Algumas expressões usadas no mundo do vinho, muitas vezes não ficam claras para quem não transita mais intimamente pelo mundo de Baco. Hoje vamos dissecar este termo, trazendo clareza aos que ainda não conhecem esta designaçao muito especial dos vinhos italianos.
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Mas, afinal o que são os vinhos supertoscanos? Simplificando são vinhos produzidos em Chianti, região da Toscana, que não seguem as regras tradicionais das duas principais denominações de origem locais, quanto ao estilo de produção e uvas utilizadas, que são: DOC – Denominazione di Origine Controllata e DOCG – Denominazione di Origine Controllata e Garantita. Portanto Supertoscanos são vinhos que desafiando as normas permitidas ficaram conhecidos por sua alta qualidade e que além de inovarem no método de produção incorporam castas não nativas e não permitidas pelas DOCs, como a Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah em seus cortes, além da Sangiovese, a uva tradicional da Toscana.
Apesar de não seguirem as regras tradicionais, os supertoscanos são reconhecidos por sua alta qualidade e complexidade. Podendo variar em estilos, são sempre vinhos equilibrados, encorpados, com taninos muito bem integrados, muitas vezes envelhecidos em barricas, integrando as notas provenientes da passagem pelo carvalho. Enquanto os tradicionais Chiantes evoluíam em tanques de concreto.
A história dos Supertoscanos tem início entre as décadas de 1960 e 1970. Época em que os produtores locais estavam insatisfeitos com legislações da DOC e DOCG, que apenas permitiam a produção de vinhos Chianti com castas autóctones, isto é, nativas da região, como a Sangiovese, Canaiolo e Malvasia.
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Após a Segunda Guerra Mundial, a produção dos Chiantis foi muito prejudicada e os vinhos passaram a ser considerados de baixa qualidade. No entanto, as restrições apesar das muitas dificuldades, as denominações e suas regras foram mantidas, o que gerou insatisfação por parte dos produtores, principalmente para os mais inovadores, que como resposta iniciaram experimentos em suas vinícolas com uvas não tradicionais como a Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah para elaborar vinhos de corte utilizando métodos de vinificação que não se encaixavam nas regras existentes, mas com objetivo de produzir vinhos de qualidade. Logo esses exemplares fora da lei, ficaram conhecidos como os Supertoscanos.
Importante mencionar que naquele momento, por não cumprirem as legislações regionais, os Supertoscanos não foram bem recebidos pelo governo italiano e eram classificados como Vinos di Távola (vinhos de mesa considerados inferiores), embora já demonstrasse sua qualidade superior, esta classificação fez com que as garrafas fossem vendidas a preços baixos.
O primeiro Supertoscano foi produzido em 1968. Era um blend das uvas Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, chamado Sassicaia (só isso rsrsrsr). Contudo o primeiro rótulo comercializado foi elaborado pela Família Antinori, levando o nome de Tignanello. O vinho era um corte das castas Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. À época os Supertoscanos foram rapidamente reconhecidos pela crítica especializada. Uma década após a criação do primeiro rótulo, a revista Decanter premiou um Sassicaia da safra de 1985. E apesar de não haver ainda uma denominação de origem específica para os Supertoscanos, alguns produtores conseguiram criar denominações próprias para seus vinhos, como o Bolgheri DOC e o Sassicaia Bolgheri DOC.
Em 1992, o governo italiano se rendeu à qualidade inquestionável desses fora da lei, e criou a IGT – Indicazione Geografica Tipica, reconhecendo as técnicas utilizadas na elaboração dos já famosos Supertoscanos; que são vinhos imponentes e ricos, elegantes e complexos, de coloração profunda e intensa, apresentando aromas concentrados de frutas maduras, especiarias, baunilha e madeira. No paladar, apresentam boa estrutura, taninos sedosos e acidez equilibrada. Sendo muito versáteis na harmonização, fazem belo par com muitos pratos. Uma ótima opção é a clássica regional com pratos da culinária italiana, como massas ao molho de tomate, acompanhado por carnes vermelhas, queijos de massa dura e bem curdos, cordeiro assado, churrasco e o Pappardelle Toscano.
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As mudanças no mundo dos vinhos, é uma prova que bons vinhos são produzidos por pessoas criativas, idéias inovadoras e não somente por uvas. A criatividade que traz qualidade, também traz benefícios para os produtores, fazendo com que seus vinhos alcancem novos patamares e sejam reconhecidos mundialmente pela sua excelência.
Saúde,
Néa Silveira | @neasommeliere