Os sólidos ensinamentos que recebeu do pai quando criança, de que na vida é preciso trabalhar muito, ser honesto e poupar, foram a base para o empresário Alcides Benkendorf fundar a primeira empresa aos 19 anos, após sair do Exército, em Joinville, no Norte de Santa Catarina. Os negócios cresceram e hoje estão reunidos no Grupo Orbenk, um dos maiores do segmento de facilities – terceirização de serviços – do Brasil, que emprega mais de 33 mil pessoas e tem faturamento superior a R$ 1 bilhão por ano.

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A partir da primeira empresa que Alcides Benkendorf fundou em 1971, a Guarda Urbana de Joinville, outras foram abertas à medida que surgiram novas oportunidades. Em 1986, a empresa entrou no segmento de limpeza, mudando o nome para Siban e, em 1998 criou o Grupo Orbenk, iniciais de Organizações Benkendorf, holding que atualmente controla nove empresas.  

Veja fotos da infância e trajetória do empresário Alcides Benkendorf:

Desde 2016, ele preside o conselho do grupo, que tem negócios em 420 cidades de 11 estados. Uma das empresas, a Sepat, do segmento de alimentação, serve mais de 1 milhão de refeições por dia. O grupo atua também em prestação de serviços de segurança patrimonial, monitoramento, zeladoria, limpeza e atividades de apoio. Desde que foi para o conselho, o cargo de CEO é ocupado pelo filho Ronaldo.

Apesar do avanço dos negócios e de ter continuado estudando – cursou economia na Universidade de Joinville, a Univille -, o empresário não perdeu a naturalidade e o foco no trabalho que trouxe da infância. Ele nasceu e cresceu no município de Corupá, é o mais novo de quatro irmãos de uma família de agricultores, descendentes de alemães, poloneses e dinamarqueses.

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Ao falar do êxito da trajetória, ele faz questão de contar sobre a rigidez da educação que recebeu do pai, que ainda faz a diferença na vida dele. Contou que abriu a primeira empresa porque observou uma necessidade no Sul da cidade de Joinville.

Quando concluiu um ano no Exército, onde se formou cabo com louvor, foi morar com o irmão mais velho no bairro Nova Brasília. Saiu de casa à noite com a bicicleta que comprou aos 13 anos para fazer um passeio e observou que alguns jovens faziam barulho na rua Santa Catarina, o que gerava críticas de um empresário do comércio.

No dia seguinte, conversou com o irmão e planejou trabalhar lá como vigilante. Na primeira noite, já conseguiu reconhecimento de um morador, que ofereceu café com lanche.  Depois, outros moradores começaram a remunerar o jovem vigilante. O serviço cresceu e ele contratou o primeiro funcionário, um aposentado que queria deixar de ser vendedor de peixes. Mais tarde, teve mais demanda, contratou mais pessoas e abriu a empresa.

Alcides Benkendorf gosta de contar alguns fatos inusitados da sua trajetória. Um deles foi ter trabalhar no dia do casamento, mesmo sendo dono da própria empresa. Ele disse que a cerimônia foi de manhã e trabalhou à noite. A noiva, primeira esposa, era costureira e é mãe dos três filhos dele. Um dos filhos, o Roberto, faleceu aos 17 anos, vítima de um acidente de automóvel. Mais tarde o casal se separou e ele se casou novamente.  

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Questionado sobre o momento mais difícil da trajetória empresarial, ele disse que foi alguns anos após o início, quando, em função de mudança na legislação para registro nacional de vigilantes que ele não havia ficado sabendo, a Polícia Federal quase fechou a empresa.

E o melhor momento, segundo ele, também foi alguns anos após a abertura da empresa. Aceitou atender multinacional francesa que fez o oleoduto entre São Francisco do Sul, em SC, e Araucária, no Paraná, que garantiu receita acima do esperado.

A qualidade dos serviços do Grupo Orbenk, atualmente, com gestão de pessoas focada no bem-estar dos colaboradores e uso de tecnologias, incluindo inteligência artificial, garante clientes em boa parte das regiões Sul e Sudeste, entre os quais marcas fortes, inclusive de multinacionais. Na lista estão a BMW em Araquari, o Aeroporto Internacional de Florianópolis que é concessão da Zurich Airport e o Senai. A seguir, leia alguns trechos da entrevista de Alcides Benkendorf:

A que o senhor atribui o sucesso que alcançou nos negócios?

– Acredito que tem que existir uma certa preparação na infância. O nosso pai era analfabeto, mas preparou os três filhos para o sucesso. Nossa irmã, como era costume na época, foi preparada para o lar e faleceu frustrada por não ter sido professora. Então, se essa empresa existe hoje é por causa do rigor do nosso pai. Caso contrário, essa empresa não existiria hoje.

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Como o nosso pai nos preparou? Tudo o que a gente perguntava para ele, ele fazia a gente pensar desde cedo. Com sete anos de idade já tínhamos que saber cozinhar feijão, arroz e estudar. Nós produzíamos quase tudo na propriedade, até café.

Pode dar um exemplo de como o seu pai ensinava vocês a pensar?

– Quando eu tinha 13 anos, eu disse a ele que eu precisava de uma bicicleta porque era longe ir a pé para escola. Ele fazia a gente estudar na cidade porque o ensino era melhor que na escola perto da nossa casa. Aí ele disse: claro, meu filho, você precisa de uma bicicleta. Isso é importante para você. Senta aqui que o pai vai te ensinar como você pode comprar uma bicicleta. E foi aí que eu comprei a minha primeira bicicleta que deu início a minha empresa depois.

