A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decretada neste sábado por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, inaugura um novo capítulo de turbulência política no país e, talvez mais decisivamente, em Santa Catarina. Na prática, não é apenas um impacto nacional. A decisão tem refletos diretos no quadro eleitoral do Estado para 2026.

Continua depois da publicidade

É preciso lembrar que Bolsonaro arrastou duas grandes ondas políticas aqui. A de 2018, quando despontou e ajudou a eleger uma legião de desconhecidos, incluindo o ex-governador Carlos Moisés da Silva. Em 2022, mesmo após a derrota presidencial, manteve um poder simbólico e uma base sólida contribuindo diretamente para a eleição do governador Jorginho Mello (PL) e as maiores bancadas do PL na Alesc e na Câmara dos Deputados por SC. Essas ondas foram fundamentais para redesenhar alianças em território catarinense, alçando lideranças e grupos políticos.

Agora, com uma prisão preventiva, Bolsonaro se vê fisicamente afastado do tabuleiro. Com o principal nome da direita enfraquecido na prática, o comando do PL em SC, chefiado pelo governador Jorginho Mello, tende a ganhar mais autonomia. Sem a influência direta e presencial do ex-presidente, decisões que antes poderiam depender fortemente de sinalizações de Bolsonaro poderão ser tomadas com mais liberdade local. Isso é particularmente relevante num momento delicado: a disputa do Senado na chapa de reeleição do governador.

Bolsonaro indicou seu filho, Carlos Bolsonaro, como candidato ao Senado por Santa Catarina. Esse desdobramento já vinha mexendo com o cenário estadual, mobilizando ressentimentos e ambições locais. Sem a presença constante do pai, Carlos pode, por um lado, ganhar protagonismo nas negociações. Por outro, pode se deparar com resistências mais firmes de nomes regionais do PL, que até hoje ponderam sobre a vinda de um nome externo para concorrer.

Além disso, a ausência de Bolsonaro fisicamente presente no jogo reforça o surgimento de uma espécie de “Bolsonarismo 2.0” no cenário catarinense, ainda que calcado mais nos seus filhos e nos seus apoiadores ideológicos do que na liderança pessoal. É bem possível que os seguidores mais fieis sintam-se órfãos, o que abre espaço para que figuras locais (como Jorginho) assumam protagonismo maior, tanto para mediar o bolsonarismo remanescente quanto para negociar alianças amplas.

Continua depois da publicidade

Por outro lado, a prisão não necessariamente significa o fim da influência de Bolsonaro. Embora preso, seu nome continuará a ter força entre a base bolsonarista. Analistas nacionais já falam em um bolsonarismo que seguirá firma sem ele, e em novas lideranças emergindo desse movimento. Para Jorginho, esse pode ser um momento em que ele vai liderar o PL local sem estar à sombra permanente de Bolsonaro, definir a chapa ao Senado com mais liberdade estratégica, negociar alianças e consolidar sua liderança estadual.

Ao mesmo tempo, é uma missão de alto risco. Se ele for visto como se afastando demais do bolsonarismo puro, pode perder apoio de um segmento radical. Caso adote uma postura muito subalterna ao clã Bolsonaro (via Carlos ou outros filhos), pode alienar lideranças catarinenses que ambicionam maior protagonismo, algo que já repercute nas conversas sobre o Senado.

A prisão preventiva do ex-presidente não é apenas uma medida judicial, mas também gera um fato político com potencial de redistribuir poder no PL em Santa Catarina.