Anísio José Ferreira tem 41 anos de saúde pública. Trabalhou no Hospital de Caridade e se aposentou pelo Hospital Universitário, mas há 10 anos é vacinador no Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Cries), anexo ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis.
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Os Cries servem para uma parcela da população que, por algum motivo, não pode utilizar as vacinas disponibilizadas na rede pública de atendimento. Entre os usuários se encontram bebês prematuros, crianças com doença pulmonar ou cardíaca grave, pessoas com HIV, transplantados, pacientes em uso de hemodiálise.
Para Anísio, trabalhar com saúde pública é uma espécie de missão que exige, acima de tudo comprometimento. Graças a trabalhos como o dele é que Santa Catarina se coloca como um dos Estados com melhor cobertura vacinal. A resposta positiva da população é resultado da crença de que a vacina é instrumento eficaz para garantir saúde. Mesmo em situações mais adversas, quando se tratam de imunobiológicos especiais.
– Eu não sei o que seria da minha vida se não fosse trabalhar com saúde pública. Sinto-me gratificado quando uma pessoa sai daqui, quase sempre os pais, depois de agradecer pela imunização de um filho por saber que está protegido – conta Anísio.
O vacinador defende que trabalhar com a saúde das pessoas já é algo precioso. Mais ainda pela possibilidade de atuar na prevenção das doenças. No caso do Cries, um trabalho delicado. Especialmente quando se trata de um prematuro ou criança hospitalizada que já se encontra debilitada.
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– É mais complicado que numa sala de vacina normal, pois alguns desses pequenos pacientes estão desidratados ou caquéticos até, como já aconteceu. Usamos agulha especial e a fincada é na coxa por ter mais massa muscular. Muitos detalhes precisam ser observados para que tudo corra bem na imunização – explica.

Com o tempo trabalhando na área da saúde, o coração tende a endurecer. Mas o tal coração de pedra não tem muito espaço no peito do servidor. Principalmente, quando se trata de criança.
– A gente aplica a vacina e ela chora. Em seguida dá uma bala e ela sorri. É muita inocência, e isso mexe com a gente – conta.

Anísio diz que, apesar dos anos, toda a vez que ocorre uma situação parecida ainda se emociona.
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– O pai manda o filho dar um tchau, um beijo e a criança dá. É diferente do adulto, que a gente imuniza, diz obrigado, pronto, e irei embora.
Quando jovem, Anísio chegou a cursar a faculdade de Enfermagem, mas por problemas financeiros não se formou. Ficou com o curso técnico. Casado e pai de dois rapazes, não conseguiu atraí-los para o campo da saúde: um não podia ver sangue, o outro queria ganhar mais dinheiro, brinca Anísio. Morador no Bairro Aririú, em Palhoça, lembra dos tempos em que atravessava de moto a Ponte Hercílio Luz.
– Se passasse um carro por mim na BR era muito – recorda.

Quando se para a pensar, Anísio se descobre em uma região que mudou muito nas últimas décadas. Não apenas na mobilidade, mas no número de moradores e serviços à população. Inclusive na área da saúde, onde reconhece as conquistas da imunização. O que não muda é a visão comprometida dele enquanto servidor público.
– Toda vez que um pai vai embora com seu filho imunizado, eu me sinto um homem feliz.

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