Esse texto não é sobre novelas. Pelo contrário, pesquisas apontam o hábito do consumo do entretenimento como saudável. Ajuda a desviar a atenção das tensões e problemas diários, serve como pausa mental importante e estimula conexões e a criatividade.
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Esse texto é sobre valores, crenças, normas compartilhadas por uma sociedade que orientam o comportamento e a atitude dos cidadãos promovendo uma coesão social. São concepções coletivas que definem o que pode ser considerado importante e aceitável, servem para equilibrar interesses individuais e coletivos, ajudam a manter a ordem e o senso de comunidade.
Como uma não especialista em novelas, arrisco apontar que desde o final de Avenida Brasil, em 2012, que o Brasil não se envolvia tanto em uma trama de teledramaturgia. E desta vez, é um remake de 1988 que faz o público trazer para a pauta do dia os personagens e as problemáticas, não apenas a morte de Odete Roitman. Tem mais, mas elenco três principais que foram emblemáticos na trama.
Empoderamento feminino
Uma mulher no comando de uma multinacional. O empoderamento feminino é pauta confirmada em 2025. Chegou na novela sedento e dando voz a mulheres executivas execradas pelo preconceito, por salários menores com mesmos cargos, morosidade nas promoções e baixa representatividade no alto clero das empresas.
Vivemos dias de tanta necessidade de dar voz ao tema que até uma personagem racista, assassina e desumana nos representa. Foram tantas frases empoderadas, que chegamos a suspirar com a morte de Odete Roitman (Debora Bloch), torcendo para que ela realmente esteja viva na trama e deixe o capítulo final fazendo a famigerada “banana” para o Brasil.
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O outro exemplo da liberdade feminina exposto no remake de Vale Tudo é o primeiro orgasmo da personagem Leila (Carolina Dieckmmann). Sim, muitas mulheres terminam a vida tendo relações sexuais pensando apenas no prazer do parceiro. Educação sexual é prevenção, é saúde, é libertação, é aceitação. Derrubem-se as amarras do tabu quando o assunto é sexo.
E não tem como não falar da Consuêlo (Belize Pombal). Uma profissional dedicada, negra, que teve o merecido reconhecimento com 470% de aumento. A cena dela na sala nova é de levar às lágrimas qualquer pessoa com o mínimo de empatia. Porém, infelizmente a igualdade racial e de gênero ainda é um sonho.
Rouba, mas faz
A honestidade deixou de ser uma condição sine qua non. Marco Aurélio é o típico rouba, mas faz. E temos esses personagens na nossa vida real. São políticos, executivos, líderes, chefes de Estados poderosos que têm a pena “perdoada” pelo crédito comum porque usam meios questionáveis para justificar um fim que faz bem a todos.
Responsável pelo crescimento da TCA, conquistou o público com o talento incomparável de Alexandre Nero, mas deixamos passar o debate sobre corrupção, práticas ilícitas, suborno, chantagem, propina. Não nos chocamos mais com o mau caratismo. Virou comum.
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Toxidade corporativa
Relações saudáveis são o sonho e o objetivo de qualquer trabalhador. O tema veio à tona com Aldeíde (Karine Telles) e seu dress code monocromático, que foi alvo de humilhações e piadas por parte do gestor. Hoje isso é crime: assédio moral, passível de multa. Levando em conta todos os malefícios que faz para a saúde mental de qualquer pessoa, a pena poderia ser até maior.
Vale Tudo é a mostra de que o entretenimento não é só fantasia ou diversão. Entretenimento é a trend da vida real. E o roteiro adaptado por Manuela Dias foi fiel ao que a sociedade precisa e vem discutindo neste processo de amadurecimento. Não somos mais primatas. É urgente avançarmos para uma sociedade futurística, que valoriza as soft skills e que será cada vez mais longeva.

Resumo de Vale Tudo: o que acontece no último capítulo nesta sexta-feira (17)
