Apesar da crise causada pela pandemia, a economia global seguirá crescendo este ano, avalia o economista Paulo Leme, presidente do comitê global de alocação da XP e ex-presidente do Goldman Sachs. Ele prevê que o PIB mundial vai recuar em torno de 5% este ano, com recuperação em 2021, cenário que será semelhante para o Brasil.
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O economista, que desde maio atua no escritório da XP na Flórida, onde também é professor de Finanças da Universidade de Miami, participou na tarde desta sexta-feira de live da empresa sobre futuro de investimentos privados. No final, ele respondeu a duas perguntas da coluna. Sobre inflação, disse que também seguiremos a média mundial e falou da alta demanda por dinheiro provocada pela crise e pelo juro zero. Confira a seguir.
Como o senhor vê a retomada do crescimento da economia pós-pandemia no mundo e no Brasil?
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Se você olhar de maneira retrospectiva em março e abril, as avaliações eram bem mais pessimistas em relação à nossa capacidade de conviver com o vírus e, portanto, as previsões que começaram a sair inclusive do Fundo Monetário Internacional e de outras entidades eram muito pessimistas. O resultado não é bom e a perspectiva é de um processo lento de recuperação. Você vai levar pelo menos 18 meses ou até dois anos para voltar ao nível inicial do PIB onde ele estava em fevereiro deste ano.
Mas acho que o ponto mais importante é a nossa capacidade de adaptação como indivíduos, de conviver com o vírus. Isso se percebe nos Estados Unidos. É preciso trabalhar, é preciso viver. Acho que isso leva a uma retomada maior do que se esperava de atividade do que dois meses atrás.
No entanto, você tem riscos de recaída. De vez em quando, áreas ou estados podem ter uma reinfecção ou uma segunda onda e pode ter inclusive uma desaceleração, com a economia se recuperando em formato de W.
A visão é que a economia global vai se recuperar ao longo do terceiro trimestre. Já começou a partir de junho deste ano. Ela perdeu um pouco de força em agosto à medida em que se teve uma complicação no número de casos e vai continuar crescendo no terceiro e quarto trimestres em 2020. Mas, a minha impressão é que não virá tão rápido quanto as revisões mais otimistas indicavam.
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Para colocar tudo em números, acho que teremos uma contração na economia global de 5% este ano e uma recuperação de 4% no ano que vem. No Brasil também com o mesmo processo de recessão este ano, talvez com uma contração de 5%, 6% (do PIB) e se recuperando entre 4% e 5% no ano que vem.
No Brasil, temos pressão nos preços de materiais de construção e de outras matérias-primas. Qual é a expectativa para a inflação?
É uma pergunta interessante. O mundo está muito mais em risco de ter um processo de estagnação, de uma depressão econômica e, portanto, de ter uma deflação do que risco de inflação. É até muito interessante notar que com a própria aversão a risco e razões de precaução você teve uma demanda por efetivo de caixa, ou seja, de dinheiro. Nos Estados Unidos, no Brasil e em vários países você teve uma expansão da oferta monetária gigantesca com taxa de juro zero. Eu acho que não é inflacionário porque essa oferta monetária está sendo absorvida.
Esse que foi um grande erro de 1929, o de não entender que esses choques levam a um aumento tremendo de liquidez. Se você não fornece essa liquidez no mercado, você gera inflação. Então, a inflação mundial deve estar muito mais próxima de 1% este ano do que 2%. Talvez subindo para 1,5%, mas ainda abaixo de 2%. Você vê o Fed (BC dos EUA) lutando para anunciar uma meta de inflação de 2,5% ao ano. Eu acho que ele não vai conseguir.
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E no caso do Brasil, é a mesma coisa. A gente tem uma visão ainda que estamos imunes, desvinculados do mundo. Mas esse é um processo global. O Banco Central corretamente leu uma queda muito importante da inflação. Acho que ela está muito mais para 1% este ano e 2% no ano que vem. Em função disso, eu até me atreveria a dizer que haveria espaço adicional para um pequeno corte da taxa de juros (Selic) pelo Banco Central.