Santa Catarina tem um problema de relacionamento com o governo federal – e o diálogo interditado começa a cobrar o preço. Nesta semana, dois fatos apontaram nessa direção. O primeiro, e mais estridente, foi a federalização do Porto de Itajaí. Uma decisão estritamente política, como afirma o governador Jorginho Mello e como atestaram todas as fontes técnicas ouvidas pela coluna ao longo dos últimos dias.
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O governo Lula manobrou para não deixar a administração do porto nas mãos do PL, que assumirá o comando do município a partir de janeiro. Jorginho Mello quebrou o próprio padrão e foi ao encontro do ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, em Joinville, para tentar mudar a decisão. Já era tarde.
Uma conversa com o próprio presidente da República, a esta altura, poderia ter mudado o cenário? Difícil saber. É fato que os procedimentos de emergência a que o presidente foi submetido interditaram qualquer intenção de diálogo nos últimos dias. Mas também é fato que o Governo de SC não cogitou procurar esse canal. E as razões são igualmente políticas.
Federalização do Porto de Itajaí fica nas mãos do Advogado-Geral da União
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Outro fato desta semana foi a discussão no Senado, provocada pelo senador Esperidião Amin (PP), sobre a homologação de territórios indígenas em SC, em Palhoça e Abelardo Luz, assinada por Lula no começo do mês – assunto que tem sido alvo de polêmica nas rodas políticas. O senador alega que os atos são ilegais porque desconsideram um decreto que obriga diálogo prévio do governo federal com o Estado. Como se vê, a animosidade, na política, é uma via de mão dupla. Jorginho não vai a Lula; Lula não vem a Jorginho.
O governador prometeu ter uma relação pragmática com o governo federal, de acordo com seu histórico na vida pública. Pressionado pela fatia mais ortodoxa do eleitorado de Jair Bolsonaro, adaptou seu jeito de fazer política à cobrança feroz por isolamento. O problema é que a política isolacionista tem consequências – e elas começam a afetar economicamente o Estado.
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