No vídeo mencionado “1 TREINADOR VS 30 GORDOS I FT. GUTO GALAMBA” tem causado polêmica ao longo da última semana. Um conteúdo que provavelmente visa chocar e atrair atenção imediatista e já partindo daí, surge uma polêmica latente: sobrepeso como doença ou como estereótipo de preconceito.

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A escolha do termo “gordos” no título do vídeo, tem conotação pejorativa e reforça estereótipos capazes de gerar desconforto, estigmatizar e desumanizar as pessoas relacionadas ao assunto.

Esse tipo de abordagem muitas vezes reforça o preconceito que existe em torno da obesidade, sendo esse, um tema que transcende a aparência e toca na autoestima. Sem deixar der mencionar no acesso a cuidados adequados e no respeito primordial que toda pessoa merece. 

Isso pode ser ainda mais agravado quando o tema é tratado com tom agressivo ou de forma sensacionalista, transformando a condição em algo moralmente julgável, como uma “falha de caráter”, em vez de um fenômeno complexo com inúmeros desdobramentos.  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a obesidade uma doença crônica não transmissível (DCNT). Isso significa que, embora não se espalhe de pessoa para pessoa como um vírus, é consequência de uma combinação multifatorial abordando genética, estilo de vida, ambiente, alimentação e fatores socioeconômicos. 

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Reconhecer a obesidade como doença não transmissível não diminui a responsabilidade individual, mas amplia a compreensão de que essa é uma condição que exige políticas públicas, tratamentos adequados, suporte emocional e científico. O que vai muito além da simples moralização ou da culpabilização do indivíduo.

O preconceito contra pessoas com obesidade, chamado de gordofobia, tem efeitos reais e devastadores. Ele produz exclusão social, discriminação dentro do sistema de saúde e dificuldades no trabalho, além de impactos psicológicos como: ansiedade, depressão e ciclo vicioso de alimentação emocional.

 Já a negação da obesidade como condição médica, focalizando-a apenas como questão estética, somente adia a busca por tratamento efetivo. É fundamental lembrar que saúde não se resume ao peso ou ao domínio sobre o próprio corpo em termos de aparência. 

É um conjunto que envolve alimentação adequada, sono, atividade física, manejo de estresse e apoio psicológico. Assim como quando necessário tratamento médico e multidisciplinar. O tratamento comportamental, por sua vez, desempenha papel essencial pois mudar hábitos exige acolhimento, autoconhecimento, estratégias sustentáveis e apoio profissional.

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Saúde de verdade não se mede apenas em balança e está na capacidade de viver com energia, autonomia, satisfação e com menos dor, seja ela física ou emocional. É importante termos em vista que somente exames bioquímicos dentro dos marcadores de referência não categorizam uma saúde bem estabilizada, uma vez que o quadro de obesidade pode engatilhar outros processos subclínicos como pré ou diabetes, alterações no colesterol, hormonais, e até mesmo, questões psíquicas.  

Saúde de verdade é aquela que é construída com empatia, conhecimento e políticas públicas que garantam acesso ao tratamento nutricional, psicológico e médico de qualidade. Que avancemos no reconhecimento da obesidade como doença não transmissível, sem estigmas, abraçando cada pessoa com compaixão e acolhimento. Que cuidemos da saúde de forma inclusiva, sustentável e profundamente humana.

  • Duda Costa é nutricionista e escreve sobre performance esportiva