A Eliane Revestimentos Cerâmicos, um dos símbolos da força industrial catarinense e líder nacional no seu setor, acaba de trocar de mãos. Precursora do polo cerâmico do Estado, fundada em 1960 em Cocal do Sul por Maximiliano Gaidzinski, a empresa teve 100% das suas ações vendidas esta semana para a líder mundial em revestimentos cerâmicos, a Mohawk Industries, Inc. do Estado da Georgia, EUA. No comunicado aos parceiros divulgado  sexta-feira, o presidente do conselho da empresa, Roberto Gaidzinski Bastos, e o presidente executivo da companhia, Edson Gaidzinski Jr., informaram que com essa decisão a empresa amplia sua capacidade de crescimento e incorporação de tecnologias e que a atual diretoria será mantida. O valor da transação não foi revelado.

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Este é o segundo grande negócio envolvendo indústrias catarinenses este ano. Esta semana, o Cade aprovou a venda da Embraco, de Joinville, controlada pela americana Whirlpool, para a japonesa Nidec por US$ 1,08 bilhão (R$ 4 bilhões), cuja negociação foi anunciada em abril. Mas enquanto a venda da Embraco teve como razão principal a alta concorrência chinesa, a negociação da Eliane foi uma oportunidade de mercado, me informou uma fonte ligada à empresa. Com governança constituída desde 2006 por meio da holding MG5, as cinco famílias herdeiras do fundador Maximiliano Gaidzinski decidiram que a empresa estaria à venda se surgisse uma boa oportunidade. Por isso agora a oferta da  Mohawk foi aproveitada. Conforme a fonte, a Eliane está alcançando este ano um dos melhores desempenhos da sua história após crescer ano passado 5% e faturar R$ 940 milhões. A empresa tem marca forte no Brasil, onde detém cerca de 8% do mercado, e no exterior onde está presente em mais de 80 países e alcançou ano passado 13% da receita bruta. O endividamento da companhia não é elevado e a margem de lucro está melhor desde que o Brasil adotou medida antidumping em 2014. 
A Mohawk é líder mundial em revestimentos cerâmicos, de vinil e carpetes. Ano passado, faturou US$ 3,4 bilhões (R$ 12,6 bilhões) apenas no setor cerâmico. Além de fábricas nos EUA, tem unidades na Europa, México, Austrália, Nova Zelândia e Rússia, além do Brasil agora (em Santa Catarina e Bahia).  

Este não foi o único movimento envolvendo mudança acionária na Eliane. No final de 2011 a empresa anunciou uma fusão com a Portobello, outra indústria catarinense do setor. Mas em maio do ano seguinte a negociação foi suspensa por falta de consenso sobre o valor da Eliane, que estaria, na época, mais endividada. Em 2015, os Gaidzinski optaram por aporte do fundo Kinea, da família Setubal, do Itaú, que ficou com participação temporária de 25% e está saindo agora porque a Mohwak está comprando 100% das ações. 

A venda da Eliane ocorre seis anos depois de a  família Freitas, da Cecrisa, outra indústria de revestimentos do Sul de SC, ter vendido 70% do capital para o fundo Vinci Partners. A Portobello, de Tijucas, outra grande empresa de revestimentos do Brasil, da família Gomes,  optou por ampliar investimentos após a suspensão da fusão com a Eliane. 
Embora com menor pressão dos fabricantes asiáticos, o setor de revestimentos do Brasil tem concorrência acirrada devido à informalidade, especialmente de fabricantes de São Paulo. Analistas avaliam que o setor necessitaria de uma maior concentração não só no Brasil, mas também no exterior para ter melhor escala e resultados. Tudo indica que isso vai demorar, o que é bom para o consumidor.   

A seguir, o comunicado da Eliane divulgado nesta sexta-feira ao mercado:

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COMUNICADO

A Eliane S/A Revestimentos Cerâmicos comunica aos seus clientes, fornecedores, funcionários e demais stakeholders, que foi aprovado por seus acionistas a venda de 100% de suas ações para o grupo norte americano Mohawk Industries, Inc.
O Grupo Mohawk, além de líder global em revestimentos vinílicos e carpetes, é atualmente a maior empresa do setor cerâmico mundial, com um faturamento bruto de US$ 3,4 bilhões somente neste segmento. Com operações na Austrália, Europa, Malásia, México, Nova Zelândia, Rússia e EUA, entra agora no setor cerâmico brasileiro.
A Eliane, uma das líderes do mercado nacional, ratifica que a perfeita harmonia entre a estratégia e valores compartilhados por ambas as empresas, manterá inalteradas suas práticas comerciais e a estrutura de marcas, assim como a sua missão e valores que sempre nortearam a conduta da empresa ao longo de seus 58 anos de existência. Informa, igualmente, que a atual equipe gestora da companhia será mantida.
Com esta mudança de controle acionário a Eliane dará seguimento ao seu planejamento estratégico, mas amplia a capacidade de implementar os seus planos de crescimento e incorporação de tecnologia, mantendo o compromisso de sempre ofertar aos clientes produtos da mais alta qualidade, inovadores e com soluções completas.
Os acionistas, a Família Gaidzinski e Fundos Kinea, agradecem a todos os funcionários, clientes, fornecedores e demais parceiros que participaram com dedicação na construção desta jornada que culmina agora, com a transição para este novo estágio das Empresas Eliane.

Roberto Gaidzinski Bastos
Presidente do Conselho de Administração

Edson Gaidzinski Jr.
Diretor Presidente