Maior acionista individual da BRF – dona das marcas Sadia, Perdigão e Qualy – e cotado para ser o presidente do novo conselho da companhia, o empresário catarinense Luiz Fernando Furlan convocou uma entrevista coletiva via teleconferência na tarde desta terça-feira (17), na condição de conselheiro independente, para falar sobre o impasse na escolha do novo colegiado, previsto para o dia 26 na assembleia geral extraordinária, em Itajaí. Por falta de um acordo entre os fundos Petros, Previ com o Península, do atual presidente do conselho, Abilio Diniz, foi solicitado voto múltiplo ao novo colegiado, a pedido do fundo Aberdeen. Mas, segundo Furlan, isso pode mudar até a última hora. Ele afirmou que está trabalhando para um consenso. Conforme o empresário, o voto múltiplo vai eleger pessoas ligadas a diferentes acionistas, o que pode perpetuar o atual conflito.
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— Eu sou otimista, acho que é possível se chegar a um tipo de acordo. Eu trabalho para isso – afirmou o ex-ministro.
Num tom emocionado, de quem está cansado de ver a BRF nessa tempestade, Furlan abriu a entrevista falando dos seus vínculos com a empresa.
— Me senti na responsabilidade porque acompanho a história da empresa praticamente desde que eu nasci. Fui executivo da Sadia, presidente do conselho por 10 anos, na crise de 2008 voltei à companhia na mesma função, ao mesmo tempo fui um dos negociadores que criaram a BRF e de 2009 a 2011 fui co-chairmann da empresa. Me dói muito, na minha mente, no meu bolso como acionista e também no meu coração ver essa disputa de acionistas que está destruindo valor para a empresa no momento que ela tem outros desafios para negócios e a energia poderia ser condicionada para esse canto – afirmou.
Furlan chamou a atenção para as diferenças do setor, que não é igual a um produto petroquímico, por exemplo. É genética. Informou que a BRF é a maior consumidora de ração, milho e farelo de soja do Brasil. Utiliza quase 1 milhão de toneladas de rações por mês e é a maior compradora de milho do país. Lembrou também que a empresa está presente em todo o Brasil, em mais de 150 países e é o esteio econômico de 300 municípios brasileiros como maior contribuinte e maior empregadora. Abate 7 milhões de frangos por dia e está sendo penalizada por uma denúncia de 2014.
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Nas suas articulações para compor o conselho, Furlan sugeriu três nomes: o do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, da empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, que já foi conselheira da Sadia, e do consultor Vicente Falconi. Questionado, preferiu não comentar sobre outros nomes indicados para o conselho que será eleito na quinta-feira da próxima semana. Como o encaminhamento é para voto múltiplo, o número de conselheiros indicados por acionistas já passa de 15. Se Furlan não conseguir o consenso, haverá a eleição para escolha de 10 desses candidatos.
De acordo com o empresário, não foi ideia de Abilio Diniz, apontado por muitos como o pivô dessa crise, lançar uma segunda chapa para o conselho na reunião dos dias 5 e 6 deste mês.
Questionado se o novo colegiado poderá manter a atual diretoria executiva, Furlan disse que a maioria dos diretores não tem um ano de casa. O novo CEO, José Aurélio Drummond, não completou quatro meses. A proposta que a diretoria apresentou em fevereiro foi aprovada pela totalidade dos conselheiros e o grupo está fazendo um bom trabalho. Drummond esteve em Bruxelas e na Arábia Saudita para reabrir mercados. Furlan disse que, pessoalmente, está muito satisfeito com a atual diretoria e que a empresa carece de reforços nas áreas de marketing e jurídica. Acredita que com um conselho forte, a BRF vai atrair talentos.
Sobre quando a ‘tempestade perfeita’ enfrentada pela empresa vai passar, ele falou com metáforas.
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— Cuido de horta, tenho árvores frutíferas. Em São Paulo ficou oito dias sem chover. Tempestades vêm e vão. O importante é não fazer a casa num baixio – afirmou.
Segundo ele, a casa BRF tem 80 anos, os esteios dela estão intactos e tem os melhores índices sanitários do Brasil reconhecidos pela equipe de sanidade do Ministério da Agricultura. Nos últimos 15 meses, a empresa não teve qualquer problema sanitário, segundo o ministério da Agricultura (Mapa).
Tudo o que saiu de notícia negativa foi requentado de três anos atrás, disse o empresário.
Sobre as razões que levaram a BRF a atual crise com suspensão de exportações de frango para a Europa, queda das ações e operação Carne Fraca, Furlan disse que quando uma empresa é forte, tem um conselho forte, consegue atrair talentos e coloca prioridade nas coisas que são relevantes. Infelizmente, o que vem acontecendo por várias circunstâncias é que a empresa vem sendo desrespeitada por diversos segmentos que interagem com ela.
Pela postura apresentada, Furlan mostrou que tem credenciais para ser o novo presidente do conselho de administração da companhia. Até porque enquanto essa disputa de poder ocorre, a Europa anuncia que vai suspender as importações de frango de 15 plantas da BRF e as ações da companhia caem na bolsa. Nesta terça estavam com queda superior a 3%, mas a entrevista do ex-ministro animou os investidores e os papeis fecharam estáveis, com mais 0,10% de alta.
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