Separados por um muro celestial e unidos por uma fenda inesperada, dois deuses são protagonistas da romantasia nacional “Sonho e Pesadelo”. Em “Sonho e Pesadelo”, livro de estreia de Marina Dutra pela Buzz Editora, o amor proibido entre as duas divindades opostas torna-se metáfora sobre os limites da ordem divina, o livre-arbítrio e a natureza humana.

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A obra apresenta os deuses que dão nome ao livro: Sonho e Pesadelo. Enquanto Sonho, a divindade dos devaneios, nasce sob a luz do luar e é nutrida por Esperança e Vontade, representando a criação e os ideais puros dos mortais, Pesadelo, seu oposto, emerge da essência de Angústia e Medo, envolto em trevas e solidão, carregando o fardo do medo, da destruição e da rejeição.

No livro, Sonho e Pesadelo foram condenados à separação desde os primórdios, vivendo em reinos opostos, divididos por um muro celestial, imposto pelos Criadores, com a única regra de nunca permitir a união entre opostos.

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A narrativa ganha um ponto de virada com o surgimento de um “pequeno buraco” nessa muralha. Em entrevista ao NSC Total, Marina destaca que o buraco no muro é uma metáfora para a curiosidade que leva os dois a se descobrirem. É através desta pequena rachadura que Sonho e Pesadelo se veem pela primeira vez, e a curiosidade logo se transforma em fascínio.

Em uma dinâmica de “quase Enemy to Lovers”, a obra questiona: “o que acontece quando opostos se tocam?”. “O Pesadelo de fato odeia a Sonho, mas a Sonho não odeia ele, ela é curiosa,” detalha a autora. A conexão dos dois se desenvolve através de provocações, silêncios e palavras proibidas.

Concepção de Sonho e Pesadelo

Marina conta que escreveu grande parte do livro em poucos meses, num momento de transição pessoal e profissional. Após deixar a advocacia e tentar viver exclusivamente da escrita, deparou-se com os desafios do mercado editorial independente. “Eu brinco que estava vendo um sonho virar um pesadelo, e foi justamente aí que a história nasceu. Vi uma pintura de Romeu e Julieta sendo separados por mãos opostas, e me perguntei: e se essas emoções fossem deuses que nos visitam?”

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Com a ideia, Marina infundiu sua própria essência nos personagens, revelando a dualidade humana, e tornando o processo de escrita “quase como um processo terapêutico”. A premissa desafia a ideia de que se pode ser “só bom”, ignorando o “lado trevas”. A história é permeada por metáforas celestiais e um sistema mitológico próprio, com personagens como Amor, Maldade, Esperança e Medo, todos divindades que atuam como forças personificadas no universo.

Inspirada por Castelo Animado, do Studio Ghibli, Marina buscou criar uma narrativa que evocasse encantamento e beleza sem abrir mão da profundidade. “Minha personalidade é ser fã de Estúdio Ghibli”, brinca. “Queria fazer uma história que deixasse as pessoas arrebatadas como eu me sinto com os filmes do estúdio. Meu desejo foi escrever uma história que fosse um grande abraço. Que a pessoa terminasse sorrindo, sentindo o coração cheio”, conta Marina.

A ambientação de Sonho e Pesadelo exigiu da autora, que iniciou sua trajetória escrevendo fanfics de Crepúsculo aos 14 anos, um esforço criativo. “Eu precisei sair da caixa, porque para deuses nada é impossível,” revela. Ela exemplifica essa liberdade criativa: “se agachar é coisa de humano. Pesadelo sendo um Deus, ele pode só diminuir” e, para a Sonho, a árvore “vai se desdobrar e oferecer a fruta para ela”.

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Escrita de Sonho e Pesadelo

Sonho e Pesadelo começou como um conto, mas rapidamente se expandiu. A narrativa exigiu mais. Marina, que se define como uma escritora “jardineira”, aquela que cultiva ideias sem roteiro rígido, deixou-se guiar pela intuição. Em poucos meses, o livro estava quase completo, mas a autora relutava em escrever o final: “Eu estava tão apegada à história que evitava concluir. Eu demorei para escrever o final, porque eu não queria me despedir,” confessa.

A autora finaliza refletindo que, embora a literatura não precise necessariamente ensinar lições, em seu livro acabou deixando uma, principalmente para si mesma: “ninguém é feito só de sonhos, também temos os nossos pesadelos e tá tudo bem. Um não consegue viver sem o outro e não tem problema, faz parte”, finaliza.

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