Certa vez durante treinamento para vacinadoras que iniciavam na atividade, a técnica de enfermagem Eliane Nienkoetter Leising ouviu algo que aplica nos quase 25 anos de trabalho:
Continua depois da publicidade
– Toda vez que uma mãe chega com uma criança para ser imunizada, ela está pondo em suas mãos o que de mais valioso possui.
Vacinadora em São Bonifácio, a 81 quilômetros de Florianópolis, Eliane tem 27 anos na saúde pública e 25 em sala de vacina. Zelosa pelo que faz, explica que não se deixa descuidar em função de tantos anos de experiência. Não importa se já vacinou praticamente toda a população do município, estimada em 3 mil.
– Tomo muito cuidado na hora da vacinação. Não pode ser uma coisa mecânica. Converso, olho com atenção cada coisa, leio cuidadosamente para ter certeza do que estou fazendo – explica.
Eliane vem de um tempo em que o serviço de imunização precisava mais de pernas e braços do que hoje. Na época, a escola era uma grande parceira. Sem TV e as atuais redes sociais, a notícia tinha que chegar a todos os cantos. Os bilhetes escritos pelas professoras avisando para que tal dia as crianças estivessem prontas para tomar a vacina era eficaz.
Continua depois da publicidade
– A gente chegava aos lugares e estavam todos lá. Às vezes, com pezinhos descalços e com roupas surradas. Mas prontos para serem imunizados – recorda.
A resposta positiva dos moradores do interior foi uma coisa que Eliane sempre observou: mais distantes do centro, as famílias destas comunidades aproveitavam a presença dos vacinadores. Além dos colégios, postos eram improvisados em lugares como mercados, rodoviárias, clubes. Era quase um dia de festa. Tecnicamente, nem todo mundo podia vacinar. Mas as pessoas se somavam na organização.
Desde sempre a vacinação é vista pelos catarinenses como uma ação de relevância. Para que esse olhar não seja desviado, profissionais da saúde como Eliane estão atentos: o programa de imunização é muito importante. Mas não se pode relaxar, já que as doenças não estão totalmente erradicadas. Algumas doenças estão controladas, mas isso por causa da vacina. Se deixar de vacinar, irão voltar como já ocorre com o sarampo.
– Temos no município um rapaz de 24 anos com todas as síndromes da rubéola congênita. Depois dele, nunca mais tivemos uma criança com isso. Resultado da vacina.
Continua depois da publicidade

Cadernos sobre a mesa fazem parte da memória da imunização em São Bonifácio. Época em que o sistema ainda não era informatizado pelo Ministério da Saúde. É um censo da população vacinada nas últimas décadas. As páginas escritas à mão lembram letra de professor, com caneta em vermelho e azul, com registros do nome do paciente, datas, endereço.
Para Eliane, é muito compensador fazer uma campanha, correr atrás, atingir as metas propostas.
– Quando a pessoa não pode vir por estar acamada, como muitas vezes ocorre com idosos, a gente vai até o domicílio. A pessoa se sente querida e demonstra ter gostado da nossa presença, o que muitas vezes funciona como uma visita.

Nessas andanças, Eliane percebe o quanto o sistema de imunização se modificou. Para melhor, na opinião dela também para melhor. Além de maior número e da qualidade nas vacinas, os técnicos recebem mais treinamento e reciclagem. A estrutura das salas foi aperfeiçoada. Hoje existem câmaras frias que mantêm as vacinas em temperatura adequada e muitas com gerador próprio. Antes havia muita queda de energia e dependendo das horas era preciso descartar as doses. Além da perda de dinheiro, havia um tempo para o estoque ser refeito.
A aposentadoria está batendo na porta. E como fica?
– Eu já pensei nisso. Mas acho que não vou conseguir ficar fora da unidade, desse contato com as pessoas – deduz Eliane.
Continua depois da publicidade
Leia também:
Destaque no país, SC conta com trabalho de vacinadores para ser referência