O deputado estadual de Santa Catarina Jessé Lopes (PSL) envolveu-se em uma nova polêmica no fim de semana. Ao criticar ação do coletivo feminista "Não é Não!", que pela primeira vez atuará em Florianópolis, no próximo Carnaval, Jessé disse que o assédio "massageia o ego".

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O deputado afirmou, ainda, que ser assediada é um "direito" da mulher, e que ações de combate são "inveja de mulheres frustradas por não serem assediadas nem em frente a uma construção civil". Veja trechos da postagem:

Jessé Lopes
Jessé Lopes (Foto: Reprodução)

Jessé Lopes
Jessé Lopes (Foto: Reprodução)

O coletivo feminista pretende distribuir tatuagens temporárias com um recado simples, mas bastante claro: Não é Não!. A ideia é combater as situações de assédio a que mulheres estão expostas. O grupo está em busca de recursos, com ajuda de doações, até o dia 16 de janeiro, por meio de uma plataforma online.

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O texto do deputado foi publicado na manhã de sábado (11) e tinha mais de mil comentários até domingo à noite. A versão original da postagem foi alterada, e o parlamentar acrescentou que se referia a "ser paquerada, procurada, elogiada".

Internauta exposta

Em um dos comentários, uma jovem afirmou: "Eu só consigo sentir muito por todas as pessoas que foram assediadas, e leram esse texto. Queria que fosse uma sátira apenas".

Em resposta, o deputado buscou nas redes sociais da garota uma foto em que ela aparecia com uma roupa decotada, e escreveu: "Nesta foto, não parece que você está muito preocupada com assédio. Inclusive, você é muito bonita. Parabéns".

Jessé Lopes
Jessé Lopes (Foto: Reprodução)

A discussão ganhou nova repercussão, e a jovem, que não quer ser identificada, disse que recebeu uma série de ataques em sua página pessoal.

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No post do deputado, o assunto levou muitos internautas a apoiarem a garota e a acusarem Jessé de importunação e assédio. O parlamentar acabou apagando as mensagens em que expôs a garota. Ela disse, neste domingo, que não quer levar o caso adiante.

— Muitos advogados me procuraram dizendo que poderiam me auxiliar e até mesmo representar sem custo, mas eu não quero me envolver mais. Eu me sinto muito mal com esse tipo de coisa e não acho que tenha emocional o suficiente pra isso. Até mesmo pedi respeito para aqueles que estava xingando o deputado. Não acho que é assim que se resolve as coisas.

Quanto à publicação de sua imagem por Jessé, a jovem diz que achou a atitude "esdrúxula".

— Não pelo "suposto assédio", mas por ter deduzido que com minha roupa, naquela foto, eu estava propícia ou "pedindo" para ser assediada.

Eu só queria expor minha empatia para pessoas que já sofreram qualquer tipo de assédio, e recebi uma resposta de alguém que parece ter 15 anos de idade. Me atacando pessoalmente, em vez de argumentar.

Upiara Boschi: Jessé Lopes é um bom deputado? Não é, não

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O que diz o deputado

Em entrevista à coluna, na noite deste domingo (12), Jessé Lopes disse que fez as afirmações na rede social porque mulheres feministas dão "sentido errado e extremista" ao assédio. Em relação à internauta, afirmou que quis "mostrar que estava certo". A conversa ocorreu por meio de mensagens no celular.

O que o senhor mudou em relação à primeira postagem?

Uma das principais mudanças foi que coloquei o assédio entre aspas, “assédio”. Exatamente por me referir a ele com mesma conotação que muitas delas dão, de forma generalizada, para qualquer ato de investida do homem. Assédio, como crime, não acontece no carnaval…. é uma perseguição de dias, uma importunação da pessoa.

Daqui a pouco vai ter mulher processando homem só porque deu em cima dela, achando que isso de fato é assédio.

O senhor afirma "quem, seja homem ou mulher, não gosta de ser “assediado(a)”. Mas hoje temos o crime de importunação sexual previsto em lei. As críticas afirmam que seu posicionamento naturaliza um comportamento criminalizado. O que o senhor tem a dizer a respeito?

Eu coloquei entre aspas porque, como falei, muitas dentro do movimento dão o sentido errado e extremista do que é assédio.

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Há uma situação específica, em relação ao comentário de uma usuária da rede social, em que acusam o senhor de ter feito um comentário com conteúdo de assédio. O que o senhor diz sobre isso?

Apenas chamei ela de bonita. Exatamente para ver este tipo de reação e mostrar que eu estou certo. Ela comentou em meu texto, se mostrando muito horrorizada. Percebi o tipo de roupa que ela estava usando e entrei no perfil dela e dei print de uma das fotos, onde ela estava sensualizando.

Disse para ela que quem usa roupa assim e expõe nas redes, não está preocupada em ser assediada, seja em qual for o sentido, dar em cima, elogiar ou ser assediada de fato.

Antes que me pergunte, não, não acho que ela mereça ser assediada por causa da roupa. Mas vai chamar a atenção gente inoportuna, mal educada… Assim como ninguém tem o direito de roubar o meu carro só porque deixei a porta do carro aberta. Mas mesmo assim não corro o risco deixando a porta do carro aberta, só porque ninguém tem o direito de roubá-la. Prevenção é importante. Adesivo ou tatoo não vai ajudar ninguém a se proteger de marginal.

Leia também: "Não respeito nem um pouco o movimento feminista", diz deputado Jessé Lopes em entrevista à CBN Diário

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Polêmicas recorrentes

Esta não é a primeira vez que Jessé Lopes se envolve em polêmicas em relação a mulheres. No dia 10 de dezembro, provocou uma nota pública da Bancada Feminina da Assembleia Legislativa, depois de publicar uma lista de “conselhos” que atribuiu a feministas para evitar estupros: deixar os pelos do corpo crescerem, pintar e cortar o cabelo “todo errado”, vestir-se mal, não ir à academia. “Resolvido, agora nem mendigo te olha”.

Em maio, a discussão sobre um projeto de lei de combate ao assédio sexual e à cultura do estupro, na Alesc, levou o deputado Jessé Lopes a afirmar, em plenário, que mulheres deveriam prestar atenção às roupas que usam para não chamarem atenção de estupradores.

— Se quer andar na rua com sua sainha, com seu shortinho, com seu decote, ótimo. Se você quer chamar atenção de estupradores, sabe os riscos que está correndo — afirmou.

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