A APM Terminals, arrendatária do Porto de Itajaí, anunciou nesta sexta-feira a conquista de três novos serviços que vão dobrar a movimentação do terminal a partir deste mês. Dos atuais 18 mil TEUs _ medida utilizada no trade portuário que corresponde a contêineres de 20 pés _ Itajaí passará para 32 mil. O volume é semelhante ao que o porto operava antes de ser atingido por uma maré de crise no segundo semestre de 2015, quando metade das linhas deixaram o terminal.
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A perda de movimentação teve reflexos importantes em Itajaí. A APM Terminals fechou 2015 com prejuízo de R$ 20 milhões e, com menos cargas no porto, as finanças da prefeitura foram ladeira abaixo. O ICMS reduziu e o ISS caiu pela metade. Junte-se a isso a retração econômica no país, e o cenário de perdas está completo. Decretos municipais de contingência financeira se repetiram desde então.
O quadro torna a chegada dos novos serviços ainda mais significativa. As novas linhas ligam a América do Sul aos Estados Unidos, Costa do Caribe e África. As novas operações já começaram no início do mês: no dia 4 de fevereiro atracou pela primeira vez o navio Login Jacarandá, que opera na Costa Leste da América do Sul. Itajaí, agora, é terminal de transbordo da rota, duas vezes por semana.
Na última terça-feira ocorreu uma nova estreia, com a primeira entrada do serviço Brazex, que oferece transporte de cargas para a Colômbia, Jamaica e Estados Unidos e opera especialmente produtos congelados, uma especialidade do terminal de Itajaí. Na próxima semana será a vez da rota Sanwaf, que liga o Brasil a portos na África. A primeira atracação está marcada para sexta-feira que vem.
Ricardo Arten, diretor-superintendente da APM Terminals no Brasil, credita a conquista das novas linhas à posição logística de Itajaí e a estratégias de mercado, além do alinhamento com os sindicatos dos trabalhadores portuários. Desde 2015, quando foi anunciada a perda de linhas, as negociações de trabalho levaram em conta a necessidade de oferecer preços mais atrativos aos armadores.
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O movimento foi essencial para a recuperação. Por se tratar de um porto público, Itajaí emprega obrigatoriamente trabalhadores avulsos (sem vínculo empregatício) ligados ao Órgão Gestor de Mão de Obra ( Ogmo). É como se fossem profissionais autônomos, que recebem por produção.
A negociação de valores, portanto, depende da aceitação de cada categoria individualmente. Durante o lançamento dos novos serviços, na sexta, foi assinado um protocolo de entendimento com representantes dos sindicatos para oficializar a parceria.
Os novos serviços são operados pelo consórcio CMA CGM, que possui acordos globais com a APM Terminals. A empresa integra o grupo Maersk, a maior empresa de navegação marítima do mundo, que recentemente adquiriu a Hamburg Süd em um negócio de 3,7 bilhões de euros.
Acessos são desafio
A recuperação das linhas no Porto de Itajaí começou em setembro do ano passado, com o retorno do serviço ASAS. É o mesmo serviço que representou a maior perda para o terminal em 2015, quando transferiu as operações para Navegantes.
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A volta dos navios do serviço ASAS foi o responsável por alavancar os números do terminal ano passado e, em quatro meses, levou Itajaí a fechar o ano com 215 mil TEUs movimentados _ 13% a mais do que em 2016.
A linha, no entanto, opera alguns navios que o Complexo Portuário do Itajaí-Açu, que integra os terminais de Itajaí e Navegantes, não tem condições de receber. O tamanho máximo de embarcações que os portos locais recebem hoje é 305 metros. Sete dos 13 navios da linha ASAS são maiores do que isso.
Com isso as atracações, que deveriam ser semanais, ocorrem a cada 15 dias. A negociação prevê que a linha opere totalmente em Itajaí a partir de abril, quando é prevista a conclusão das obras da nova área de manobras, a bacia de evolução, que permitirá entrada de navios de até 336 metros de comprimento.
_ Essa condição é fundamental para mantermos a atratividade do terminal. Em segundo lugar, mas não menos importante, os acessos rodoviários dentro da cidade, permitindo uma integração mais rápida entre a BR-101 e o terminal. Precisamos endereçar isso conjuntamente, empresários, Executivo, Legislativo e comunidade _ afirma Ricardo Arten.
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Hoje, a falta de um aditivo de R$ 25 milhões coloca em risco a continuidade das obras da nova bacia de evolução. Uma reunião, na próxima semana, vai definir se haverá como seguir com os trabalhos se o dinheiro não vier.
Veja quais são os novos serviços:
Atlântico Sul – atende Brasil, Uruguai e Argentina com navios da Login e da Mercosul Line
Brazex – Colômbia, Panamá, Jamaica e Estados Unidos. Operada pelos armadores Merlfi, Maersk Line e Sealand
Samwaf – África do Sul, Congo e Angola. Operação da CMA CGM, NileDutch, Safmarine, Maersk Line, Hapag Lloyd e Hamburg Sud.
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