Máquinas da Secretaria de Serviços Urbanos já chegaram ao topo do Morro do Gato, em Blumenau, para limpar a estrada fechada há 12 anos por deslizamentos de terra. Iniciada segunda-feira (17), essa é a primeira fase da reabertura do que vereadores e prefeitura chamam de Ligação Velha-Garcia. Mas basta um olhar atento ao projeto para compreender que o nome é um exagero retórico.

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Ainda que seja viável reabrir a estrada, ela jamais funcionará como a sonhada conexão entre duas das regiões mais populosas da cidade. O que os blumenauenses terão de volta é uma rua vicinal de terra, distante dos principais corredores da Velha e do Garcia e frágil do ponto de vista geológico.

A prefeitura estima o custo da reabertura em, no máximo, R$ 2 milhões. Reconhece que o ideal seria construir um túnel em outro ponto, mas ele custaria 50 vezes mais. Segundo o diretor-geral da Secretaria Municipal de Obras, o plano é usar serviços e materiais já previstos em licitações vigentes e recursos do próprio município.

— Faremos uma obra funcional, prática e justa para os cofres públicos — garante.

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Depois da limpeza, virão dois desafios: adequar o alto da Rua Antônio Zendron a um trânsito mais frequente, incluindo a troca de um pontilhão de madeira, e recuperar os deslizamentos de terra no antigo acesso, destruído pelas chuvas torrenciais de novembro de 2008.

Essa última e mais complexa etapa será planejada conforme avança a limpeza da via. Os projetos de contenções de encostas devem ser elaborados por engenheiros da própria secretaria. Segundo Maiochi, não serão necessários licenciamentos ambientais por tratar-se de via já existente — uma lei aprovada em julho deste ano reconheceu trechos da passagem que ainda não tinham nome.

Máquinas estão limpando a via, interditada desde 2008
Máquinas estão limpando a via, interditada desde 2008 (Foto: Divulgação)

Localização

O Morro do Gato separa o Valparaíso da Velha Grande. São bairros distantes do que se poderia chamar de centro do Garcia e da Velha, as regiões populosas que aguardam uma conexão direta há décadas. Ele servirá para evitar as filas no Centro da cidade, mas não deve seduzir muitos motoristas.

Para quem está no Terminal do Garcia, são 4,5 quilômetros até o antigo acesso, subindo a Antônio Zendron, uma rua residencial que vai estreitando à medida em que se inclina. No lado da Velha, desde a saída da Rua Willi Henkels até a General Osório, são mais 5 quilômetros.

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A distância, somada às limitações da estradinha, sempre fizeram dela acesso secundário, desconhecido para a maioria. Apesar disso, o movimento era crescente, segundo Jackson Kister, que viveu no Morro do Gato até 2008 e ainda mantém propriedade no local.

— Até 2007 tinha muito caminhão de entrega, muita gente que trabalha nos dois lados. Mas nunca foi uma via rápida — recorda.

Kister não pretende habitar o local e nem construir, mas está satisfeito em ver o lugar em que cresceu acessível outra vez. Ele apenas teme ocupações irregulares no morro — já houve tentativas no ano passado.

Lama e pó

Para uma via que pretende ligar bairros com dezenas de milhares de habitantes, o Morro do Gato deixa a desejar. Mesmo depois das melhorias, o caminho continuará sem asfalto ou calçamento. A estradinha é sinuosa, com barrancos dos dois lados e, na parte mais alta, só passa um carro de cada vez.

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— É só comparar com a Nova Rússia. Lá também temos diversos trechos em que um carro tem que dar a vez ao outro para passar. Mas nem por isso deixamos de arrumar quando há um deslizamento — defende Maiochi.

A comparação com o alto da Nova Rússia é precisa. O motorista que planeja usar a futura ligação deve levar em conta um cenário como o da região das Minas da Prata.

Fragilidade do solo

Em novembro de 2008, a Rua Antônio Zendron virou rio e o barro cobriu diversos acessos. No Morro do Gato, o deslizamento foi tão sério que, à época, a prefeitura de Blumenau decidiu não reabrir a estrada.

Essa fragilidade geológica, apontada nos mapas de riscos de desastres, reduz a margem de manobra para se alargar a via e urbanizá-la. O risco de novos deslizamentos de terra é muito alto, principalmente no lado do Valparaíso.

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No fim de semana passado, o blumenauense Samuel Salvaro pedalou pelo Morro do Gato e registrou em fotos e vídeos o estado do lugar. Em um trecho, a trilha virou córrego. Há muitas pedras e poucos sinais de estrada.

Embora esteja preocupado com o futuro do lugar, Salvaro aposta num aumento do uso da estrada por ciclistas, porque diminuirá o nível de dificuldade.

Para os ciclistas, a “trilha do Gato” vai virar estradão. Para os motoristas, a Ligação Velha-Garcia não passará de Morro do Gato.