O ministro das Relações Exteriores, José Serra, começa nesta segunda-feira a debater a formação de uma dobradinha com a Argentina para tentar destravar transações comerciais dentro e fora do Mercosul. A avaliação no Planalto e no Itamaraty é de que o atual governo do país vizinho está disposto a fechar mais acordos para aumentar as suas exportações, o que coincide com os objetivos do Brasil.

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— Espero que se possa flexibilizar uma decisão, nascida de um acordo de ministros, de que qualquer acordo bilateral tem de ser necessariamente referendado pelos demais (países do Mercosul) — afirmou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que estará na delegação.

— Isso é uma limitação séria à autonomia do Brasil — acrescentou.

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O senador também disse imaginar que esse ponto será tratado por Serra na conversa com a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Susana Malcorra.

— Será feita uma atualização da relação Brasil-Argentina, aproveitando a grande oportunidade que, pela primeira vez, os dois países acertaram o passo — comentou o embaixador Sérgio Amaral, que tem atuado como um dos principais conselheiros de Serra desde que ele foi convidado para assumir o Itamaraty.

— Não vai mais ter uma simpatia tão grande com o mundo bolivariano — declarou.

Isso passa, segundo o embaixador, pela eliminação progressiva das restrições às negociações comerciais do Mercosul com outros mercados. A estratégia foi acertada em conversas de Serra com o presidente interino Michel Temer, numa nova dinâmica da política externa brasileira. O discurso de posse do ministro, as notas em que foram rebatidas as críticas dos países “bolivarianos” ao afastamento da presidente Dilma Rousseff e, agora, a nova estratégia comercial foram discutidos pela dupla.

É uma forma diferente da vista nos governos do PT sob a influência do então assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia. Na época, isso gerou avaliações de que havia uma política externa bicéfala.

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O interesse de Serra pela política externa é antigo. Seus interlocutores vão desde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já chefiou o Itamaraty, até diplomatas, políticos e pessoas com perfil mais técnico, como o ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior Roberto Giannetti da Fonseca.

Protesto

Em sua primeira viagem oficial no comando do Itamaraty, o chanceler brasileiro chegou no domingo à noite a Buenos Aires. Sua comitiva foi recebida com um protesto ao chegar à Embaixada do Brasil, por volta das 20h.

Um grupo de 35 manifestantes contrários ao processo de impeachment de Dilma atirou bolinhas de papel de jornal nos três veículos oficiais que chegaram à embaixada brasileira.

O ato fazia referência a um episódio da campanha presidencial de 2010, quando em outubro o então candidato tucano relatou uma agressão após ser atingido por uma bola de papel na cabeça durante uma caminhada no Rio de Janeiro.

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Os manifestantes também chamaram o ministro de golpista e colaram na região cartazes com o rosto dele sobre a inscrição “procurado”.

Macri

Além de ser recebido por Susana Malcorra, o chanceler brasileiro vai se encontrar também com o ministro da Fazenda da Argentina, Alfonso Prat-Gay, e fará uma visita de cortesia ao presidente Mauricio Macri.

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