Numa fase de calmaria dos dias que antecedem o Natal, a Tupy SA, de Joinville, anunciou sexta-feira (20) a aquisição da Teksid, a empresa de fundição estrutural global do grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA) por 210 milhões de euros, o equivalente a quase R$ 1 bilhão.
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Esse negócio representa o passo necessário para que a competitiva indústria catarinense Tupy, fornecedora de autopeças para a maioria das grandes montadoras ocidentais de máquinas pesadas e outras soluções, se transformasse num player global do setor. O negócio deve ser finalizado em cerca de seis meses, após análises dos órgãos controladores da concorrência.
Quem esteve à frente das decisões sobre essa aquisição foi o CEO da companhia, Fernando Cestari de Rizzo. Segundo ele, foi possível encontrar a empresa certa, no momento certo.
– A gente tem dado passos seguros, na direção correta, a companhia vem crescendo, está mais sólida, mais competitiva, mais resiliente e mais bem preparada para aproveitar o crescimento do mundo – disse Rizzo para a coluna.
Para lembrar, outra grande aquisição da Tupy foi no final de 2011, quando ela comprou duas fundições no México, num investimento um pouco superior, em valores, ao de sexta-feira.
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Engenheiro graduado pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), com especialização na FGV e em Stanford e MBA pela Indiana University, Fernando de Rizzo desenvolveu carreira na Tupy, onde atua há mais de 20 anos. Trabalhou nas áreas de engenharia e planejamento estratégico. Em 2004 assumiu a vice-presidência de Vendas e Marketing e em 2012, cargo equivalente na Unidade de negócios Automotivos.
Em abril do ano passado assumiu a presidência da empresa que tem como principais acionistas o PBNDESPar e a Previ, e detém tecnologia de ponta para blocos de motor e produtos de usinagem, sendo uma das maiores exportadoras de Santa Catarina. A seguir, confira entrevista de Fernando Rizzo.
O que a aquisição da Teksid, fundição da Fiat Chrysler, representa para a Tupy?
Fernando de Rizzo – É transformacional. A Tupy fortalece a importância que a gente tem construído nos últimos 15 anos. É uma empresa que tem uma estratégia muito bem definida de crescimento. Nós estávamos estudando alternativas há alguns anos e precisávamos combinar três fatores para chegar lá. Teria que ser a empresa certa, com o preço certo e que a Tupy estivesse preparada para fazer esse movimento sem qualquer risco ou indisciplina financeira. Conseguimos dar um passo bastante seguro.
A Teksid tem uma complementariedade extraordinária com a Tupy, o preço foi correto e teremos todo o potencial de crescimento, melhoria de margem que podemos construir nos próximos anos. A gente tem dado passos seguros, na direção correta, a companhia vem crescendo, está mais sólida, mais competitiva, mais resiliente e mais bem preparada para aproveitar o crescimento do mundo. É isso que a gente pretende.
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Continuaremos com a nossa base em Joinville, Santa Catarina, onde está a nossa base de engenheiros, e avançamos em outras regiões do mundo. Também fechamos um acordo de fornecimento com a Fiat Chrysler, uma parceria estratégica que foi anunciada no mundo todo. Para nós, a parceria com a Fiat é muito valiosa. É um selo de qualidade da nossa engenharia, do que nós realizamos.
Quanto tempo vocês trabalharam nesse projeto?
A gente tem trabalhado há mais de cinco anos para identificar os ativos corretos. Vimos diversas alternativas, negociamos, e chegamos ao passo correto. É um negócio bem estudado, para a empresa ser mais competitiva no presente e no futuro. Devemos pensar não só para os próximos cinco anos, mas também para os próximos 25 anos. É um movimento que transforma a Tupy, uma empresa de 81 anos. Torna ela, definitivamente, um player global atendendo diversos mercados do mundo e aplicando toda a tecnologia construída pela empresa nos últimos 80 anos, combinando com uma empresa tão tradicional com a Tupy, que nasceu na Itália. Juntas, vão criar muito valor aos seus clientes e seus acionistas.
O que a Tupy, por meio da Teksid, seguirá fornecendo para o grupo Fiat Chrysler?
Nós vamos fornecer componentes estruturais para picapes e vans e também para outras empresas que produzem componentes de tratores agrícolas, máquinas de construção e caminhões. São diversas aplicações. É um processo bastante amplo de peças estruturais em que a gente vai poder trabalhar com engenharia e incorporar serviços de usinagem que essa empresa não faz. A Tupy é uma fundição que faz serviços de usinagem em produtos e até monta componentes.
Qual será a origem dos recursos para o investimento?
Serão financiamentos estruturados de longo prazo que vamos fazer. A forte geração de caixa nos últimos trimestres e o aumento do Ebitda possibilitou a desalavancagem da companhia para 1,2 o Ebitda que, com esse investimento, subirá para 2,2 vezes. Futuramente, pretendemos alongar essa dívida com uma operação estruturada de bonds no mercado externo. Além disso, o rating de avaliação de risco da Tupy é melhor do que o do Brasil. Nossa nota é BB.
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O que significa ter fábricas na Europa e na China?
Hoje, a Tupy vende em torno de 12% a 14% na Europa. Essa empresa que estamos comprando vende 45% ao mercado europeu. Nós vamos crescer, a Tupy vai ser mais diversificada, mais competitiva e isso favorece os negócios no longo prazo.
O fato de ter uma unidade na china nos coloca no mercado asiático, que tem uma das maiores taxas de crescimento do mundo. Tenho certeza de que toda a empresa ganhará com isso.
Como ficarão os principais números da empresa?
Vamos chegar a um número de 20 mil funcionários, a receita das duas empresas, em 2018, somou mais de R$ 7 bilhões e vamos manter uma participação de receita no mercado externo na casa dos 80%.
Com essa aquisição, onde ficará concentrado o desenvolvimento de inovação da Tupy?
Ficará em Joinville, no México e na Itália.
A Tupy fez outro grande investimento internacional em 2011, quando adquiriu duas fundições no México, do grupo Saltillo. O que diferencia um do outro?
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São investimentos próximos em valores, mas essa operação é maior, gera receita de 526 milhões de euros por ano, o que significa mais de R$ 2 bilhões.
Como está a atividade da Tupy em Santa Catarina?
A gente tem mantido a fábrica operando sempre, estamos operando em três turnos, crescemos, continuamos com atividade exportadora muito forte.