Um bilhete escrito à mão, em um guardanapo, foi entregue ao técnico da seleção masculina iraniana Roberto Piazza, fazendo referência a atual guerra no Irã. A ação aconteceu antes da partida entre Brasil e Ucrânia, no último sábado (14), no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, pela primeira semana da Liga das Nações de Vôlei (VNL) masculino 2025.

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No guardanapo estava escrito: “Nós estamos rezando pela paz. Deus abençoe vocês. O Brasil está com o Irã”. Piazza se emocionou e chegou a chorar durante uma entrevista ao Web Vôlei. Como um gesto de agradecimento, o italiano apontou para o coração e juntou as mãos.

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O técnico de 57 anos assumiu o Irã este ano, com contrato até o fim do ciclo de Los Angeles 2028. No Brasil, ele e sua equipe vivem um momento difícil e delicado, com o agravamento da crise entre Israel e Irã. Bombardeios, mortes e destruição ocorrem há dias consecutivos em ambos os países, com o temor de uma guerra mais longa e até mundial.

A Ucrânia, time que enfrentou o Brasil momentos depois que o técnico recebeu a mensagem, é uma das novidades da Liga. A seleção treina na Polônia desde a invasão russa e vive nas incertezas de outra guerra sem previsão para acabar.

Conflito afeta jogadores

Segundo informações do ge, além dessa mensagem de paz entregue ao técnico italiano, na noite da última quinta-feira (12), enquanto a seleção iraniana enfrentava os Estados Unidos no Maracanãzinho, pela VNL, o Irã foi alvo de ataques de Israel.

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Depois da partida os jogadores apareceram em um vídeo nas redes sociais, com semblantes fechados, buscando informações sobre a situação no país natal.

— Durante o jogo contra os Estados Unidos, nossa delegação recebeu a informação de que algo estava acontecendo no Irã. Mas só passaram as notícias para atletas e comissão técnica depois do último ponto. Alguns jogadores estão em uma situação ruim, porque moram em locais próximos aos dos primeiros bombardeios — relatou Roberto Piazza em entrevista ao ge, na sexta-feira.

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O gerente da delegação do país, Amir Khoshkhabar, foi o primeiro a receber as notícias vindas do Irã.

— No segundo set, um amigo da Federação me ligou e disse “nós estamos sendo bombardeados, mas, por favor, não conte aos atletas. Deixe-os jogar”. Mas foi muito difícil quando um dos jogadores veio até mim e falou: “quando vimos seu rosto, ficamos assustados. O que está acontecendo?”. Contei para eles, e alguns choraram — relatou Khoshkhabar.

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Um dia depois, na sexta-feira (13), a equipe voltou em quadra para jogar contra a Eslovênia, mas os conflitos se intensificaram ainda mais no Oriente Médio. Ao fim da partida o levantador Javad Karimi, atleta do Minas Tênis Clube, tentou conversar com jornalistas, mas se emocionou e precisou interromper a entrevista. Na sequência, o ponteiro Amir Hossein Esfandiar desabafou.

— Essa situação nos afeta em quadra, porque a nossa família ainda está lá e nossa mente também fica com eles, no Irã, mas nosso corpo está aqui. Isso é muito difícil para a gente — disse o jogador.

Os planos da seleção precisaram mudar com os acontecimentos. A ideia inicial era voltar ao Irã após a primeira semana da VNL, mas devido ao fechamento do espaço aéreo iraniano, a equipe seguirá direto para a Sérvia. A alteração se dá como precaução diante da troca de ataques com Israel.

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Segundo membros da delegação, até o momento todos os parentes de jogadores estão em segurança. Para Piazza, em uma situação como essa, de conflitos bélicos e ameaças à vida, o cenário esportivo pode mostrar caminhos para a transformação.

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— O esporte precisa, na minha opinião, ser um exemplo. No esporte, você não precisa lançar uma bomba sobre o inimigo. São só partidas entre jogadores. No fim, todos apertam as mãos e podem jantar juntos — disse o técnico.

Entenda o conflito entre Irã e Israel

Israel bombardeou instalações militares e nucleares iranianas na noite da última quinta-feira (12), horário de Brasília, já madrugada no Irã. Depois de algum tempo, novos ataques foram feitos. De acordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o objetivo era enfraquecer o programa nuclear do Irã, que representaria uma ameaça a Israel, e impedir a construção de uma bomba atômica.

Por outro lado, houveram quase 80 civis mortos e as autoridades iranianas avaliaram os ataques como “uma declaração de guerra”. Com a retaliação, o governo do Irã lançou mísseis sobre cidades israelenses na última sexta-feira (13). Os primeiros relatos indicaram uma morte e cerca de 60 feridos.

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Devido a discordâncias políticas e territoriais na região do Oriente Médio, os países já viviam uma crescente tensão. Em meio aos ataques trocados entre Israel e Irã, cresceu o temor por um conflito de escala global, com uso de armas nucleares.

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— Riscos globais aumentam, mas as chances de uma guerra mundial ainda são bastante remotas. O que vemos é uma escalada regional que pode engatilhar conflitos em áreas críticas, como Golfo, Oriente Médio, até interferência naval ou atentados terroristas internacionais. Esse momento tenso demanda contenção diplomática urgente — disse Fernando Brancoli, especialista em geopolítica e relações internacionais, ao ge.

*Eliza Bez Batti é estagiária sob a supervisão de Marcos Jordão