A região que abrange as duas maiores cidades catarinenses – de Joinville a Florianópolis – conta com economia pujante, diversificada, infraestrutura portuária única e trabalhadores qualificados, o que a coloca como a que tem maior dinamismo econômico e potencial de desenvolvimento na América Latina. Essa avaliação é do presidente reeleito da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Guilherme Bertani. Ele citou esse diferencial no discurso de posse na presidência da entidade segunda-feira (07) e detalhou mais nesta entrevista exclusiva para a coluna.
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– Qual outra região do continente reúne tantas condições? Se olharmos de Curitiba a Florianópolis, é onde as coisas realmente acontecem – afirma o industrial que, atento a isso, alerta sobre a necessidade de desenvolver mais as cidades, a exemplo do que fazem países asiáticos.
Veja mais imagens sobre o evento de possse de Guilherme Bertani na presidência da Acij:
Na entrevista, ele fala também dos avanços do primeiro mandato, no qual a gestão compartilhada acelerou resultados e destaca prioridades dessa nova gestão de um ano: realização do Prêmio de Inovação Acij, reedição do evento “O Norte Encontra o Norte” para impulsionar o desenvolvimento da região, e trabalhar para o norte eleger mais parlamentares em 2026.
O industrial Guilherme Bertani é presidente da Docol desde 2016, período em que a empresa consolidou liderança como maior exportadora de metais sanitários da América Latina e diversificou atividades entrando nos segmentos de pias de aço inox e de louças sanitárias. Graduado em Administração de Empresas pela FGV, com pós-graduação em finanças na mesma instituição e cursos no exterior nas renomadas UC Berkeley, The Wharton School, Harvard e London Business School, ele também é autor de três livros. Com constante atuação na Acij, assumiu o primeiro mandato à frente da entidade em julho de 2024, sucedendo a empresária Margi Loyola. A seguir, a entrevista:
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Na sua avaliação, quais foram as principais conquistas da Acij no seu primeiro ano de mandato?
– Acredito que fomos muito felizes porque toda a Acij entendeu que havia uma grande oportunidade para avançarmos nas propostas da casa. Os vice-presidentes abraçaram as ideias, o que foi fundamental. Com isso, os associados perceberam o valor do nosso trabalho e entenderam que a Acij quer, de fato, participar do desenvolvimento da cidade. Isso nos permitiu aumentar o número de associados. Hoje, temos mais empresas participando ativamente da entidade.
A atuação conjunta dos vice-presidentes também nos trouxe mais dinamismo. Dessa forma, conseguimos atuar em diversas frentes simultaneamente, algo que, no passado, recaía muito sobre o presidente. Hoje, por exemplo, temos o Jácomo Isotton Neto atuando na área de infraestrutura; o Hugo Schneider, também em infraestrutura e meio ambiente; a Margi Loyola, com forte atuação na pauta política. Temos ainda o setor de capital humano, antes com o Guilherme Marcondes da Whirlpool; o André Daher, que cuida das áreas de segurança pública, bombeiros e saúde.
Com essa estrutura, passamos a participar de mais temas relevantes para a cidade e para a sociedade. E os associados perceberam isso, o que os motivou a participar mais ativamente. Nossas plenárias mensais, reuniões noturnas e abertas ao público, têm atraído cada vez mais interessados. Temos trazido temas de grande relevância, como cibersegurança, inteligência artificial e governança. São assuntos muito importantes para os nossos associados.
Além disso, realizamos ações que não estavam no planejamento inicial, como a reforma da fachada da sede e a melhoria das instalações internas. Em vários aspectos, aproximamo-nos da prefeitura para acompanhar os projetos e também estabelecemos um excelente diálogo com o governo do Estado. Eu diria que foi um ano de muita sinergia, que resultou em conquistas importantes para Joinville e para Santa Catarina.
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E para o novo mandato que se inicia, tem projetos o senhor gostaria de destacar?
– Temos três grandes prioridades. A primeira é o Prêmio de Inovação. Sabemos que é por meio da inovação que as empresas se destacam no mercado. Então queremos reconhecer quem já está inovando e incentivar quem ainda não começou. E não se trata apenas de produto, mas também de serviços e processos.
A segunda prioridade é a reedição do evento Norte Encontra o Norte. Realizamos a primeira edição em março e, no início do próximo ano, faremos a segunda. Reunimos empresários, prefeitos das cidades do norte catarinense e representantes do governo do Estado para discutir um modelo de desenvolvimento para a região. Quais são os vetores de crescimento? Em que devemos investir?
Estamos convidando as cidades a se estruturarem para atrair investimentos. Vemos exemplos em todo o mundo, o governador esteve na China, no Japão, e podemos citar também Dubai. Por que essas regiões se desenvolveram tanto em tão pouco tempo? Porque criaram propostas que atraem investimentos em diversos setores da economia, fazendo com que investidores e empresários enxerguem oportunidades claras.
A terceira frente é a política. No próximo ano teremos eleições, e sabemos que o norte de Santa Catarina é sub-representado nas esferas federal e estadual. Por isso, em parceria com outras entidades, como CDL, Ajorpeme, Acomac e OAB de Joinville, queremos sensibilizar a população sobre a importância de votar e transferir seu título eleitoral para a região. Santa Catarina, especialmente Joinville, recebeu muitos migrantes de outras regiões do Brasil.
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No entanto, muitos não transferiram seus títulos para cá, o que enfraquece a representatividade democrática. Além disso, o Estado apresenta índices preocupantes de abstenção nas eleições. Queremos, portanto, mobilizar a sociedade para compreender a importância de exercer o direito ao voto e fortalecer nossa representatividade.
