Cachorros, gatos, lobos, pássaros. Latidos, miados e uivos. Nas redes sociais, eles voltaram a viralizar imitando sons e agindo como os mais diversos animais, domésticos ou até mesmo aqueles que já foram extintos. Estamos falando dos Therians, pessoas que se sentem ou acreditam que são, de fato, animais irracionais. Mais comum nos Estados Unidos, o movimento vem tomando força em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, há pelo menos dois anos.

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Nos vídeos e publicações, eles aparecem pulando obstáculos em posições de quatro apoios, utilizando os braços e as pernas, como se fossem animais quadrúpedes. Essa prática é chamada por eles de “quads“. Em uma das postagens, uma pessoa que se autointitula Therian dá “dicas para therians iniciantes”, com “lições básicas”:

  • Sempre que brigarem com você, se controle! Não rosne, e tente manter a calma;
  • Antes de treinar vocal, beba bastante água;
  • Dobre as mãos antes de fazer quads, isso faz com que suas mãos não fiquem machucadas!

A publicação chegou a ter mais de 4 milhões de visualizações, com 300 mil compartilhamentos e curtidas. O comportamento vem chamando a atenção não só de usuários nas redes sociais, mas também de profissionais da saúde, que tentam explicar o comportamento a partir da psicologia, por exemplo.

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A doutora em psicologia clínica Adriana Nunan conta que a crença de que essas pessoas são animais podem partir do sentido espiritual, psicológico ou até biológico, sempre com um animal específico.

— Às vezes as pessoas agem como esses animais e, às vezes, eles se vestem apenas como os animais. Em casos mais graves ou, digamos assim, empolgados, as pessoas fazem modificações corporais. Mexem na orelha, mexem nos dentes, mas isso é mais raro — explica.

Em uma rápida busca nas principais lojas de departamentos, foi possível encontrar fantasias em que cada peça, incluindo máscaras, caudas e munhequeiras, chegam a custar mais de R$ 100. A psicóloga diz que tem casos que podem ser chamados de modismo, mas outros que podem ser caracterizados como um transtorno psicológico.

Quando o caso vira transtorno psicológico

— Consideramos que é um transtorno quando esse comportamento entra em conflito com o dia a dia da pessoa, quando causa prejuízo para a vida pessoal, para a saúde, para o trabalho, para as relações, quando ele causa uma ruptura com a realidade. Tem que ser analisado caso a caso — destaca.

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Nunan explica que os transtornos mais associados aos Therians, são o transtorno de identidade, o transtorno dissociativo e a ruptura psicótica. Quanto menos a pessoa consegue viver em sociedade, mais grave é considerado o quadro.

No Brasil, não há dados específicos sobre a quantidade de Therians que existem no país. Em uma publicação, mais de três mil comentários brasileiros buscam formar grupos para se encontrarem fora da comunidade virtual, em suas respectivas unidades federativas. Pelo menos 40 comentários eram de pessoas que diziam ser de Santa Catarina.

Veja fotos dos Therians

Depois dos bebês reborns…

A psicóloga disse que, ser um Therian pode ser uma moda para algumas pessoas. Ela comparou o caso com o dos bebês reborns, bonecos super-realistas que vêm sendo usados, muitas vezes, como apoio emocional por quem os compra.

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— A questão é que a internet tem viralizado e dado palco a coisas que já existiam antes, mas que eram mais restritas a certos grupos de pessoas. Assim como, por exemplo, os bebês reborns, que algumas pessoas estão achando engraçadinho, que são bonecos que tem até alguma função na sociedade, mas é uma coisa que tem que ser vista com muita cautela — diz.

Para ela, existe uma questão de busca por identidade, de pertencimento a um grupo.

— Você encontrar um grupo que te acolha, com o qual você se identifique, independente do estilo de vida desse grupo, é importante para muitas pessoas, principalmente para pessoas jovens — explica.

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