempo. A minha startup, Free’em Lab, surgiu dessa minha história, que é a mesma de muita gente. Sempre tive um corpo diferente do padrão, e não existem roupas para mim. Passei uma vida baseada em pagar pela roupa e depois pagar pela costureira, e é por isso que eu entrei no mundo da moda, porque na minha cabeça se eu quero roupas, preciso eu mesma fazê-las.
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No meu TCC em Design de Moda, eu tentei resolver o problema da calça jeans, que não existe para corpos diferentes do que é considerado padrão. E até deu certo, mas foi ali que eu percebi que o buraco é bem mais embaixo, que aquele desafio era só um pingo num mar de problemas. Por isso que hoje o projeto é muito mais ambicioso, porque não é só sobre mim, só sobre a calça jeans, só sobre meu tipo de corpo. É sobre todos nós, seres humanos e as infinitas formas que temos.
Estou criando uma base de dados com as medidas de corpo dos brasileiros, coletados por crowdsourcing, ou seja, as próprias pessoas fornecem o conteúdo. No cadastro são solicitadas informações sobre corpo e moda e, conforme existam interações na rede, outros dados serão coletados.
Esses dados serão tratados, organizados e direcionados para empresas de moda e confecções de pequeno a grande porte, que buscam qualidade em seus produtos e satisfação de seus clientes, e que de fato têm o poder e os recursos para gerar essa mudança. Com essas informações em mãos, será possível o estudo e a construção de uma modelagem ideal para cada forma existente.
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Os resultados do sucesso da Free’em Lab são, além da possibilidade de comercialização de produtos de moda que atendem ao corpo de seres humanos reais; a transformação do olhar sobre o próprio corpo, dignificando-o e permitindo o bem estar mental e físico de pessoas que sofrem com a insustentabilidade estética há tanto tempo. E outro resultado importante é o incentivo ao consumo consciente, que é, hoje, fundamental para o futuro do planeta Terra, uma vez que a indústria da moda é, de fato, a maior poluidora entre todas.
Pode parecer muita ambição, pode parecer loucura, pode não dar certo, mas acho que loucura mesmo é achar normal a indústria da moda operar do jeito que opera atualmente. Sabe, as roupas não vão mudar o mundo, mas as mulheres que as vestem, elas com certeza vão.
*Larissa Lorenzi, designer de moda e fundadora da Free’em Lab, startup que coleta medidas dos corpos dos brasileiros. A Tech Power é uma iniciativa que busca ampliar a participação e liderança feminina no setor tecnológico da Grande Florianópolis por meio da comunicação. O projeto foi criado por mulheres que trabalham na Dialetto, empresa de assessoria de imprensa e marketing digital especializada em tecnologia.