Que escândalo! Esta é a palavra que define o uso de furadeira doméstica para realização de cirurgias ortopédicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Hospital Nossa Senhora do Pari, no centro de São Paulo.
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Você deve imaginar que o centro cirúrgico de um hospital é, ou deve ser, o ambiente mais limpo e estéril do ambiente hospitalar. Afinal de contas, lá acontecem cirurgias complexas com envolvimento de todos os órgãos do nosso corpo humano. Lá, são realizadas cirurgias em pacientes graves, com múltiplas comorbidades e por isso, é dever do hospital garantir a segurança do paciente. Inclusive, foi implementado aqui no Brasil, em todos os hospitais, as cinco metas internacionais de segurança do paciente. São elas:
- Meta 1: Identificação correta do paciente;
- Meta 2: Comunicação efetiva;
- Meta 3: Melhorar a segurança dos medicamentos;
- Meta 4: Cirurgia segura;
- Meta 5: Reduzir o risco de infecções associadas aos cuidados.
Como podem ver, a quarta meta é cirurgia segura, e a quinta meta é reduzir o risco de infecções associadas aos cuidados. Certamente com uso de furadeiras domésticas sem comprovação de uso para perfuração óssea, e sem garantia de desinfecção adequada do material para ser usado em demais pacientes, estas duas metas foram quebradas.
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Existem normas, inclusive, exigidas pela Anvisa e pelo serviço de controle de infecção hospitalar, sendo claras que o uso de furadeiras domésticas, representam um grave risco para a saúde e constitui infração sanitária por se tratar de produto sem registro na Anvisa.
Mas é utilizado mesmo furadeiras em cirurgias ortopédicas?
Conversei com meu colega Ruan Carlo Zanella, ortopedista membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) para explicar de forma mais clara. Ele explicou que as furadeiras ortopédicas são amplamente utilizadas em cirurgias para fixar fraturas, por exemplo, sendo muito predominante na prática diária da cirurgia ortopédica, mas, que são completamente diferentes das furadeiras domésticas. Todas as furadeiras utilizadas em centro cirúrgicos são e deve ser feito a desinfecção adequada no hospital, o que claramente não é possível com a furadeira doméstica elétrica comum, que não são feitas para suportar umidade ou calor no momento de fazer a desinfecção.
Doutor Ruan me explicou que a rotação da furadeira ortopédica tem rotações mais controladas para perfuração óssea que faz com que não tenha muito calor no momento de usar, evitando infecções e necrose de ossos, além da precisão mais adequada para um procedimento cirúrgico. Pontua que os riscos de uso de furadeira doméstica são vários: choque elétrico, dano ósseo, infecções, necrose, dentre vários outros, ou seja, totalmente inadequado.
Posso dizer que é trágico e inadmissível. São milhares de pessoas que podem ser prejudicadas e ter danos permanentes por tal ação, ou que já foram. O culpado disso? A falta de dinheiro e de investimento, que provoca falta de insumos para que o serviço de saúde funcione de forma orquestrada e correta. O médico que está lá tentando fazer o bem para seu paciente fica impotente quando seu instrumento de trabalho em nada ajuda, aliás, põe em risco o seu CRM e a vida de seu paciente. Lamentável.
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Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.
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