Opinião
A extinção do Navegay, um dos maiores blocos de Carnaval do país, significa um passo à frente no processo de ‘caretização’ que atinge Santa Catarina. Um curioso fenômeno que ganha força desde que um conservadorismo tacanho, travestido de moralismo, virou moda no Brasil.
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Oficialmente, a decisão do prefeito eleito em Navegantes, Liba Fronza (DEM), prevê o redirecionamento de verbas para a saúde – uma promessa de campanha. O fato é que, para diminuir o aporte de verba pública, bastaria conceder a realização do evento à iniciativa privada.
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A reação ao anúncio do fim do Navegay nas redes sociais juntou muitos arautos dos ‘bons costumes’, incomodados com a festa de Carnaval que atrai mais de 100 mil foliões, e que existe há mais de 40 anos. Entre os críticos, há aqueles que reclamam que o evento “virou parada gay”. Não é verdade. Mas, e se fosse - o que é que tem?
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Santa Catarina é considerada um dos destinos mais gay friendly do Brasil – apesar do papelão de Balneário Camboriú, que todo ano tenta proibir a Parada da Diversidade. Florianópolis, por exemplo, é vista por publicações especializadas como uma das melhores capitais do país para o turismo LGBTQIS+.
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Três anos atrás, isso levou a cidade a figurar entre os destaques brasileiros, selecionados pela Embratur, na 32ª Convenção Anual da International Gay & Lesbian Travel Association, em Los Angeles, nos EUA.
Anos antes, em 2012, a Capital sediou a 29ª Convenção Global da Associação Internacional de Turismo Gay, evento trazido ao Estado pela Embratur, a Santur e o Convention & Visitors Bureau. Trata-se de um mercado que movimenta mais de US$ 200 bilhões no mundo – no Brasil, a estimativa da Embratur é que o público LGBT gasta 30% acima da média em atividades de lazer, arte cultura, entretenimento e vida noturna. E os destinos amigáveis têm preferência.
Contrariando as aparências, Santa Catarina também pode ser nada careta quando se trata de tirar a roupa. Fica no Estado a primeira praia de naturismo do Brasil, em Balneário Camboriú. Desde 1986 a Praia do Pinho é o refúgio de quem pratica o hobby de dispensar o biquíni ou a sunga para um banho de mar. Um direito que foi garantido em lei pelo Estado.
Por essas e outras, julgar que um certo tipo de conservadorismo atrasado esteja no DNA dos catarinense, caro leitor, é um equívoco. Santa Catarina tem suas peculiaridades e tradicionalismos, mas não nasceu retrógrada. Mergulhar o Estado num moralismo de ocasião pode agradar uma parte do eleitorado, mas traz consequências para nossa economia, que tem 12,5% do PIB baseado no turismo. Sem contar que um mundo careta é muito sem graça.
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