A abertura da economia brasileira no início da década de 1990 sacudiu o setor têxtil blumenauense. A entrada de mercadorias estrangeiras no país ameaçava o poderio do segmento, um dos pilares do desenvolvimento regional. Muitas empresas locais não suportaram a concorrência externa e sucumbiram no decorrer dos anos seguintes. Outras, instigadas pela iminente necessidade de ampliar a produtividade e a competitividade dos negócios para garantir a própria sobrevivência, precisaram se reinventar. Hoje as mais bem-sucedidas indústrias do ramo que aqui permanecem são completamente diferentes do que 30 anos atrás: terceirizam atividades que demandam mão de obra intensiva, desenvolveram canais próprios no varejo e mais recentemente vêm investindo fortemente em produção de moda, agregando um valor às peças que principalmente os asiáticos (ainda) não entregam.

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Fechamento da Cristal Blumenau expõe momento de fragilidade do setor na cidade

Por que os cristaleiros não seguiram o mesmo caminho? Embora existissem desafios semelhantes entre os setores, sobretudo no que diz respeito à importação em massa de produtos mais baratos, há diferenças pontuais que explicam o sucesso de um e o fracasso de outro. Um deles é a própria proporção das atividades. Sempre houve muito mais indústrias têxteis do que de cristais na cidade, o que garantiu maior poder de mobilização privado e governamental para não permitir que o segmento ruísse.

O setor de cristais também tem várias peculiaridades: produção essencialmente artesanal, impossível de ser terceirizada, altíssimos custos de mão de obra, carga tributária incompatível com a atividade e concorrência desleal com peças em vidro, muito mais em conta – e o consumidor nem sempre percebe à primeira vista a diferença entre um e outro na prateleira da loja ou do supermercado. Um conjunto de fatores explosivo, que associado à incapacidade gerencial de vislumbrar alternativas para esse cenário fez com que os grandes expoentes do ramo fechassem as portas um a um.

Não adianta mais, porém, apontar o dedo e buscar culpados. Nem é a hora. É preciso entender que a atividade econômica evolui e se transforma a todo instante e que setores antes tradicionais e unânimes darão espaço a novas alternativas. Trata-se de um ciclo benéfico e necessário para o desenvolvimento, embora não se dispense uma boa dose de saudosismo e lamento para que não nos esqueçamos da nossa história.

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