O temporal que atingiu a cidade de Camboriú no último domingo (29) destruiu uma estufa com plantação de maconha e abalou a esperança de uma melhor qualidade de vida de Ana Paula Brandão, que usa a planta para tratamento de uma doença rara. Com a força do vento, não sobrou nada da estrutura construída pelo marido dela para o cultivo da maconha — através do extrato bruto, a planta oferece a única medicação que alivia as dores constantes de Ana.

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Com um prejuízo estimado em R$ 15 mil, o objetivo do casal é, agora, encontrar maneiras para reconstruir o espaço. No entanto, Ana não possui renda para arrecadar os materiais necessários, enquanto o marido também não está empregado por se dedicar à casa e ao tratamento da esposa.

— Quando a gente viu cair [a estufa], desmoronamos juntos. Foi uma luta muito grande para conseguir fazer essa estrutura, meu marido construiu com todo o carinho do mundo. Então, é muito triste ver isso acontecer. Ali estava a minha vida — desabafa.

O tratamento

Por conta de um tumor conhecido como Cisto de Tarlov, que fica ao lado da medula, Ana conseguiu uma autorização judicial em janeiro de 2022 para o cultivo da cannabis, já que a maconha auxilia no tratamento da doença, que causa fortes dores. A partir disso, ela e o marido começaram uma produção pequena em casa, mas perceberam que não era o suficiente. Com oito plantas, era possível adquirir apenas 22 milímetros de medicação, quantia que não durava nem meio mês.

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Nesse momento, o marido de Ana, Eduardo Jack, decidiu construir uma estufa para manter a plantação. Com o medicamento produzido por eles mesmos, não demorou para ela notar a evolução no tratamento. Ao tomar seis gotas do extrato bruto três vezes ao dia, Ana já consegue caminhar e descreve os efeitos obtidos como um “milagre”.

— O resultado da primeira extração foi excelente. Eu caminhei, preparei o meu café, coisas que eu não fazia há muito tempo — conta.

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No entanto, sem a estufa, ela não tem acesso à medicação e também não possui condições financeiras para comprar a substância. É por isso que Ana precisa reerguer a estrutura o quanto antes para retomar o tratamento que alivia as dores.

— As plantas que o meu marido conseguiu salvar estão na rua e estamos desesperados porque vamos perder elas também se não conseguirmos abrigá-las — ressalta ela.

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Ana Paula na estufa construída pelo marido (Foto: Arquivo pessoal)

Sobre a doença

Ana descobriu o tumor em 2014. A doença faz com que todos os nervos do corpo repuxem simultaneamente, causando dor e impossibilitando que ela fique em pé ou sentada. Foi só depois de sete anos e inúmeros tratamentos que Ana, os médicos e o marido descobriram que o óleo de canabidiol, derivado da maconha, é o único medicamento que proporciona alívio.

Em 2020, o casal conseguiu liberação da Anvisa para fazer o uso da substância e exportá-la da Inglaterra, porém, o preço dos frascos não era acessível. A partir disso, criaram uma campanha, na época, para arrecadar dinheiro e conseguir o medicamento.

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Com a produção da cannabis na própria casa, Ana, aos 43 anos, obtém, com fácil acesso, o extrato bruto da planta, que é ainda mais eficaz do que o óleo usado em anos anteriores. Por isso, o tratamento é essencial para melhorar a qualidade de vida dela.

Como ajudar

Ana ressalta que qualquer tipo de ajuda é bem-vinda. Além da arrecadação de dinheiro através do Pix (47) 99150-1445, o casal também aceita doação de materiais para a reconstrução da estufa. Apenas a lona que foi destruída pelo temporal custa cerca de R$ 900 por se tratar de um material específico para jardinagem. Já o investimento para a madeira que ficava na parte superior da estrutura foi de aproximadamente R$ 3,5 mil.

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— A gente espera sempre que cada um dê um pouquinho do que pode, não precisa ser o dinheiro em si. Mas, infelizmente, isso é muito difícil de acontecer. Muita gente tem preconceito com o meu tratamento, mas ninguém sabe tudo o que eu já fiz nesses nove anos, nenhum tratamento foi eficaz, só o extrato de cannabis que me tirou da cama. Por isso que é tão importante para mim — finaliza Ana.

*Estagiária sob supervisão de Raphaela Suzin

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