Em meio à saideira das festas de outubro, lembrei de trazer um tema muito importante e que sempre surge com uma dúvida, independentemente do zicke-zacke: posso misturar álcool com antibióticos? Para muitos, brindar com seus canecos clássicos de chope é uma tradição, mas para quem está em tratamento médico essa tradição pode causar consequências à saúde. 

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Como infectologista, lhes digo: o tema vai muito além de um mero sim ou não. Vamos descomplicar essa questão! Geralmente, quando estamos falando sobre o consumo de álcool e o uso de antibióticos, falamos de álcool em excesso. Uma taça de vinho em uma refeição pode não causar desconforto nem reduzir a ação do antibiótico. No entanto, quem vai a uma Oktoberfest, por exemplo, geralmente bebe muito mais do que uma única cerveja, especialmente em eventos longos e intensos. 

É aí que está o problema.

Se o álcool realmente interfere no tratamento com antibióticos, a resposta é ambígua, porque alguns antibióticos têm interações perigosas com o álcool, enquanto outros são mais “tolerantes” a ele. Vou explicar:

Antibióticos que interagem com o álcool, podem causar reações adversas intensas chamadas de efeito dissulfiram-like. Vamos imaginar que o corpo tem uma “fábrica” que processa tudo o que você come e bebe. Quando você toma uma cerveja, a “fábrica” transforma o álcool em etapas: primeiro, ela quebra o álcool em algo chamado acetaldeído (uma substância tóxica e irritante, tipo um “vilão”). Depois, rapidamente, a “fábrica” transforma esse vilão em algo seguro, que é eliminado do corpo. Agora entra o problema: Se você está tomando certos antibióticos que causam o efeito dissulfiram-like, eles bloqueiam a “segunda etapa” da fábrica. Ou seja, o corpo não consegue se livrar do vilão (o acetaldeído) e ele começa a se acumular.

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O resultado?

Esse vilão (o acetaldeído) é que bagunça todo o seu corpo e causa sintomas super desagradáveis, como: enjoo fortíssimo, vômitos; rosto e corpo vermelhos e quentes; dor de cabeça latejante; coração disparado; tontura, fraqueza e uma sensação horrível de mal-estar geral.  Eu costumo dizer que é um castigo químico do seu corpo dizendo: “Ei, você misturou algo que não deveria!”. 

Os principais antibióticos que misturados com álcool causam este efeito são: metronidazol, tinidazol e a classe das cefalosporinas. Ou seja, não misture álcool com estes antibióticos, não somente durante o tratamento, mas por até 48 a 72 horas após a última dose.

Agora, falando em outro ponto sobre a mistura do álcool com antibióticos, é que de fato, esta combinação pode sim, diminuir a absorção do antibiótico pelo organismo, sobrecarregando o fígado e não tendo o efeito do antibiótico como deveria, comprometendo o seu tratamento médico. Se você está tomando antibiótico é porque está doente! Por que você vai tomar chope? Ninguém está em uso de antibiótico por estar na melhor performance da vida e, sim, por você estar combatendo uma infecção causada por uma bactéria. E você precisa que seu sistema imunológico lhe ajude. 

Para quem está em tratamento com antibióticos, o melhor é não consumir álcool durante o uso do medicamento. E isso não é sinônimo de proibição à socialização! A Oktoberfest é muito mais do que cerveja: aproveite as músicas, danças, comidas típicas e a história maravilhosa do evento. Saúde e diversão caminham juntas!

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Álcool e os principais antibióticos

Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.