A Restoque colocou o prédio da Dudalina às margens da BR-470, em Blumenau, à venda. Quem passa pela rodovia avista uma placa, logo na entrada, denunciando a disposição da empresa em se desfazer do imóvel que tem, conforme o anúncio, 9 mil metros quadrados de área construída em um terreno de 53 mil metros quadrados. Empresários da região já foram consultados para saber se havia interesse no espaço.

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A decisão não surpreende porque o grupo varejista, que em 2014 adquiriu o controle acionário da camisaria fundada em Luiz Alves e também é dono das marcas Rosa Chá e Le Lis Blanc, vem promovendo uma reestruturação interna há vários meses, com redesenho de operações e fechamento de lojas e fábricas para enxugar custos e aumentar a eficiência dos negócios.

No caso das operações da Dudalina em Santa Catarina, esse movimento começou a ganhar força no início do ano passado, com demissões na planta de Blumenau e o início da transferência de alguns setores, como a expedição, para a unidade da companhia em Aparecida de Goiânia (GO).

Em julho, a Restoque comunicou o encerramento das atividades nas fábricas de Benedito Novo e Presidente Getúlio, também no Vale. Cerca de 430 pessoas foram desligadas. Não houve problemas com o pagamento de direitos trabalhistas e um acordo com os sindicatos laborais garantiu um salário extra aos funcionários. Na época, a companhia disse à coluna, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria se manifestar.

Em dezembro, acionistas do grupo varejista decidiram por unanimidade extinguir a Dudalina como empresa. Na proposta que foi levada à votação em assembleia, a companhia alegou que a medida visava “a unificação e centralização das atividades da Dudalina e da Restoque de forma a racionalizar operações, otimizar a administração e minimizar despesas mediante economia de escala”.

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Ainda conforme a Restoque, o movimento revelava-se “conveniente levando-se em consideração os custos sempre crescentes de se manter duas estruturas societárias distintas e potencial eficiência fiscal decorrente da unificação das empresas”.

O prédio na BR-470 já está vazio. A Restoque ainda mantém uma unidade de costura em um galpão da empresa na Rua Arno Delling, no Distrito Industrial, no bairro Itoupavazinha. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Blumenau (Sindivest), Júlio José Rodrigues, lá continuam trabalhando em torno de 250 pessoas. Mas não se sabe até quando. Internamente, o clima é de angústia e apreensão com o futuro.

Em Luiz Alves, a operação segue ativa. Procurada pela coluna para comentar as mudanças, a Restoque disse que não iria se manifestar.

Mais vantagens

Desde a concretização da venda da Dudalina, há cerca de quatro anos, funcionários e até mesmo o Sintex têm relatado dificuldade de comunicação com os novos donos. Três influentes pessoas ligadas ao ramo têxtil da região ouvidas pela coluna, porém, confirmam rumores que correm nos bartidores de que a Restoque planeja levar todas as operações físicas da marca para o Centro-Oeste.

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Há pelo menos três fatores que justificam a mudança de rota: o custo mais barato de mão de obra naquela região, o melhor posicionamento geográfico para a distribuição dos produtos e os altos incentivos fiscais oferecidos pelo Estado goiano – tão bons que a Restoque, segundo uma fonte do setor, nem teria tentado negociar mais vantagens com o governo local para manter as operações em Santa Catarina.

— É o que acontece com a venda do controle de empresas para fundos. Eles não têm a cultura e o envolvimento de quem nasceu na região. Para eles é mais um negócio — analisa um importante empresário do segmento local.

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