Ele sugeriu três alternativas para eu comprar a bicicleta com o meu dinheiro. Ele disse: olha, você tem uma poupança, um dinheirinho que você ganha do avô e do padrinho. Você pode, com isso, comprar um porquinho. Você faz uma roça de milho, trata esse porco, quando ele ficar grande você vende e compra uma bicicleta. Você também pode roçar o pasto do vizinho, que ele sempre contrata para roçar.

Ou você pode também fazer roças de arroz e batata e vender a produção. Só tem um detalhe, você tem que lembrar que de segunda até sábado ao meio-dia você trabalha para comer, para dormir e para vestir aqui em casa.

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Você tem sábados à tarde, domingos e feriados para trabalhar para você. Então, comprei a bicicleta cortando o pasto do vizinho e criando o porco. Ainda sobrou um pouco de dinheiro que guardei no colchão dos meus pais.

O senhor abriu a primeira empresa logo depois de sair do Exército. Como surgiu a oportunidade do negócio?

– Depois que saí do Exército, decidi morar em Joinville. Pedi para residir com o meu irmão, que já trabalhava com imóveis na cidade. Ele aceitou me dar moradia e alimentação em troca de serviços externos na casa dele, como cuidar de uns animais.  

Aí comecei a pensar no que poderia fazer. Numa noite, dei uma volta de bicicleta até a Rua Santa Catarina, vi o movimento de uns arruaceiros. Já tinha essas pessoas lá em 1971. E havia uma loja de secos e molhados, vi o proprietário abrir a janela à noite e mandar os meninos barulhentos embora porque ele queria dormir.

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Então, conclui que esse empresário precisava de alguém para cuidar do comércio dele. No outro dia de manhã eu comentei com o meu irmão e falei que eu poderia cuidar disso. Ele falou então que eu precisaria de um cacetete. Fomos até a cidade e compramos um cacetete igual aos usados pela polícia da época.

À noite, eu vesti calça, camisa e boné, todos na cor azul marinho e fui trabalhar sem falar com ninguém.  Os meninos saíram da rua. Abri o portão de um morador que chegou com o carro, ele perguntou o que eu estava fazendo e decidiu me ajudar com lanche e café todas as noites. Uma semana depois, outros moradores começaram a me pagar pelo serviço porque a rua ficou silenciosa.  Mais tarde, abri a primeira empresa com o nome Guarda Urbana de Joinville.

O senhor contou que trabalhou até no dia do casamento. Como foi o dia?

– Nós nos casamos de manhã. Aí teve almoço, café da tarde, juntamos as coisas da festa e fomos para casa, no bairro Nova Brasília. À noite, deixei a esposa em casa, peguei a bicicleta e fui trabalhar. O escritório da empresa era no Centro da cidade, na Rua Alexandre Döhler.

Qual foi o momento mais difícil da sua trajetória empresarial?

– A primeira empresa, a Guarda Urbana de Joinville, funcionou com uma autorização estadual. Todos nossos vigilantes eram registrados na Secretaria de Segurança Pública do Estado. Mais tarde, surgiu a vigilância bancária. Aí o controle das empresas de vigilância passou para a Polícia Federal. Mas eu não fiquei sabendo disso e vigilância bancária não me interessava porque achava perigoso. Eu continuava com vigilantes registrados no Estado.

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Aí, um dia a Polícia Federal veio fiscalizar e queria fechar minha empresa. Eu estava com vários clientes e um projeto para estande de treino de tiro. Consegui negociar para seguir atendendo os clientes. Fui proibido de assumir novos contratos, orientado a abrir uma nova empresa, registrar todos meus vigilantes na Polícia Federal e teria que ter um centro de treinamento. Então, abri uma nova empresa chamada Guarda de Segurança Industrial SC Limitada, contratei todos os guardas nessa empresa e fiz o centro de treinamento.  

E qual foi o melhor momento da sua trajetória empresarial?

– Acho que nós tínhamos uns sete anos de empresa, quando foi construído o oleoduto entre São Francisco do Sul, Norte de SC, e Araucária, no Paraná. Nós fomos contratados para fazer a vigilância e nunca ganhamos tanto dinheiro. A obra estava sendo feita por uma multinacional francesa e nós éramos a única empresa de vigilância de Santa Catarina.

Eu não estava interessado nesse contrato, mas eles insistiram, pediram um orçamento. Tinha que fazer vigilância 24 horas, com 12 horas de cada equipe. Como precisava levar e buscar vigilantes, cobrei mais.

Hoje o senhor é convidado para contar sua trajetória para estudantes universitários e outros grupos. Que conselho o senhor daria para quem quer abrir um negócio novo?

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– Eu voltaria a dar o conselho que meu pai me deu, entende? Do nada se pode fazer muita coisa. Só que o difícil é você praticar isso.

Eu falei algumas vezes sobre o meu case já na faculdade de engenharia, na Associação Empresarial de Chapecó e em outras oportunidades.

Eu costumo fazer uma pergunta: se você está hoje morando debaixo do viaduto porque você não tem casa e, para piorar a situação, você está com a sua esposa e um filho no colo. Os três com muita fome e uma alma bondosa lhe dá R$ 100 reais. O que faria com o dinheiro?

Normalmente a resposta é unânime: comprar comida. Mas eu diria a eles que não fizessem isso. Recomendaria que comprassem uma enxada e se tornassem concorrentes da Orbenk. Com uma enxada, poderiam limpar quintais em troca de alimentos e de remuneração.  

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