Dor de garganta, olhos lacrimejantes, tosse e sangramentos no nariz são alguns dos sintomas que os catarinenses Letícia da Rosa, estudante de 23 anos, e o médico Arthur Conelian Gentili, de 40, estão sentindo em Los Angeles (LA), cidade da Califórnia que enfrenta um dos piores incêndios florestais dos últimos anos. O incêndio segue sem controle nesta quinta-feira (9), com múltiplos focos que atingem a cidade hollywoodiana desde terça (7).

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Letícia é natural de Chapecó, município do Oeste de Santa Catarina, e está em Los Angeles há uma semana. Ela chegou na cidade no dia 2 de janeiro para um curso empresarial sobre liderança que deve durar três semanas na California State University Northridge (CSUN).

— Tem bastante fumaça no ar e o clima está bem seco. Esses dias tiveram ventos muito fortes, os mais fortes desde 2011, o que contribuiu para que o fogo espalhasse muito mais rápido. Está bem complicado, com alguns acessos bloqueados e falta de energia em alguns lugares — relata.

A estudante está morando na região de Grana Hillls, que não é tão afetada pelos incêndios. A universidade, que fica em Northridge, manteve as aulas presenciais.

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Aplicativo mostra áreas que estão pegando fogo; Letícia está na área circulada em vermelho (Foto: Arquivo Pessoal)

Até o momento, Letícia não recebeu ordens de evacuação. Ela está se mantendo hidratada com bastante água e usando um spray para o nariz, que tende a “secar” por conta do clima. Como algumas farmácias da região estão com falta de máscaras, a universidade está disponibilizando os itens. Nas salas de aula, há um sistema de ventilação que purifica o ar, o que está “ajudando bastante”, diz Letícia.

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— A empresa que organiza o intercâmbio providenciou casas aqui por perto para abrigo caso algum aluno precise evacuar. Hoje, os metrôs não estão funcionando bem por causa da falta de energia em alguns lugares, mas os ônibus estão fazendo as rotas sem precisar pagar — continua a jovem.

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A universidade onde Letícia faz o curso é a mesma que a esposa de Arthur Conelian, médico e diretor clínico do Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), em Florianópolis, também foi fazer um curso. O casal está em Northridge, e Paula Weyh dos Passos, de 33 anos, está grávida.

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— Ao redor do nosso bairro, ficou quase completamente circundado por áreas de fogo. Embora ele não estivesse sendo atingido diretamente, ao redor estava preocupante. A gente estava com medo de não poder mais sair. O bairro chegou a ter o aviso vermelho, que é o de ficar tudo “pronto para sair”, então fizemos as malas e esperamos — conta.

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O médico e a esposa chegaram na cidade no último sábado (4). De férias, Arthur planejava participar de visitações nos centros de patologia da University of California (UCLA), mas elas foram canceladas devido aos incêndios.

— Logo na terça-feira pela manhã, a previsão já dizia que tinha 1% de chance de ocorrer um vento que poderia causar incêndios, um vento especial em atrito com as florestas. Mas a gente, como turista, não ficou tão preocupado — diz o médico.

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A falta de umidade provocada pelos ventos de Santa Ana, referidos por Arthur, deixa a vegetação extremamente seca, o que a torna suscetível ao fogo. As altas velocidades do vento podem transformar uma fagulha em um incêndio que se alastra rapidamente. É o que acontece em Los Angeles neste momento.

Alguns dos professores da universidade cancelaram as aulas para desocupar as próprias casas, que entravam em zona de risco.

— Quando a gente chegou, a gente até passou por Santa Mônica e por todas aquelas regiões que foram fortemente atingidas. É um contraste bizarro do que a gente viu e de como está lá agora — conta.

Como Paula, esposa de Arthur, está grávida, os dois começaram a analisar se ela abandonaria o curso, que acontece durante o mês de janeiro.

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— Minhas férias acabam e eu volto. Ela ficaria, mas talvez retorne comigo. Neste fim de semana, a gente vai para outra cidade, provavelmente para as montanhas, e refletir, sair um pouco dessa poluição e ver como vai ficar a fumaça — diz.

Mesmo estando em um bairro não afetado, Arthur diz que é possível perceber a fumaça, seja visualmente, seja pelo cheiro que está sempre presente.

Vista da universidade (CSUN) do fogo na tarde desta quinta-feira (9) (Foto: Arquivo Pessoal)

— Os olhos estão sempre lacrimejando, faz dois dias que estamos assim. A boca está muito ressecada, de rachar os lábios, e estamos com muita tosse e espirro. Hoje, eu passei a manhã procurando máscaras, que já estavam em falta nas principais farmácias. Consegui achar na última pelo menos duas N95 para proteger um pouco melhor, mas não tem muito além disso — afirma.

Segundo Arthur, o clima em Los Angeles já é seco nesta época do ano, então ao assoar o nariz, por exemplo, eles sentem estrias de sangue. Após a fumaça do incêndio, isso acentuou, junto a garganta seca.

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— Ontem, foi bem crítico, um dia um pouco tenso. Alguns alunos que estavam em outros locais iam sendo liberados, porque tinham que ir para a casa deles retirar as coisas. E aí tem um abrigo e os professores já mostram as rotas de fugas possíveis — conta.

O fogo que se alastra em Los Angeles “pulou” as grandes vias, e isso era inimaginável, segundo Arthur.

— Por isso estava todo mundo preocupado. Ele [o fogo] nunca tinha pulado essas faixas de rodovia muito grandes, e dessa vez o vento forte fez ele passar. Na rua, quase todas as pessoas usam máscaras. Não está muito gostoso respirar aqui não — finaliza.

“Tempestade de fogo”

Durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, chamou de “tempestade de fogo perfeita” os incêndios que afetam a cidade nos últimos dias.

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— Continuamos a enfrentar uma grande tempestade de fogo, causada por ventos poderosos e uma seca intensa. Essa junção de fatores criou uma tempestade perfeita e histórica. Estive na linha de frente dos incêndios, e é possível ver o quão é destrutivo esse fogo impulsionado pelos ventos — afirmou Bass.

Todos os moradores da cidade permanecem sob alerta vermelho e sob aviso de eventos extremos devido ao comportamento do fogo, conforme o chefe do Corpo de Bombeiros de Los Angeles, Kristin Crowley.

Alguns dos lugares atingidos pelos incêndios “parecem que foram atingidos por uma bomba”, disse Robert Luna, chefe de polícia da cidade.

Até o início da tarde desta quinta-feira, a maioria dos incêndios permaneciam sem controle. Os bombeiros enfrentam várias dificuldades no combate, entre elas a falta de água.

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*Com informações de g1

**Sob supervisão de Andréa da Luz

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