Uma informação que chamou atenção no seu discurso foi quando o senhor disse que a região norte de Santa Catarina, Joinville e cidades vizinhas, pode se tornar a mais dinâmica da América Latina em desenvolvimento econômico. O que vê de potencial nessa perspectiva?
– Nós temos vários pontos. Embora eu não goste muito da palavra, contamos com um ecossistema muito favorável ao empreendedorismo. Joinville e região possuem uma economia bastante diversificada. Temos o setor têxtil, material de construção, serviços em forte crescimento, inovação e tecnologia, ferramentarias voltadas para diversos segmentos econômicos, eletrodomésticos, além do setor de saúde, com destaque para equipamentos médicos. Essa diversidade econômica cria um ecossistema que se retroalimenta.
Diferente de outras cidades em que as empresas esbarram na falta de mão de obra qualificada, aqui em Joinville e na região nós temos profissionais preparados para praticamente todos os setores da economia. Além disso, temos grandes empresas que são consumidoras de produtos, componentes e serviços. O maior exemplo é a WEG, mas há também a Schulz, a Tigre, a ArcelorMittal, entre tantas outras. Temos até a BMW presente na região. Essas empresas demonstram que aqui é um ambiente favorável para se instalar.
Outro ponto importante é a questão portuária. Como destacou o governador, contamos com dois portos próximos, e se incluirmos Paranaguá, são três. Há ainda Itajaí e Navegantes. Que outra região do Brasil oferece essa logística portuária? Para uma empresa global, o norte de Santa Catarina é, sem dúvida, um dos melhores lugares para se instalar.
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Precisamos valorizar isso, mas também preparar as cidades. O investidor busca uma proposta clara, como acontece em locais da China ou do Oriente Médio. As cidades precisam sinalizar para onde desejam crescer, para que os investidores e empresários enxerguem oportunidades concretas e se sintam atraídos a estabelecer seus negócios aqui.
E tudo indica que esse momento de Santa Catarina, especialmente do norte do estado, tende a se acelerar. O próprio sucesso das iniciativas que vêm sendo implementadas comprova isso. Veja o desassoreamento do porto de Itapoá, promovido pelo governo do estado. Esse trabalho permitirá a chegada de navios maiores, o que naturalmente atrairá mais investimentos para a região. Precisamos garantir que todos os avanços aconteçam no mesmo ritmo.
E é isso que vai tornar a região uma das mais dinâmicas da América Latina?
-Sim. Basta pensar: qual outra região do continente reúne tantas condições? Se olharmos de Curitiba a Florianópolis, é onde as coisas realmente acontecem. O Rio Grande do Sul, por exemplo, enfrenta diversos desafios. E, se ampliarmos para a América Latina, quais são os outros grandes centros? Buenos Aires? Montevidéu? Nenhum deles apresenta o parque industrial que temos aqui.
De Florianópolis, com suas empresas de biotecnologia e vacinas, até Joinville, há um polo industrial e tecnológico que poucas regiões podem oferecer. São áreas em que, até pouco tempo atrás, ninguém imaginava que Santa Catarina se destacaria, e hoje estamos nos destacando. Portanto, devemos enxergar essa realidade como uma grande oportunidade de desenvolvimento. É animador ver que o governo do Estado reconhece esse potencial, assim como diversas prefeituras.
E quais são os desafios para avançar nesse cenário promissor?
– Temos dois grandes desafios, são os nossos calcanhares de Aquiles. O primeiro é a mão de obra. O prefeito Adriano Silva, de Joinville, entre outros gestores, está ciente disso e tem trabalhado com políticas de urbanismo para atrair mais pessoas para a região. Um dos obstáculos é a oferta de habitação e o custo dos aluguéis.
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Outro desafio é a infraestrutura. Santa Catarina enfrenta a dificuldade por ter suas principais rodovias sob responsabilidade federal. Quando vamos a São Paulo, ficamos impressionados com a qualidade das estradas, e todas são estaduais. Aqui, infelizmente, deixamos de criar uma malha rodoviária estadual robusta, o que nos deixou dependentes das rodovias federais, que hoje não atendem às necessidades logísticas do Estado.
O governador Jorginho Mello percebeu isso e está se movimentando. Mas ainda enfrentaremos esse gargalo, porque as estradas federais continuarão sendo um canal essencial para o transporte de bens, mercadorias e pessoas. Por isso, precisamos sensibilizar o governo federal a ampliar os investimentos em infraestrutura, para que as nossas estradas tenham, ao menos, condições mínimas de uso, o que hoje não ocorre. Estão, na verdade, sendo sucateadas.
E qual seria a pior rodovia da região?
Sem dúvida, a BR-280 é a mais crítica. E não é apenas a nossa percepção. O próprio Ministério dos Transportes esteve aqui em fevereiro e o secretário executivo George Santoro, braço direito do ministro Renan Filho, afirmou que a BR-280 é a pior estrada da malha federal.
Por que é importante pensar regionalmente?
– Não podemos mais olhar apenas para Joinville. Se Araquari, Itapoá, Garuva, Jaraguá do Sul, Balneário Piçarras e Navegantes crescerem, Joinville crescerá junto. É por isso que criamos o projeto Norte Encontra o Norte. São Bento do Sul, São Francisco do Sul… todo esse Norte precisa ser considerado. Joinville é uma metrópole, e temos aqui uma região metropolitana de fato, que vai de Garuva até Navegantes. Precisamos ter esse olhar integrado.
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