O preço do hospital de campanha que será montado em Itajaí pelo Governo do Estado para atender pacientes com coronavírus levantou uma série de questionamentos no fim de semana – especialmente após a visita do presidente Jair Bolsonaro a um hospital em Goiás, que teve investimento de R$ 10 milhões do governo federal. A estrutura de Itajaí custará R$ 76,9 milhões, com 100 leitos de UTI e seis meses de uso.

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Nesta segunda-feira (13), os deputados estaduais Ivan Naatz (PL) e Sargento Lima (PSL) enviaram um oficio ao governador Carlos Moisés (PSL), em que pedem que o governo reavalie o contrato e sugerem até o afastamento do secretário de Estado de Defesa Civil, coronel João Batista Cordeiro Júnior. A escolha da empresa Hospital Espírita Mahatma Gandhi para a montagem e operação da estrutura foi questionada na Justiça pela segunda colocada, instituto INCS. Ainda no fim de semana, o Estado analisou os questionamentos e decidiu seguir com a contratação.

Nesta manhã, o secretário falou à coluna sobre a comparação com outros hospitais de campanha pelo país. Segundo ele, os R$ 10 milhões que o governo federal investiu em Goiás servirão apenas para a estrutura física, a montagem das barracas onde será instalado o hospital de campanha. O montante não inclui pessoal e equipamento.

Em Itajaí, de acordo com o secretário, a estrutura física custará R$ 1 milhão. O valor inclui o envelopamento dos 100 leitos de UTI e um sistema especial de ar condicionado, que evita a recontaminação do ambiente com o vírus.

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Essa estrutura faz parte dos R$ 18 milhões previstos, dentro do total de R$ 76 milhões, para os equipamentos. Estão incluídos respiradores para os 100 leitos, e tomógrafo. O aparelho, necessário para a avaliação de comprometimento do pulmão dos pacientes, é montado em uma espécie de contêiner – o tomógrafo precisa de isolamento, com paredes revestidas em chumbo.

– Teremos tudo o que o hospital de campanha precisa para funcionar por 180 dias, com 450 profissionais de diversas áreas. Não só os médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, mas também serviço de limpeza, alimentação dos pacientes e dos profissionais, descarte de lixo hospitalar e lavanderia – enumera o secretário.

Preço por leito

Esse é um ponto delicado da composição de preços. A comparação com Goiás não é possível, mas pode-se fazer um paralelo com o contrato firmado pelo estado do Rio de Janeiro para construir e administrar 1,4 mil leitos, em seis hospitais. O contrato por lá é de R$ 835,8 milhões por seis meses – o que representa um investimento de R$ 99,5 mil por mês para cada leito.

Em Santa Catarina, considerando o valor global, cada leito custará R$ 128 mil por mês. Só que todos são leitos de UTI, diferente do Rio de Janeiro. Por lá, o primeiro hospital de campanha a ser entregue terá 500 leitos simples e 100 de tratamento intensivo.

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Por dia, cada leito no hospital de campanha de Itajaí custará R$ 4,2 mil.

Contratação

O edital de chamada pública para montagem do hospital de campanha prevê que profissionais de SC tenham prioridade de contratação. No entanto, também estabelece que a empresa que vai tocar a estrutura não poderá contratar médicos que já atuam em hospitais públicos.

Segundo o secretário, esse critério foi estabelecido para evitar “concorrência”, uma vez que o Estado também pretende reforçar a própria rede hospitalar com mais leitos de UTI.

Local de instalação

A escolha do Centreventos de Itajaí, o pavilhão da Marejada, foi questionada no fim de semana pelo Convention & Visitors Bureau de Itajaí, que representa o setor do turismo. Em nota pública, a organização afirma que a instalação do hospital de campanha vai inviabilizar eventos na cidade por no mínimo seis meses, e causar prejuízos financeiros irreparáveis.

O secretário de Defesa Civil confirmou que foram avaliados pelo Estado outros dois locais para abrigar o hospital de campanha, o antigo Hospital Santa Inês, desativado, e o Centro de Eventos de Balneário Camboriú, que está em fase de acabamento. Segundo ele, o custo de adaptação seria mais alto do que no pavilhão da Marejada.

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– Tudo foi avaliado, as condições, como estão os locais e o tempo que demoraria pra fazer as benfeitorias – afirmou.

A opção de um local fechado, ao invés de tendas, como no hospital de Goiás, levou em conta a proximidade do inverno.

Por que Itajaí

A escolha da região da foz do Itajaí-Açu para abrigar o primeiro hospital de campanha considerou a necessidade de leitos nas próximas semanas, de acordo com avaliação da Secretaria de Estado da Saúde. Os municípios próximos a Itajaí se comprometeram a reforçar a rede de apoio, com leitos de enfermaria para pacientes de covid-19. Para cada leito de UTI no hospital de campanha, o Estado quer três leitos de apoio nos municípios.

Hospital Marieta

Outro questionamento diz respeito à alternativa de usar o prédio do Complexo Madre Teresa, anexo ao Hospital Marieta, em Itajaí, ao invés do pavilhão da Marejada. O secretário de Defesa Civil afirma que prédio do complexo também será usado, com a ativação de dois andares – o local tem espaço para 500 leitos, mas ainda não foi concluído.

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Ele diz que a avaliação do Estado é de que serão necessárias as duas frentes: o hospital de campanha, e o reforço da rede fixa. No caso do hospital Marieta, a Secretaria da Saúde encontra dificuldade em conseguir equipamentos, como respiradores. No hospital de campanha, segundo coronel João Batista, a empresa vencedora da concorrência tem a obrigação de oferecer todos os aparelhos de imediato.

Dez hospitais de campanha

A Defesa Civil prevê a instalação de até 10 hospitais de campanha como o de Itajaí em Santa Catarina. O processo já está em registro de preços, e avançará conforme a necessidade do Estado. Os primeiros seis foram mapeados para a Grande Florianópolis, Sul, Serra, Extremo Oeste e Norte, na região de Joinville. A previsão poderá ser alterada se alguma região tiver demanda por leitos mais urgente.

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