Nick Cave tem 67 anos; Ney Matogrosso, 83; e Gilberto Gil chegará também, no próximo dia 26, aos 83 anos. O que esses três caras têm em comum, além do talento e da extraordinária criatividade para compor, cantar, alegrar e emocionar seus fãs com o poder da música? A resposta pode estar na coragem, na resistência, na força a eles concedida pela arte.
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O australiano Nick Cave perdeu, no espaço de sete anos, dois filhos. Ele viveu o luto plenamente. Com sua banda (Bad Seeds) e o seu principal parceiro (Warren Ellis), fez quatro discos bonitos e tristíssimos, até chegar à redenção com “Wild God” (o mesmo nome da turnê que acaba de correr a Europa e os Estados Unidos).
Em sua crítica, o jornal britânico “The Guardian” afirmou: “Esta obra-prima fará você se apaixonar pela vida novamente. Contemplando morte e sofrimento, Nick Cave encontra euforia apesar de tudo, num álbum de alegria contagiante e melodia emocionante”. Com performances virtuosas e muita poesia, Cave divide, corajosa e abertamente, suas dores com o público.
Já Ney Matogrosso roda o Brasil há cinco anos com o show “Bloco na Rua”. Para dizer o óbvio, Ney é a demonstração extrema do vigor da natureza desde o começo da carreira, passando pelos Secos & Molhados, até os dias de hoje, com a sempre inacreditável performance física. “Ele é praticamente uma bandeira contra o etarismo. O corpo é um instrumento de atuação. Falar que ele canta com o corpo não é uma frase de efeito”, escreveu o crítico da “Folha de S. Paulo”.
Tenho uma história com Ney. No começo de minha carreira como repórter, anos 80 do século passado, fui designado para entrevistá-lo no Rio de Janeiro. Cheguei atrasado ao local. Ney esperava em seu apartamento, chateado com meu imperdoável descuido. Sem sequer usar uma palavra, mostrou o descontentamento com honestidade nos olhos. E com total generosidade, conversou longa e lindamente com aquele jovem jornalista que era puro nervosismo.
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(Em tempo: se você quiser conhecer mais sobre a trajetória deste gênio, corra ao cinema para ver “Homem com H” — cinebiografia de Ney, brilhantemente interpretado por Jesuíta Barbosa.)
E o que falar de Gilberto Gil? Com sua voz encantadora e o sempre doce discurso, o baiano faz sua última temporada de shows pelo Brasil, com “Tempo Rei”. No palco, filhos, netos, nora, uma família de músicos talentosos. Nas plateias, a emoção de várias gerações — avós e avôs, mães e pais, filhas e filhos, netas e netos. Todos dançam, choram, se abraçam e vibram com este herói da música brasileira.
O tempo é mesmo rei. Gil só melhora. Ele promove um grande bailão. Desfila a elegância e a lindeza de suas músicas, em quase três horas: “Palco”, “Procissão”, “Domingo no Parque”, “Refazenda”, “Refavela”. “Extra”, “A Novidade”, “Realce”, “Punk da Periferia”, “Se Eu Quiser Falar com Deus”, “Drão”, Esotérico”, “Expresso 2222”, “Andar com Fé”, “Aquele Abraço”. Está bom ou querem mais? Como escreveu outro crítico, “É o Gil da música, da poesia e das discussões sobre física, política, macrobiótica, ioga. É o Gil que todos conhecem dando seu adeus”.
Neste ano vi shows desses três homens e artistas geniais. Cave em Nova York; Ney em São José; e Gil em Brasília. Dos três espetáculos, saí com a poderosa sensação de que a vida é mesmo bonita e vale completamente a pena — se ela for vivida com plena coragem.
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“Carta de intenções”
A Seleção Brasileira continua com problemas. Os laterais mal passam do meio-campo; os apoiadores não têm muita criatividade; falta o atacante-matador. Mas bastaram apenas dois jogos para o italiano Carlo Ancelotti claramente mostrar, como disse o amigo PVC, uma positiva “carta de intenções”.
 
				 
                                    