A uva Goethe, cujo nome, tudo indica, tenha sido uma homenagem ao filósofo alemão Wolfgang Goethe, é uma variedade branca, híbrida, criada nos Estados Unidos pelo horticultor Edward Stanford Rogers em meados do século XIX. De aroma e sabor adocicado, característicos do grupo moscatel, firmou-se como o cultivar mais importante da vitivinicultura da região de Urussanga e Azambuja, no litoral sul catarinense — região já oficialmente denominada “Vales da Uva Goethe”.
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Foi a primeira IP (Indicação de Procedência) do Estado de Santa Catarina registrada no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), conquistada em 2012. Recentemente, obteve também a DO (Denominação de Origem), um reconhecimento que garante a tradição, autenticidade e qualidade dos vinhos produzidos com a uva — sendo o primeiro título do tipo concedido a vinhos catarinenses e o terceiro do Brasil.
As videiras europeias de uvas Vitis vinifera, trazidas pelos primeiros imigrantes que vieram para o Brasil, não se adaptaram às condições da região, de clima quente e com várias tipologias de solos, principalmente argilosos e arenosos. Optou-se, então, por variedades americanas e seus híbridos — ou seja, um cruzamento entre as europeias Moscato de Alexandria (originária do Egito), Moscato de Hamburgo e Schiava Grossa (originária da Itália), com as uvas americanas, notadamente a Isabella. Trata-se, portanto, de uma uva híbrida, com proporção de 87% de uvas Vitis vinifera europeias e 13% de uvas americanas.
Esse cruzamento mais resistente chegou a Urussanga trazido pelo agente consular italiano Giuseppe Caruso Mac Donald, em 1893, adaptando-se muito bem às condições naturais encontradas. Logo ficou conhecida como a uva tradicional da região, sendo plantada e utilizada na produção de vinhos por inúmeras famílias locais. Esse fato foi de extrema e fundamental importância para consolidar a fixação dos imigrantes naquela região, uma vez que unia essa essencial manifestação de sua cultura — a produção do vinho — às características deste novo mundo.
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A produção só aumentou com o tempo e chegou ao seu ápice durante as décadas de 1940 e 1950, permanecendo até o início dos anos 1960, quando a colheita de uvas ganhou um poderoso adversário: a extração de carvão mineral na mesma região. Essa atividade levou os trabalhadores do campo para a mineração, fazendo com que os vinhedos fossem abandonados.
Porém, o resgate da uva Goethe foi feito justamente pelos descendentes italianos que vivem no sul catarinense, resgatando essa tradição tão importante e significativa para seus ascendentes — que chegaram ao novo mundo fugindo das guerras, trazendo na pequena bagagem cepas de uvas, muita esperança e o sonho de uma vida mais próspera e feliz.
Os Vales da Uva Goethe possuem uma condição climática única, por sua localização estratégica entre a Serra do Rio do Rastro e o litoral catarinense — condição que garante uma tipicidade característica aos vinhos. Com temperaturas que variam de -4°C a 40°C, a região produz uma uva robusta e resistente, com sabor cítrico e frutado, passando um toque mineral aos seus vinhos. As uvas Goethe são diariamente submetidas a grandes variações de temperatura, proporcionadas pelas diferentes topografias da região: durante o dia, a influência dos ventos quentes que sobem a serra; à noite, o ar frio que desce da montanha, esfriando rapidamente o planalto e deslocando-se em direção aos Vales da Uva Goethe.
Os vinhos produzidos com essa uva possuem aromas de intenso frescor e jovialidade, remetendo a frutas brancas e amarelas, como abacaxi, pêssego, umbu e cupuaçu, além de flores brancas e mel. Produzem vinhos delicados, com paladar macio e acidez equilibrada.
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O município de Urussanga é conhecido como a capital da Uva Goethe, onde os vinhos e espumantes produzidos localmente encontram o sabor da gastronomia típica italiana, atraindo turistas durante todo o ano. Dos 55 hectares de uvas Goethe plantados no mundo, 55 concentram-se em Santa Catarina. De pequena produção, a uva Goethe e seu vinho são uma importante alternativa econômica para a região, sendo os primeiros produtos com IG (Indicação Geográfica) de Santa Catarina — o que preserva sua história e tradição como seu maior valor, que precisa e deve ser preservado.
Saúde!
Néa Silveira
@neasommeliere












