As tartarugas são de longe as maiores vítimas da mortandade no mar que chegam às praias de Santa Catarina, segundo números do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos, que faz recolhimentos diários entre Laguna e Itapoá. No ano passado 3093 foram resgatadas, e apenas 122 estavam vivas: feridas, debilitadas ou doentes. Esses animais são levados ao Projeto Tamar, em Florianópolis, onde recebem tratamento. Mas apenas 20% sobrevivem para voltarem ao oceano.

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– É muito difícil recuperá-las. Quando o mar joga a tartaruga para a areia, ela já está bem debilitada. Muitos animais chegam em coma – diz a bióloga Camila Trentin.

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Entre os casos mais graves que ela atendeu este ano, no Projeto Tamar, estão três tartarugas-cabeçudas, espécie ameaçada de extinção no Brasil, que chegaram à reabilitação com pneumonia causada pela inteiração com a pesca – o animal, enredado ou preso em anzóis, não consegue subir à superfície para respirar e acaba inspirando água, o que causa a infecção. Uma delas, com outros problemas de saúde, precisou ter uma nadadeira amputada e não sobreviveu.

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A pesca é a principal ameaça às tartarugas marinhas, seguida pelo lixo, que geralmente é confundido com alimento e ingerido. O resultado são malformações ou inanição. Com o estômago cheio de plástico, por exemplo, o animal não consegue digerir e absorver nutrientes dos alimentos. Acaba ficando doente.

Na pesca, o perigo vem em todas as modalidades – desde a pesca industrial, com os anzóis de espinhel que capturam grandes peixes como o espadarte, passando pelas redes de cerco, e também pela pesca artesanal, costeira. A lei proíbe, por exemplo, a instalação de redes “feiticeiras”, um tipo de apetrecho que captura animais junto aos costões. Somente durante o período de pesca da tainha, entre maio e julho, a quantidade de redes ilegais apreendidas pelo Ibama na região de Itajaí encheu três caçambas. Não há dados oficiais sobre o total de apreensões no Estado, já que órgãos federais, estaduais e municipais atuam na fiscalização.

– O pescador não é o vilão, não é vantagem para ele pegar a tartaruga na rede. O que queremos é nos unir pra combatermos isso juntos – diz Camila.

A insistência do Tamar fez com o governo federal publicasse uma portaria que altera o modelo de anzol utilizado na pesca de espinhel de superfície, responsável pela captura incidental de tartarugas em alto-mar. A norma começa a valer em novembro deste ano, quando passará a ser crime ambiental pescar com o anzol convencional. Armadores que já usam o anzol circular, que protege as tartarugas, relatam uma redução de até 60% nas capturas, especialmente a tartaruga-cabeçuda e a tartaruga-de-couro.

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Símbolo de proteção

Entre as que aparecem na praia, no entanto, a maioria são tartarugas-verdes. É dessa espécie a simpática tartaruga do filme “Procurando Nemo”. Infinitamente reproduzida em brinquedos de todos os tipos, ela virou um símbolo de proteção à tartaruga marinha. A realidade, no entanto, é bem menos divertida.

As tartarugas-verdes são animais de hábitos costeiros, que por isso mesmo sentem o impacto direto da atividade humana. Hoje, são consideradas vulneráveis de extinção pelo Ibama. Do total de tartarugas debilitadas ou mortas que chegaram às praias de Santa Catarina, no ano passado, 2618 eram tartarugas-verdes. Um verdadeiro massacre.

– As tartarugas-verdes que morrem na região Sul são animais jovens, que ainda não reproduziram. Elas demoram 30 anos para reproduzir, por isso é importante salvarmos essas jovenzinhas para que tenhamos a espécie no futuro – avalia a bióloga do Tamar.

O projeto realiza em Santa Catarina, em parceria com o ICM Bio, um “censo” de tartarugas-verdes na região de Penha. O local é considerado um dos santuários dessa espécie em Santa Catarina. No entanto, a cidade está entre as que mais registraram mortes de tartarugas-verdes no Estado no ano passado: foram 217, de um total de 242 que chegaram às praias.

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