Um estudo inédito sobre incidentes relacionados à assistência à saúde de recém-nascidos revelou que Santa Catarina registrou 1.608 casos desse tipo entre 2014 e 2022. Para a pesquisa, feita pela Sociedade Brasileira para Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), de São Paulo, foram analisados os dados do sistema de notificação em vigilância sanitária da Anvisa, também parceira da pesquisa.
Continua depois da publicidade
Os dados se referem a todos os recém-nascidos, ou seja, bebês com menos de 28 dias, que sofreram algum tipo de incidente notificado no período de oito anos. Com a quantidade de casos, Santa Catarina tem o sexto maior número de incidentes com recém-nascidos no país.
Em todo o Brasil, entre abril de 2014 e dezembro de 2022, foram 39.373 notificações de incidentes envolvendo recém-nascidos. Desses, 99,1% ocorreram em ambientes hospitalares, com outros 0,2% em laboratórios de análises clínicas e 0,7% em outros serviços.
Cerca de 68,3%, o que equivale a 26.913 casos, foram classificados como eventos adversos, sendo os mais frequentes falhas envolvendo cateteres venosos (16,7%), e lesões por pressão (10,8%). Outros eventos adversos considerados na pesquisa foram extubações acidentais (5,7%) e queda do paciente (2,6%). De acordo com a Sociedade Brasileira para Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente, são ocorrências que podem ser evitadas.
— Na neonatologia, tudo é muito pequeno e delicado […] Os cateteres, sondas e tubos usados nesses bebês têm calibre muito reduzido e são feitos de materiais delicados. Isso faz com que estes dispositivos possam se deslocar ou obstruir com facilidade, o que pode gerar complicações importantes — explica a neonatologista e membro do órgão, Cristina Ortiz Sobrinho Valete.
Continua depois da publicidade
Para ela, as lesões por pressão também merecem atenção, já que a pele do recém-nascido é “extremamente frágil e fatores como imobilização, ventilação, sedação ou até o estado nutricional podem favorecer o aparecimento de lesões”.
A pediatra também alerta para a necessidade do cuidado com as quedas com recém-nascidos.
— Para um bebê, uma queda aparentemente pequena representa duas ou três vezes a sua própria altura corporal, então o impacto é grande. Dentro das instituições, os recém-nascidos não devem ser transportados no colo durante deslocamentos e nunca podem ser deixados em superfícies sem supervisão — diz.
Dessa forma, a prevenção é esforço entre profissionais e familiares do bebê, com adoção de protocolos clínicos e segurança específicos, segundo a médica.
A região Sudeste é a que mais registrou casos relacionados a esse tipo de incidente, representando 39,7% dos casos. Depois, vem a região Nordeste, com 25,9% dos registros. A região Centro-Oeste aparece logo em seguida, com 17,3% dos casos, enquanto o Sul (15,4%) e o Norte (1,7%) aparecem depois.
Continua depois da publicidade
Mortes por eventos adversos
A pesquisa também mostrou que a frequência de eventos adversos associados a procedimentos cirúrgicos que evoluíram para a morte do bebê também é alta, chegando a 1,5%. A médica explica que a maioria das cirurgias em recém-nascidos é de urgência, o que já mostra a gravidade do caso, com desafios como manter a temperatura corporal da criança.
— Sabemos que as crianças são vulneráveis aos eventos adversos, e os recém-nascidos são ainda mais sensíveis. Esses eventos são evitáveis e, quando acontecem, frequentemente causam danos. A frequência, registrada pela Anvisa e detalhada neste estudo, deixa evidente que precisamos agir de forma consistente para evitar essas ocorrências — aponta.
Além dos números de ocorrências de incidentes e mortes, a pesquisa também mostrou que o sistema de notificações da Anvisa tem limitações, com categorias pouco claras, termos redundantes e dificuldade de delimitação temporal dos incidentes. Em 2025, a Anvisa atualizou o sistema, com aprimoração de critérios de qualificação.

