O tarifaço confirmado na quarta-feira (30) pelo governo dos Estados Unidos sobre as importações brasileiras pode afetar os preços de produtos como carne bovina, café e tilápia dentro do Brasil. Os itens ficaram de fora da lista de exceções e serão taxados em 50%, conforme o decreto.
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A tarifa deve afetar o mercado interno brasileiro de forma indireta. Segundo economistas, se os compradores americanos não quiserem pagar a mais pelos alimentos brasileiros, uma queda nas vendas para os EUA poderia afetar os produtores. Por consequência, o tarifaço reforçaria tendências já em andamento nos preços desses alimentos do Brasil.
Carne
Economistas e especialistas ouvidos pelo g1 apontam efeitos na carne, café e tilápia. Os EUA são o segundo maior comprador de carne brasileira, atrás apenas da China. Se as exportações para o mercado americano caírem, parte da produção pode ser direcionada a outros países, como Egito, ou ao mercado interno.
No curto prazo, o preço da carne pode até recuar, pressionado pela menor demanda externa e pela queda no custo da ração. Contudo, analistas projetam alta futura devido à redução no abate de animais, movimento já em curso no setor.
— Aqui nós vamos ver o boi cair e, lá na frente, ver a carne subir mais ainda — resume Cesar de Castro Alves, gerente de Consultoria Agro do Itaú BBA.
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Café
Em relação ao café, os preços não devem ser afetados em um primeiro momento. O setor acredita que as vendas aos EUA não devem ser paralisadas e, assim, não vai ter uma oferta maior de café no Brasil.
A curto prazo, os preços internos seguem em tendência de queda, influenciados pela safra robusta. Já no médio e longo prazos, a incógnita é a duração da tarifa. Se permanecer, os EUA podem buscar outros fornecedores, enquanto o Brasil precisará realocar suas vendas – o que pode gerar oscilações de preço.
Os especialistas lembram, também, que a colheita do café acontece só uma vez por ano, o que atrasa qualquer impacto no preço para o consumidor.
— Esses movimentos não acontecem da noite para o dia — diz Fernando Maximiliano, analista da StoneX.
Tilápia
Já em relação à tilápia, com os EUA respondendo por 90% das exportações, a tarifa de 50% deve forçar o redirecionamento da produção para o consumo doméstico, aumentando a oferta e pressionando os preços para baixo.
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No entanto, a absorção desse volume extra pelo mercado interno não é simples.
— O mercado interno já é abastecido com uma produção muito grande, e colocar o que era destinado à exportação nele faria o preço ficar ‘inexequível’, quebrando a cadeia produtiva — alerta Eduardo Lobo, da Abipesca. A médio prazo, uma eventual retração na produção poderia, paradoxalmente, levar a novos aumentos.
Como afeta Santa Catarina?
O impacto da tarifa sobre a indústria em Santa Catarina ainda está sendo avaliado pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). Entre os 20 produtos catarinenses mais exportados, há poucos alimentos: a carne suína, gelatina e suco de frutas. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), o estado exporta pouco para o mercado americano.
Também não há uma definição, por enquanto, sobre como tarifaço irá afetar os preços no supermercado.
— A medida de Trump acabou de ser assinada, a gente não tem como avaliar um impacto direto no preço dos alimentos no mercado interno nesse momento — diz Crystiane Leandro Peres, supervisora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina.
*Com informações do g1.
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