A decisão do ponto em que começa a vida é tema do mais polêmico julgamento da história do Supremo Tribunal Federal (STF), que acontece nesta quarta-feira, em Brasília (DF).
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Mural: você concorda com a realização de pesquisas utilizando células de embriões humanos?
Apesar de ser a última instância, a sentença sobre a liberação ou não do uso de embriões em pesquisas não deve pôr fim à discussão que divide cientistas e religiosos do país.
De um lado, especialistas como o professor catarinense Marcel Frajblat, coordenador do Laboratório de Biotecnologia da Reprodução da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), que consideram o uso das células-tronco essenciais para a evolução da medicina.
De outro, religiosos como o padre católico Márcio Batel, que defende que a vida humana inicia-se a partir da junção dos gametas masculino e feminino, no ato sexual e assim, deve prevalecer a defesa à vida prevista na Constituição Nacional.
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– A discussão que está sendo feita em Brasília é sobre quando inicia-se a vida. Mas o foco não deveria ser exatamente o momento da vida, mas sobre se nós podemos utilizar estes pré-embriões, que são estruturas com 50, 60 células, vísiveis apenas ao microscópio, para a pesquisa científica e o desenvolvimento de tecnologias que possam auxiliar o homem no futuro – argumenta Frablat.
Para ele, embriões descartados pelas clínicas de fertilização artificial espalhadas pelo país poderiam ser utilizados para pesquisa ao invés de serem inutilizados.
Frajblat ressalta que, se considerado o entendimento da vida a partir do conceito legal de morte-cerebral, deve-se aceitar o ponto de início da vida a partir da formação do sistema nervoso do embrião.
– A expectativa é que os ministros, como membros da Justiça, utilizem critérios não religiosos. Nosso problema é que cada juiz pode ser influenciado por suas crenças religiosas e nesse ponto a ciência e a religião têm uma série de conflitos – finaliza.
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Segundo o padre católico Márcio Batel, o uso dos embriões em pesquisas vai de encontro às leis religiosas. Para os cristãos, a vida começa a partir da junção dos gametas e, por isso, a prática considerada pecado.
– Moralmente sempre (a Igreja) tivemos esta prática. A vida deve brotar da família, da unidade dos noivos e não do laboratório – explica Batel. Ele lembra que a Igreja católica é historicamente contrária às iniciativas enlvolvendo a manipulação da vida, inclusive no que diz respeito à fecundação artificial.
A opinião é compartilhada pelo presidente da Federação Espírita Catarinense, Olenir Teixeira, que acredita que a vida inicia na concepção. Entretanto não há unanimidade entre as religiões.
A utilização de embriões com fins científicos é vista como uma alternativa viável pelo Bispo Flori, da Igreja Evangélica Palavra Viva.
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– A célula-tronco tem um fim para a vida, não para a morte. É para a recuperação de pessoas que não teriam outra oportunidade – entende Flori. Para ele, ciência e fé não são incompatíveis.