A catarinense BRF, dona da Sadia e Perdigão, anunciou após o fechamento do mercado, o começo das tratativas para um acordo de fusão com a Marfrig, empresa forte no segmento de carne bovina. O prazo de negociações é de 90 dias, podendo ser prorrogado por mais 30.
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Caso o acordo seja firmado, juntas elas formarão uma companhia com receita líquida de vendas próxima de R$ 80 bilhões e será a quarta maior do segmento de proteína animal do mundo, atrás da brasileira JBS, da americana Tyson Foods e da chinesa Smithfield. A BRF fechou o ano passado com receita de R$ 34,5 bilhões e a Marfrig, R$ 41,4 bilhões. Mas como uma atua mais com produtos industrializados e tem mais diferenciais, o valor de mercado é maior, por isso se sair a fusão a BRF vai representar 85% da companhia e a Marfrig, que atua mais com carne in natura, ficará com 15%.
O mercado financeiro foi surpreendido positivamente pelo plano de fusão, que foi anunciado 18 dias antes do término do mandato do ex-ministro Pedro Parente na presidência executiva da companhia – depois ele ficará apenas à frente do conselho e quem assume é o executivo Lourival Luz. Analistas recomendam a compra de ações das duas companhias, que poderão ter valorização acima de 20%, considerando as sinergias entre as duas empresas e o cenário global para carnes em função de doenças como a peste suína africana na China e grive aviária em diversos países da Ásia.
Com a fusão, a BRF também conseguirá resolver o seu maior problema atual, que é o elevado índice de alavancagem (dívida líquida em relação ao Ebitda), que está em 4,6 vezes. Como o da Marfrig é 2,1 vezes, na média ficará em 3,3 vezes.
Vale lembrar que a Marfrig, embora não tenha unidades produtivas em Santa Catarina atualmente, já teve presença muito forte no Estado. Foi a dona da Seara, de 2009 a 2013, sendo que em 2011 adquiriu unidades fabris da Sadia e Perdigão que foram vendidas pela BRF para cumprir as normas da fusão imposta pelo Cade, órgão responsável por zelar pela concorrência. Aliás, essas aquisições endividaram muito a Marfrig, forçando a venda da Seara para a JBS em 2013. A empresa só se recuperou desse endividamento há pouco tempo, com a venda de uma empresa nos EUA, a KeyStone, para a Tyson.
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Além do mercado, que já respondeu com alta das ações, o agronegócio catarinense também gostou do plano. Isso porque via que a BRF teria ainda um longo caminho para ajustar sua situação financeira diante dos estragos causados pela gestão perdulária de Abilio Diniz nos últimos anos. Os executivos dessa gestão acabaram não seguindo as tradicionais normas de qualidade da Sadia e Perdigão, o que resultou em problemas que causaram as operações Carne Fraca e Trapaça, levando a perda de mercados importantes como o da Europa.
Executivos que conhecem a fundo o setor, que já atuaram em diversas agroindústrias catarinenses, recomendam que para a BRF voltar a ter mais solidez precisa retomar aquele zelo com a qualidade dos produtos que tinha desde a fundação da empresa por Atílio Fontana até antes da gestão de Diniz.