No Brasil, de acordo com o censo de 2010, último realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 151.241 homens se chamavam Jair e a maior taxa por cada 100 mil habitantes (179,98) estava em Santa Catarina. É justamente no Estado que o presidente da República Jair Bolsonaro tem um xará especial por uma segunda coincidência: a colostomia.

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O empresário Jair Philippi, 86 anos, quase perdeu a vida devido a uma hemorragia intestinal resultante de pólipos. Mas diferentemente do presidente, a equipe médica de Philippi, ou do "Seu Jair", como é mais conhecido, decidiu não retirar a bolsa de colostomia por causa da idade mais avançada – ele estava com 81 anos – e também porque teve que tirar todo intestino grosso.

Descendente de imigrantes alemães nascido em Águas Mornas, ele cresceu na Serra catarinense, em Lages e Bom Retiro. Aos 14 anos, teve que parar de estudar para trabalhar na serraria da família.

Terceiro de 12 filhos, ele e os dois irmãos mais velhos passaram a ajudar no sustento da casa em função da morte precoce do pai devido a um câncer. Conseguiram formar os nove irmãos e Jair Philippi liderou a abertura de empresas de diversos setores em Bom Retiro e na região de Florianópolis.

Dez delas seguem em atividade, entre as quais a Jair Phillipi Madeiras, Pomesul (de maçãs), firmas de reflorestamento, agricultura e pecuária na serra; em São José estão a Protensul de pré-fabricados de concreto, a JHP de fundações e o Auto Posto JHP; em Palhoça está a Cimenbloc, de pré-moldados; e em Pinhais, no Paraná, a Marna, de pré-fabricados. O grupo de gestão familiar oferece 600 empregos diretos e tem como sócios irmãos, cunhados, filhos e sobrinhos.  

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Na trajetória política, de 1963 a 1976, Jair Philippi exerceu dois mandatos de vereador e um de prefeito de Bom Retiro, quando se destacou fazendo pontes. Casado com Luiza há quase 60 anos, pai de Arno, Luciana, Fernando e Jair, hoje ele reside em Florianópolis e é conselheiro do grupo empresarial que leva seu nome.

Nesta entrevista, Philippi conta que votou em Bolsonaro, dá conselhos ao presidente, fala da colostomia e de economia. Confira:

Qual foi a reação das pessoas ao saberem que o senhor, além do mesmo nome do presidente, enfrentava o mesmo tratamento de saúde?

Foi bom porque a televisão mostrou o que é o processo de colostomia, o desenho, como funciona. Foi dada bastante publicidade ao fato de a pessoa ser colostomizada e poder ter uma vida normal. Eu tive muitas dificuldades pós-operatórias, infecções e até um leve AVC que me deixou com problema de locomoção. Saí do hospital de cadeira de rodas, depois fui para um andador, fiz fisioterapia e hoje caminho com ajuda de uma bengala. Falei com o cirurgião para fazer a reversão, mas ele não recomendou para uma pessoa da minha idade.

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O que o levou à colostomia?

Eu tinha pólipos no intestino grosso, fazia exames periódicos para retirada desses pólipos e, depois de um tempo, demorei mais para fazer essas revisões. Numa sexta-feira, eu fui para a reunião na Federação das Indústrias do Estado (Fiesc) dirigindo. Me senti mal e liguei para a minha filha Luciana, que recomendou ir para o Hospital Baía Sul, onde ela iria me esperar. Fiz o cadastro na recepção, a Luciana chegou e logo após eu desmaiei. Fui para cirurgia e acordei 22 dias depois, na UTI. Num intervalo de lucidez, minha esposa Luiza pediu para eu reagir. Eu disse a ela: não vou morrer, tenho muita conta para pagar (risos). Mesmo assim, quando estava mais difícil, passei orientações para o meu filho Jair.

O senhor votou no Bolsonaro?

Sim. Inicialmente, eu ia votar no Geraldo Alckmin. Era eu quem recomendava candidatos para meus filhos. Desta vez eles pediram para eu votar no Bolsonaro já no primeiro turno porque estavam com medo de nova crise econômica. Eles sentiram o peso da recessão nas nossas empresas.

Quais são as suas expectativas para o governo dele na economia?

Na minha opinião, ele está no rumo certo. Às vezes ele dá umas declarações meio atrapalhadas, mas depois volta atrás. É o jeito dele. Mas, no final, acredito que vai dar certo.

Com base na sua experiência política, que conselhos dá ao presidente?

Eu creio muito que quem auxilia os governantes não deve ser político. Devem ser pessoas com conhecimento nas respectivas áreas sem o interesse político na frente. Do contrário, se sobrepõe a vontade política em detrimento da autoridade. Quando assumi a prefeitura, todos os servidores haviam votado em outro candidato. Eu disse a eles que estava para servir e contaria com o trabalho deles pelo bem do município. Eles colaboraram e eu nunca pedi para mudarem de posição. Nos damos bem até hoje. Quando eu servi ao Exército, um ano, aprendi muito o valor da hierarquia e da disciplina. Bolsonaro tem isso. No geral, o governo está indo bem.

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Por que não continuou na política?

Não era uma carreira. No início fui filiado ao PSD, depois na Arena e agora sou filiado ao PP. Nunca fui candidato de mim mesmo. Sempre participei para contribuir, representando um grupo. Além de prefeito, fui presidente da Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), participei de diversas entidades empresariais e comunitárias. Atualmente sou conselheiro do Sistema Fiesc. Em Bom Retiro, nosso grupo auxilio a Igreja Católica e o hospital local. Os políticos que mais admiro são os ex-presidentes Castelo Branco e Juscelino Kubitschek e os ex-governadores Celso Ramos e Antônio Carlos Konder Reis.

Qual foi o impacto da recessão no seu grupo empresarial?

Foi muito forte. Tivemos que reduzir o quadro de funcionários em várias empresas. De 850 postos diretos reduzimos para 600. Também reduzimos os temporários, que na colheita da maçã chegavam a 900. Demitir um colaborador dói muito no coração e também no bolso. Nós somos muito conservadores com nossos empregados. Temos pessoas com mais de 40 anos de empresa, desde o primeiro emprego. Por isso, não demitimos os mais velhos. Demitimos os mais jovens para preservar aqueles que nos ajudaram a chegar até aqui. Começamos a sentir retração maior da economia em 2015 e ajustamos as contas no ano passado graças à venda de imóveis.

Quais setores se recuperaram primeiro?

A agricultura e a pecuária praticamente não foram afetadas. O setor de madeira teve prejuízos e começou a recuperação no ano passado. Com a produção da maçã, tivemos perdas a partir de 2010 porque o câmbio mudou e não pudemos mais exportar. Hoje, produzimos um pouco, fornecemos serviços de classificação e armazenagem para terceiros. Essa mudança cambial foi o que começou a causar a crise, foi um crime de lesa pátria cometido pelo governo. Por isso o Brasil ainda está com mais de 12 milhões de desempregados.