A advogada Lucélia Flores, de 35 anos, encontrou na superação diária o combustível para recomeçar. Moradora de Chapecó, no Oeste catarinense, ela teve a vida transformada em novembro de 2023, quando foi diagnosticada com neuromielite óptica (NMO) — uma doença autoimune inflamatória que afeta o nervo óptico e a medula espinhal. O diagnóstico veio após os primeiros sintomas surgirem justamente durante uma de suas aulas de crossfit.

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— Eu comecei a perder a sensibilidade da perna. Já vinha há alguns dias com alguns sinais oculares, não estava conseguindo dirigir à noite, mas eu achei que fosse algo normal. Em questão de dois ou três dias eu perdi toda a mobilidade — relembra Lucélia.

A inflamação atingiu a medula espinhal entre as vértebras T6 e T12, provocando a perda dos movimentos das pernas e deixando-a paraplégica. Mas, mesmo diante da brusca mudança de realidade, Lucélia se recusou a parar. Apenas dois meses depois, em janeiro de 2024, ela tomou uma decisão corajosa, voltando aos treinos, agora adaptados à sua nova condição.

O reencontro com o esporte foi marcante — tanto para ela quanto para o educador físico Jeferson Luiz Sangalli, responsável por estruturar os treinos adaptados.

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— O desafio é gigantesco, porque a cada dia ela tem uma evolução muito grande, a cada dia ela traz um desafio, ela tem novas metas, projetos. Então, os treinos são desenvolvidos três vezes por semana, basicamente voltados em condicionamento de melhora de força, pois a independência física dela está diretamente relacionada à capacidade de força que ela tem nos braços — explica Jeferson.

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A proposta não era apenas voltar ao esporte, mas recuperar a autonomia e a qualidade de vida. E volta à academia, que poderia ser carregada de insegurança e dor, surpreendeu Lucélia com um sentimento completamente oposto: o acolhimento.

— No dia que eu voltei, achei que a sensação seria de tristeza, mas foi de alegria. As pessoas me receberam bem, elas estavam querendo que eu voltasse, não viram diferença. Tem coisas que são mais difíceis para mim, mas cada coisa que é difícil na vida é um desafio novo e uma oportunidade de vencer. Sinto que seja uma oportunidade para eu mostrar que tudo é possível — afirma.

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Atualmente, os treinos de crossfit adaptado são combinados com atividades nos aparelhos da academia, em uma rotina cuidadosamente planejada. Mais do que antes, os exercícios vão além da estética ou do condicionamento físico, eles são ferramentas para que ela possa retomar tarefas do cotidiano com mais independência.

— Isso serve para eu juntar um brinquedo no chão, passar pano na minha casa, pegar uma roupa no fundo do meu roupeiro, uma panela… e serve, principalmente, para fazer pipoca para a minha filha. O único objetivo para mim era conseguir fazer uma pipoca, porque eu não conseguia, a Maria tinha que mexer a panela; então, quando eu consegui fazer isso eu falei para o Jefe que aquilo foi um ‘você vai conseguir fazer o que você quiser’ — conta Lucélia.

Novos desafios e um motivo a mais para seguir adiante

Mas o espírito competitivo e a sede por superação não pararam na academia. Lucélia também passou a integrar a equipe de handebol adaptado Falcões do Oeste e, agora, treina para competir em provas de halterofilismo e participar de competições de supino. A cadeira de rodas não foi um obstáculo, mas sim uma nova perspectiva de vida.

— Estão sendo abertas portas e janelas que eu nunca imaginei. A gente tem que entender que todos somos capazes, indiferente da limitação. Todo mundo tem limitação, talvez a minha seja mais vista pelas pessoas, mas isso não quer dizer que eu vou colocar isso como limitação — diz Lucélia.

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No centro de tudo isso está a filha, Maria Vitória, de 5 anos – a âncora que mantém Lucélia firme mesmo nos momentos mais difíceis. É para ela que os esforços se voltam e é por ela que cada desafio vale a pena, conforme relata a mãe.

— Ela me ajuda quando estou lá no fundo. Um dia me disseram que para quem está no fundo, a única alternativa é subir. Então, é isso que eu faço: eu subo. E, lá em cima, ela está dizendo: ‘Sobe, mãe.’ — finaliza Lucélia.

*Com a colaboração de Francieli de Moraes e Nícolas Finger, da NSC TV de Chapecó.

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