As tentativas de Florianópolis para atuar no complexo cenário das pessoas em situação de rua fracassaram. O vídeo que mostra policiais militares agredindo homens que dormiam sob uma marquise no Centro da capital é o retrato da derrota da cidade. Uma cidade onde, nos últimos quatro anos, houve quatro secretários diferentes de Assistência Social. Uma cidade onde as políticas de assistência social mudam conforme o perfil — ou agrado — de cada secretário. As imagens das agressões resumem o atual cenário, em que as pessoas em situação de rua se espalham por diferentes pontos e não há uma solução definitiva — nem mesmo algo que amenize o quadro.
Continua depois da publicidade
Clique aqui para receber as notícias do NSC Total pelo Canal do WhatsApp
Antes de se analisar qualquer aspecto do vídeo gravado na noite desta segunda-feira (12), é necessário partir de um ponto importante: o cenário atual das pessoas em situação de rua em Florianópolis é, sim, grave. O Centro da capital tornou-se um ponto de concentração, mas a realidade se espalhou por bairros e até por regiões mais distantes, como os bairros do Norte da Ilha. Apesar da complexidade do tema, ainda não houve ação efetiva capaz de reduzir o clima de preocupação da população.
Veja abaixo fotos da ação
Diante disso, quando a cidade se depara com imagens de policiais agredindo homens em situação de rua, é natural concluir pelo fracasso. Quando a violência se torna a escolha, é sinal de que tudo deu errado. Tudo o que foi feito antes ruiu, tamanha a gravidade das imagens registradas no Centro. Por mais que a Polícia Militar (PM-SC) seja um órgão desvinculado da prefeitura, não há como dissociar uma coisa da outra.
Tanto o município quanto a corporação são atores no enfrentamento do problema. Quando um deles recorre à violência — como fez o grupo de seis policiais militares —, fica evidente a ausência de soluções efetivas. E, assim, a violência toma conta. Mas, como se sabe, ela está longe de ser a verdadeira solução para um quadro tão alarmante.
Continua depois da publicidade
As pancadas desferidas pelos policiais nos moradores de rua não farão com que eles deixem de circular pelo Centro. É como se o problema tivesse sido empurrado para debaixo do tapete — uma medida que, infelizmente, ainda é aplaudida por uma parcela da população desconectada do contexto social. Para alguns, a violência parece ser a solução para os piores problemas, o que explica muito sobre o caminho atual do país.
Para piorar, a nota oficial da Prefeitura de Florianópolis sobre o episódio é mais um retrato do fracasso. Disse o município, em um trecho: “É importante destacar também que, cada vez mais, nas ações diárias da Prefeitura, os agentes encontram pessoas em situação de rua portando armas, facas e, principalmente, fazendo uso de drogas, comprovando que essa população que chega na cidade está mais agressiva. Recentemente, provocaram incêndios em vias públicas.” Ou seja, para a prefeitura, a violência está justificada — mesmo que, no caso concreto, não haja qualquer indício de agressividade por parte das pessoas em situação de rua.
O episódio desta segunda-feira deveria ser um divisor de águas: um reconhecimento do fracasso da cidade e o início da mobilização de todos os envolvidos, agora com protagonismo maior da PM-SC, na busca por uma resolução efetiva. Mas, pela conduta inicial da prefeitura, não é isso que se desenha. O que se anuncia é a repetição de erros, com as redes sociais servindo de palco para um espetáculo de vídeos sobre um tema tão complexo.






