Com a proposta de simplificar a assistência técnica remota para produtores familiares de suínos, uma startup catarinense lançou uma solução inovadora: o aplicativo EcoPiggy. Em uma interface simplificada, que funciona como uma espécie de “calculadora”, a plataforma traz dados sobre os dejetos que podem ser usados como fertilizantes e a área disponível na propriedade, além de conectar técnicos e produtores.
Continua depois da publicidade
O aplicativo foi criado em parceria com a Embrapa Suínos e Aves, unidade descentralizada da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária localizada em Concórdia, no Meio-Oeste catarinense. Na época em que o projeto começou, a Embrapa buscava parcerias para desenvolver soluções em conjunto.
Há cerca de cinco anos, Juliane Blainski e Caroline Luiz Pimenta apresentaram o projeto do que se tornou o EcoPiggy, com o intuito de trabalhar a sustentabilidade na suinocultura, especialmente para pequenos produtores, em relação ao manejo de dejetos suínos. Depois de etapas de desenvolvimento e testes, o aplicativo foi lançado na última semana em um evento do setor em Cascavel (PR).
— A Embrapa já tinha um racional de cálculo de uso desse dejeto em áreas produtivas, mas a gente queria colocar isso numa ferramenta, que fosse fácil traduzir, fazer essa transferência de conhecimento, e a gente entrou como parceiro no desenvolvimento — afirma Juliane.
Na interface, é possível cadastrar o volume do plantel de suínos, e o sistema realiza o cálculo do dejeto disponível para ser utilizado como fertilizante na área produtiva. Também é possível fazer o cadastro das áreas produtivas dentro da propriedade e escolher o que vai ser produzido em um determinado período. Ainda, o aplicativo funciona como uma calculadora, que deixa visível dados sobre a quantidade de dejetos disponíveis e o volume de área disponível para receber esse dejeto como fertilizante.
Continua depois da publicidade
— O técnico, fazendo a sua assistência técnica, consegue orientar melhor o produtor em cada área, o quanto que ele poderia utilizar daquele dejeto. Tem uma parte onde a gente sobe análise de solo e aí a ferramenta faz o cálculo de quanto de dejeto suíno pode ser aplicado naquela área produtiva, pensando também na necessidade que aquela planta precisa de nutrientes — explica Juliane.

Outra funcionalidade disponibilizada pelo aplicativo é um chat de comunicação, onde o técnico, utilizando a ferramenta, consegue se comunicar com o produtor, que recebe a mensagem via WhatsApp. Os relatórios e informações são enviados pelo técnico ao produtor, sem que ele precise baixar o aplicativo, já que a ferramenta está integrada ao aplicativo de mensagens.
O público-alvo do aplicativo são técnicos, mas a solução também abrange produtores que já são mais “digitalmente transformados”, como explicou Juliane, e possuem mais familiaridade com ferramentas tecnológicas sem apoio técnico.
— A maioria dos produtores ainda não tem uma transformação digital nesse nível de desvendar aplicativos. Geralmente a gente vê soluções para produtores mais tecnificados. Então essa solução, ela foi pensada num perfil técnico ou de um produtor mais apto tecnicamente — detalha.
Continua depois da publicidade
Atualmente, o aplicativo está disponível de forma gratuita para um período demonstrativo. Ao fim desse período, a plataforma poderá ser utilizada no formato de assinatura paga para que o técnico tenha acesso aos relatórios e históricos das propriedades. O produtor também pode contratar um serviço de assistência técnica digital pelo aplicativo, se desejar. Ainda, outro modelo de negócios é através de cooperativas que podem disponibilizar o EcoPiggy para seus técnicos e produtores e ter acesso às informações de forma integrada.
Tecnologia no agro
Juliane e Caroline são sócias da ManejeBem, startup catarinense voltada para a criação de soluções para empresas e profissionais autônomos do agronegócio com uso de tecnologia. Entre os clientes atendidos estão Ambev, Vale, Cargil, Bunge, Ministério da Agricultura e outros nomes que ajudaram a empresa a desenvolver a tecnologia aplicada hoje.
Atualmente são 10 pessoas no time e 60 mil produtores na base, com uma ferramenta de gestão da assistência técnica que possibilita escalonar o trabalho. A iniciativa já está em 16 estados, 40 municípios e teve mais de 30 projetos executados com grandes empresas.
— A ferramenta tem inteligência artificial para auxiliar os técnicos a organizar as informações das visitas técnicas e também possibilitar fazer visitas virtualmente para atender os produtores — explica Juliane.
Continua depois da publicidade
Entre os resultados positivos estão o aumento da eficiência do trabalho dos técnicos e também uma melhora na produtividade das propriedades, com histórico de produtores que aumentaram o índice de produtividade na casa dos 20% na cadeia de leite e de 80% na cadeia do cacau.
A iniciativa liderada por Juliane e Caroline, que se conheceram durante o período de doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra a força do empreendedorismo em duas áreas ainda muito dominadas pelos homens: a tecnologia e o agronegócio. Questionada sobre os desafios de ser mulher nesse meio, a CEO afirma que a persistência é o segredo.
— Uma característica nossa é resiliência, de não desistir no primeiro não, e persistir naquele sonho. Quando a gente começou, a questão da assistência técnica digital não existia e ouvimos até que éramos meio “malucas” de estar propondo isso — destaca Juliane.
A proposta de utilizar a tecnologia para facilitar a assistência técnica na produção rural ganhou destaque durante a pandemia, quando as visitas presenciais não eram possíveis e o trabalho técnico da maneira tradicional ficou dificultado. Desde então, a dupla participou de diferentes fóruns e eventos para falar sobre agricultura digital. De início, o que elas perceberam foi uma resistência por partes dos técnicos com o receio de serem “substituídos” pela tecnologia, sentimento que aos poucos foi ultrapassado com a ferramenta, que se mostra um apoio para os técnicos, e não um substituto.
Continua depois da publicidade
Antonietas
Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.


